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Covid: 300 mil beb�s deixaram de nascer no Brasil por pandemia, com adiamentos e mais div�rcios

Avan�o do coronav�rus impactou fortemente n�o s� a mortalidade, mas tamb�m a natalidade - e fez at� a popula��o de dois Estados encolher momentaneamente; dem�grafo entrevistado pela BBC News Brasil explica efeitos da pandemia sobre a popula��o brasileira.


14/07/2021 13:19 - atualizado 15/07/2021 11:04

Pandemia afetou não só a nossa taxa de mortalidade, mas também de natalidade(foto: Getty Images)
Pandemia afetou n�o s� a nossa taxa de mortalidade, mas tamb�m de natalidade (foto: Getty Images)

A pandemia de covid-19 est� tendo efeitos nada desprez�veis na demografia brasileira e mundial, embora os impactos de longo prazo dependam, na pr�tica, de quanto tempo levaremos para conter de vez o coronav�rus.

S�o menos beb�s nascendo, mais div�rcios e, tristemente, um n�mero impressionante de mortes: 195 mil mortos oficialmente contabilizados no Brasil em 2020, e mais 338 mil mortos em 2021 at� agora. O total j� ultrapassa 536 mil.

Esse cen�rio fez com que n�o se cumprissem as previs�es populacionais feitas previamente para 2020 e 2021, como observa Jos� Eust�quio Diniz Alves, doutor em demografia e pesquisador aposentado do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica).

Diniz Alves analisou o comportamento da popula��o brasileira no �ltimo ano e meio e identificou fatos importantes - alguns deles in�ditos em um pa�s que cresce sem parar desde que foi colonizado pelos europeus, cinco s�culos atr�s.

Confira alguns deles:

1) Menos nascimentos, ou nada de "baby boom" at� agora

Quem imaginava que o enclausuramento provocado pela pandemia provocaria um "baby boom" se enganou, explica Diniz Alves � BBC News Brasil.

"A pandemia provocou uma queda na natalidade no mundo inteiro", diz. "Quem p�de adiar a maternidade, no caso de casais jovens, adiou. (...) Mesmo que tivesse havido mais sexo (entre pessoas quarentenadas em casa), hoje em dia existe uma separa��o entre sexo e reprodu��o. Houve muito medo de a mulher gr�vida ficar doente, medo de o hospital estar sobrecarregado. Basta adiarem-se 20% dos nascimentos para haver um impacto grande na taxa de natalidade."

Esse impacto j� foi sentido em 2020, de gesta��es possivelmente adiadas logo nos primeiros meses do ano. Enquanto houve em 2019, quase 2,8 milh�es de beb�s nascidos no pa�s, no ano passado esse n�mero caiu para pouco mais de 2,6 milh�es, segundo o Portal da Transpar�ncia do Registro Civil.

Se considerarmos que a proje��o do IBGE era de que o Brasil teria 2,9 milh�es de beb�s nascidos no Brasil em 2020, tivemos, na pr�tica, 300 mil beb�s a menos do que o esperado.

E Diniz Alves explica que essa redu��o deve se aprofundar ainda mais neste ano, porque os adiamentos de gesta��es provavelmente continuaram ao longo do ano passado e do primeiro semestre deste.

O aumento no n�mero de div�rcios (15% a mais apenas no segundo semestre de 2020, em rela��o ao mesmo per�odo de 2019) e a queda no n�mero de casamentos tamb�m contribuem para menos concep��es de beb�s.

Vale lembrar que esse fen�meno n�o � in�dito: por exemplo, quando eclodiu a epidemia de s�ndrome cong�nita da zika em beb�s, entre 2015 e 2016, tamb�m houve um recuo moment�neo na natalidade do Brasil, diante do medo das mulheres em engravidar.

A expectativa, prossegue Diniz Alves, � de que, passado o coronav�rus, a taxa de natalidade brasileira volte aos patamares anteriores � pandemia, na casa dos 2,8 milh�es de beb�s por ano.

Uma ressalva: isso � muito abaixo dos 4 milh�es de beb�s que nasciam anualmente no Brasil na d�cada de 1980 - e a responsabilidade � da transi��o demogr�fica brasileira, sobre a qual falaremos no final desta reportagem.

População cresceu bem menos do que o previsto pelos demógrafos; São Paulo (acima), por exemplo, teve seu menor crescimento populacional em décadas(foto: Getty Images)
Popula��o cresceu bem menos do que o previsto pelos dem�grafos; S�o Paulo (acima), por exemplo, teve seu menor crescimento populacional em d�cadas (foto: Getty Images)

2) Crescimento da popula��o bem menor do que o previsto

Antes de a pandemia eclodir, o IBGE havia projetado que o Brasil veria sua popula��o aumentar em 1,574 milh�o de pessoas no ano passado.

No entanto, diante da baixa na taxa de natalidade, das mortes por covid-19 e da sobrecarga do sistema de sa�de, o pa�s terminou 2020 com 1,159 milh�o de pessoas a mais, segundo o Portal da Transpar�ncia do Registro Civil.

"Portanto, a grosso modo, podemos dizer que o impacto da pandemia foi reduzir o crescimento populacional em 415 mil pessoas em 2020", explica Diniz Alves.

Isso deve se intensificar neste ano: com ainda mais mortes por covid-19 do que no ano passado e menos nascimentos, "o Brasil deve ter 1 milh�o de pessoas a menos do que estava previsto nas proje��es do IBGE para 2021", prossegue o dem�grafo.

3) RJ e RS: os Estados onde a popula��o chegou a encolher

Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, os Estados com maior propor��o de popula��o mais velha, registraram mais mortes do que nascimentos entre janeiro e maio de 2021.

Foi uma varia��o breve e tempor�ria - decorrente, obviamente, do pico de mortes por covid-19 -, mas muito importante: trata-se da primeira vez que isso acontece na hist�ria do pa�s.

"� uma grande e in�dita novidade para a demografia brasileira, (...) que tem uma hist�ria de 521 anos de crescimento demogr�fico cont�nuo e ininterrupto", escreveu Diniz Alves em artigo.

Eis os dados: segundo o Portal da Transpar�ncia do Registro Civil, o Estado fluminense teve 79.038 nascimentos e 79.570 �bitos de 1� de janeiro a 29 de maio deste ano.

Ou seja, houve uma redu��o vegetativa de 532 pessoas no per�odo, explica o dem�grafo.

No Rio Grande do Sul, foram 53.832 nascimentos no per�odo, e 54.218 �bitos. Na ponta do l�pis, uma popula��o com 386 pessoas a menos.

Homenagem a vítimas da covid-19 em Copacabana; Estados do RJ e RS chegaram a ter mais óbitos do que nascimentos nos primeiros meses deste ano(foto: EPA)
Homenagem a v�timas da covid-19 em Copacabana; Estados do RJ e RS chegaram a ter mais �bitos do que nascimentos nos primeiros meses deste ano (foto: EPA)

A expectativa de Diniz Alves � de que a popula��o desses Estados termine o ano de 2021 praticamente "empatada", sem decr�scimos ou aumentos consider�veis.

4) SP: o menor crescimento em d�cadas

O caso fluminense e ga�cho � �nico, mas outros Estados brasileiros viram suas popula��es morrerem como nunca antes por causa da covid-19 - ao mesmo tempo em que os nascimentos nunca foram t�o baixos.

Vejamos o caso de S�o Paulo, que lidera, em n�meros absolutos, as mortes por covid-19 no pa�s. Um levantamento da associa��o de cart�rios (Arpen-SP) mostrou que, no primeiro semestre deste ano, morreram 248 mil pessoas no Estado, n�mero recorde e 84% acima da m�dia para o per�odo.

Os nascimentos, por sua vez, foram 12% menores do que a m�dia: 277 mil. Trata-se, ent�o, do menor crescimento populacional em d�cadas no Estado paulista.

5) Brasileiros vivem quase dois anos a menos do que antes

Em entrevista � BBC News Brasil em abril, a dem�grafa M�rcia Castro, professora da Faculdade de Sa�de P�blica de Harvard (EUA), apontou que a pandemia fez o brasileiro perder quase dois anos de expectativa de vida em 2020.

Em m�dia, beb�s nascidos no Brasil em 2020 viver�o 1,94 ano a menos do que se esperaria se n�o tivesse havido a pandemia. Ou seja, 74,8 anos em vez dos 76,7 anos de vida anteriormente projetados.

A queda interrompe pela primeira vez um ciclo de crescimento da expectativa de vida no pa�s que havia se iniciado em 1945, quando nossa esperan�a de vida era de 45,5 anos em m�dia.

Ser� que essa queda na expectativa vai ser revertida no p�s-pandemia? Jos� Eust�quio Diniz Alves explica que alguns dem�grafos acreditam que sim; outros, como ele, s�o mais c�ticos.

Temos um alto n�mero de brasileiros infectados com o coronav�rus - mais de 19 milh�es de pessoas -, e uma parcela deles pode sofrer da chamada covid longa, que s�o as complica��es de longo prazo na sa�de provocadas pela covid-19.

Esse impacto da covid longa na mortalidade � que vai influenciar se os �bitos v�o voltar aos patamares anteriores, pr�-pandemia, ou continuar a sofrer as influ�ncias dela, opina Diniz Alves.

Homenagem aos mais de 500 mil mortos de covid-19 no Brasil; pandemia reduziu nossa expectativa de vida em quase dois anos(foto: Reuters)
Homenagem aos mais de 500 mil mortos de covid-19 no Brasil; pandemia reduziu nossa expectativa de vida em quase dois anos (foto: Reuters)

6) Um poss�vel impacto sobre a transi��o demogr�fica

Mesmo antes da pandemia, a popula��o brasileira j� estava em transi��o demogr�fica e tornava-se cada vez mais envelhecida - ou seja, est� diminuindo a propor��o de crian�as e jovens enquanto aumenta a propor��o de adultos idosos.

As proje��es indicam que, por volta de 2047, as curvas de natalidade e de �bitos v�o se encontrar. � a partir da� que a popula��o brasileira deve come�ar a encolher: vai nascer menos gente do que vai morrer anualmente.

A covid-19 antecipou momentaneamente esse fen�meno, explica Diniz Alves, embora a expectativa � de que esse impacto da pandemia seja tempor�rio.

Mas tudo vai depender de o quanto conseguiremos, de fato, controlar o coronav�rus.

"O efeito da pandemia � conjuntural, mas pode manter os �bitos elevados e a natalidade mais baixa, dependendo do p�s-pandemia - se ela acabar de vez, � uma coisa. Se (a covid-19) virar algo end�mico, da� o efeito na popula��o pode ser mais permanente", afirma o dem�grafo.

Com ou sem pandemia, precisamos nos preparar para um pa�s diferente

De qualquer modo, essa transi��o demogr�fica prevista para se completar em 2047 est� em curso - e esse curso dificilmente ser� alterado. O que significa que precisaremos adaptar as pol�ticas socioecon�micas para um pa�s que ter� menos crian�as e mais idosos.

Isso j� ocorre em pa�ses mais desenvolvidos e envelhecidos, como Jap�o e Coreia do Sul - neste �ltimo, antigas escolas infantis, que haviam perdido a serventia, est�o sendo adaptadas para servir a idosos, por exemplo.

Maternidades tendem a ser fechadas em pa�ses onde h� menos nascimentos. E a Previd�ncia Social sente o baque, quando h� menos jovens contribuindo para o bolo e mais aposentados necessitando de dinheiro de aposentadoria.

Novamente, essa tend�ncia de desacelera��o no crescimento populacional n�o � exclusiva do Brasil: deve acontecer tamb�m em outras partes do mundo, da China � Europa Oriental, salvo algumas exce��es (como a �frica Subsaariana, onde o crescimento populacional deve se manter).

Mas com um planejamento respons�vel e com pol�ticas focadas no bem-estar das pessoas, a redu��o populacional tende a ser ben�fica para o planeta em geral, opina Jos� Eust�quio Diniz Alves.

"Essa ideia que vem desde a Revolu��o Industrial (em meados do s�culo 18) de que � bom crescer sempre e ter mais coisas � incompat�vel com os recursos da Terra e com as outras esp�cies, pela press�o enorme sobre o meio ambiente", explica.


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