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Estado de Minas

Covid no Brasil: por que �ltimos dias de setembro s�o decisivos para futuro da pandemia

Especialistas dizem que atual cen�rio da covid-19 no pa�s � positivo, mas que � preciso acompanhar de perto o que vai acontecer no final deste m�s para ver como curva de casos e �bitos seguir� at� o final do ano.


27/09/2021 05:48 - atualizado 01/10/2021 12:47

Homem de touca e máscara olha para o horizonte. Ao fundo, o Cristo Redentor
Apesar de queda constante nos registros de infec��es e �bitos relacionados ao coronav�rus, acontecimentos recentes podem alterar perspectivas de controle da pandemia (foto: Getty Images)

O final de setembro � marcado pelo fim do inverno e o in�cio da primavera no Hemisf�rio Sul. Mas, em 2021, esse per�odo tamb�m pode estar relacionado a outra mudan�a significativa, ao menos no Brasil: especialistas indicam que os pr�ximos dias ser�o decisivos para entender o futuro da pandemia de covid-19 por aqui.

E isso tem a ver com uma s�rie de fatores que ocorreram nas �ltimas semanas e que podem ter influ�ncia direta no n�mero de casos, hospitaliza��es e mortes pela doen�a provocada pelo coronav�rus.

Falamos aqui de aglomera��es registradas em protestos, eventos e viagens, o menor impacto da variante Delta no Brasil, o avan�o da vacina��o e at� o al�vio em algumas medidas restritivas que foram mantidas por cidades e Estados nos �ltimos meses.

Por ora, as estat�sticas trazem certa esperan�a: desde junho, as m�dias m�veis de casos e �bitos por covid-19 caem constantemente. Mesmo assim, os �ltimos dias foram marcados por ligeiros aumentos nesses �ndices.

"De uma maneira geral, podemos dizer que o cen�rio est� cada vez melhor, ap�s aquele per�odo de caos na sa�de que vivemos entre mar�o e maio", destaca o epidemiologista Paulo Petry, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Mas ser� que os gr�ficos seguir�o nessa trajet�ria de queda daqui para frente? E o que cidad�os e gestores p�blicos deveriam fazer agora para manter essa onda de boas not�cias?

Onde estamos?

O primeiro semestre de 2021 foi marcado por uma segunda onda alt�ssima de infec��es e �bitos por covid-19 no Brasil. Os sistemas de sa�de de v�rias cidades entraram em colapso e n�o existiam vagas suficientes para suprir a demanda de novos pacientes.

No auge da crise, o pa�s chegou a registrar m�dias m�veis de 77 mil novos casos e 3 mil mortes pela doen�a todos os dias. N�o � toa, o pa�s foi classificado como o epicentro da pandemia naquele momento.

Na virada para o segundo semestre, essas curvas come�aram a cair, embora tenham se mantido em patamares muito elevados durante os meses de julho e agosto.

Mais recentemente, ao longo do m�s de setembro, as m�dias m�veis estavam na casa dos 14 mil novos casos e 500 �bitos por covid-19 n�meros que chegam a ser seis vezes menores do que o registrado l� no pico da segunda onda.

O que explica essa queda t�o grande? O pesquisador em sa�de p�blica Leonardo Bastos, da Funda��o Oswaldo Cruz (FioCruz), destaca o papel das vacinas.

"O que aconteceu nesse meio tempo foi a vacina��o, que teve um efeito muito claro e impressionante. Vimos uma redu��o consistente nos casos e nos �bitos", analisa.

A campanha de imuniza��o contra a covid-19 come�ou em janeiro e fevereiro de 2021, mas os primeiros meses foram marcados pela escassez de doses, que serviram para proteger apenas a camada mais vulner�vel da popula��o, como os idosos e os profissionais da sa�de.

No meio do ano, a chegada de milh�es de unidades de imunizantes permitiu incluir praticamente toda a popula��o adulta brasileira na campanha no in�cio de setembro, muitos prefeitos e governadores comemoraram o fato de que praticamente 100% dos cidad�os acima de 18 anos j� haviam recebido ao menos a primeira dose que protege contra o coronav�rus.

Pessoas de máscara em fila para vacinação. Ao fundo, placa escrito
Ades�o dos brasileiros � campanha de vacina��o foi muito mais alta do que o observado em partes dos EUA e da Europa (foto: Getty Images)

No momento, cerca de 70% de todos os brasileiros j� tomaram a primeira dose e 40% completaram o esquema vacinal (com a segunda dose ou com a vacina da Janssen, que exige apenas uma aplica��o).

E aqui pesou bastante o fato de o Brasil ser um dos locais do mundo onde h� grande aceita��o dos imunizantes. Em partes dos Estados Unidos e da Europa, a campanha de vacina��o at� come�ou bem, mas esbarra atualmente numa parcela da popula��o que se recusa a tomar as doses.

Uma nova subida?

Apesar da queda sustentada nos n�meros durante os �ltimos meses, algumas estat�sticas mais recentes, colhidas nos �ltimas dias, mostram um ligeiro aumento nos casos e nas mortes por covid-19.

Na segunda quinzena de setembro, a m�dia m�vel de mortes voltou a ficar acima de 500 por dia no Brasil no in�cio do m�s, essa taxa estava na casa dos 400.

Outra coisa que chamou a aten��o foi a inclus�o repentina de dados que estavam represados em alguns Estados. S�o Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, inclu�ram 150 mil casos de covid-19 "atrasados" no sistema de vigil�ncia.

Isso fez com que a m�dia m�vel de casos explodisse de um dia para outro: segundo o site do Conselho Nacional de Secret�rios de Sa�de (Conass), essa taxa estava em 14 mil no dia 17 de setembro e pulou para 34 mil em 18/9.

De acordo com informa��es divulgadas pelas pr�prias Secretarias Estaduais de Sa�de, o e-SUS Notifica, a plataforma onde esses n�meros s�o registrados, passou por atualiza��es e ajustes.

Com isso, as equipes respons�veis por realizar a notifica��o encontraram algumas dificuldades nos �ltimos dias. A expectativa � que as curvas voltem a se normalizar em breve, mas � preciso acompanhar se isso realmente acontecer� ou teremos efetivamente um novo aumento entre o finalzinho de setembro e o in�cio de outubro.

7 de setembro

Manifestação do dia 7 de setembro
Manifesta��es do dia 7 de setembro foram marcadas por aglomera��es (foto: Getty Images)

Ainda entre as poss�veis amea�as com potencial de quebrar essa sequ�ncia de boas not�cias, os especialistas chamam a aten��o para o que ocorreu no feriado do dia 7 de setembro.

"Nesta data, tivemos manifesta��es em v�rias cidades do pa�s e muitas pessoas tamb�m aproveitaram para viajar", destaca o virologista Jos� Eduardo Levi, coordenador de pesquisa e desenvolvimento da Dasa.

Em locais como Bras�lia, S�o Paulo e Rio de Janeiro, centenas de milhares de brasileiros se reuniram para demonstrar apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em setembro, tamb�m ocorreram manifesta��es contra o presidente.

"E n�s vimos pelas imagens que as pessoas estavam aglomeradas e muitas n�o usavam m�scara" complementa o cientista, que tamb�m faz pesquisas no Instituto de Medicina Tropical da Universidade de S�o Paulo (USP).

A janela entre o contato com o coronav�rus e o desenvolvimento da covid-19 costuma demorar at� 15 dias. Ou seja: se alguns indiv�duos que estiveram aglomerados no dia 7 de setembro se infectaram e criaram novas cadeiras de transmiss�o a partir dali, os efeitos pr�ticos disso s� ser�o sentidos do dia 22/9 em diante.

"O �ltimo feriado foi a prova dos noves. Os eventos ocorreram em plena circula��o da variante Delta e precisamos ver como isso repercutir� na pandemia a partir de agora", completa Levi.

A Delta triunfou ou refugou?

Ilustração do sequenciamento do vírus
Variante Delta foi identificada no fim de 2020 e causou enorme estrago em v�rias partes do mundo (foto: Getty Images)

Falando em variantes, um terceiro aspecto que ajuda a explicar os n�meros recentes tem justamente a ver com a Delta, que surgiu no final de 2020 e causou (e ainda causa) um enorme estrago em v�rias partes do mundo, como �ndia, Indon�sia, Reino Unido, Israel e Estados Unidos.

As novas ondas de casos e mortes relacionadas a essa nova linhagem viral no mundo deixaram os pesquisadores brasileiros de cabelo em p�: o que impediria a Delta de provocar o mesmo problema em nosso pa�s?

Alguns grupos de pesquisa que fazem a vigil�ncia dos coronav�rus que est�o em circula��o mostraram que essa variante se tornou dominante em algumas cidades, como S�o Paulo e Rio de Janeiro, a partir de agosto.

Mas, felizmente, a realidade contraria essas expectativas e n�o houve um aumento das interna��es e mortes por covid-19 no Brasil, pelo menos at� agora.

"Em locais como Londres, Nova York e Israel, passaram-se cerca de dois meses entre a chegada da Delta e um grande aumento no n�mero de casos de covid-19", calcula Levi.

"As proje��es matem�ticas indicavam um cen�rio catastr�fico para o Brasil tamb�m. Mas essa variante foi detectada aqui no come�o de junho, ent�o a explos�o de casos deveria ocorrer em agosto. J� estamos no final de setembro e os n�meros n�o subiram", conclui.

Mas como explicar isso? Por que essa variante n�o foi um bicho de sete cabe�as at� agora no Brasil, como se esperava?

De acordo com os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, h� algumas teorias que podem ajudar a entender esse fen�meno.

O primeiro deles � novamente o avan�o da vacina��o: apesar de as doses dispon�veis perderem um pouco da efetividade contra a Delta, elas continuam a funcionar relativamente bem, especialmente contra as formas mais graves da covid-19, que exigem hospitaliza��o e intuba��o.

Profissional da saúde trabalha com paciente em maca ao fundo
A taxa de ocupa��o de leitos por covid-19 no Brasil tamb�m caiu consideravelmente neste segundo semestre, apontam os boletins da FioCruz (foto: Getty Images)

O segundo motivo est� relacionado �quela segunda onda de casos que acometeu o pa�s entre mar�o e maio.

"Tivemos muitas pessoas infectadas, ent�o ainda h� uma resposta imune natural relacionada � variante Gama, que foi respons�vel pelo pico registrado no primeiro semestre", contextualiza Levi.

Juntos, esses dois ingredientes podem ter feito com que uma parcela consider�vel da popula��o brasileira ainda tenha um bom n�vel de anticorpos, seja pela vacina��o ou pela infec��o natural (que, ali�s, nunca � desej�vel, pois isso est� relacionado ao aumento de mortes). E, por sua vez, essa soma de fatores poderia ter sido capaz de barrar uma nova onda de infec��es pela Delta.

Vale refor�ar aqui que essas s�o apenas suspeitas e ainda n�o existem evid�ncias cient�ficas s�lidas para confirmar a liga��o entre essas duas coisas.

Para onde vamos?

Num cen�rio positivo, mas com algumas incertezas importantes, os especialistas entendem que � preciso observar o que acontecer� nas pr�ximas semanas antes de ter a certeza de que o pior j� passou.

A epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Esp�rito Santo (Ufes), pondera que a pandemia no Brasil parece estar sempre atrasada em rela��o ao que ocorre em algumas partes do Hemisf�rio Norte.

"At� o momento, as curvas epidemiol�gicas da covid-19 nos Estados Unidos e na Europa se repetiram algumas semanas depois em nosso pa�s", lembra.

E a situa��o de momento nesses locais n�o � das melhores: com o avan�o da Delta e as dificuldades em convencer parte da popula��o a tomar as vacinas, o n�mero de casos e mortes voltou a subir de forma consider�vel por l�. Em terras americanas, por exemplo, j� s�o registrados mais de 2 mil �bitos por covid-19 todos os dias, de acordo com os �ltimos boletins.

Ser� que o mesmo cen�rio vai acontecer no Brasil? Ningu�m sabe. "Dada nossa cobertura vacinal, a tend�ncia � que a gente mantenha essa queda nos dados ou a situa��o se estabilize num certo patamar de casos e mortes", projeta Bastos, da FioCruz.

"Agora, n�o temos certeza se esse patamar ser� 'aceit�vel' ou ainda estaremos com muitas hospitaliza��es e mortes por infec��es respirat�rias todos os dias", completa.

Falamos aqui de probabilidades. E � preciso ter em mente outras coisas que podem aparecer pelo caminho, como o surgimento de uma nova variante ainda mais potente que a Gama ou a Delta e com capacidade de driblar completamente as vacinas.

"Uma coisa que aprendemos durante essa pandemia � o quanto o coronav�rus � imprevis�vel, portanto n�o podemos cantar vit�ria ainda", concorda Levi.

O efetivo controle da pandemia depende do engajamento da popula��o, que precisa ir aos postos de sa�de para tomar a primeira, a segunda ou, se for o caso, a terceira dose dos imunizantes.

Fila para vacinação no Rio de Janeiro
� importante que todas as pessoas voltem ao posto para tomar as doses de vacina preconizadas para proteger contra as formas mais graves de covid-19 (foto: Getty Images)

"Tamb�m devemos tomar muito cuidado com as medidas n�o farmacol�gicas, como usar m�scaras de qualidade e evitar aglomera��es", diz Maciel.

"N�o podemos cometer o mesmo erro dos Estados Unidos, que retirou a obrigatoriedade das m�scaras e precisou voltar atr�s logo depois. Retomar essas pol�ticas � sempre muito dif�cil", diz a epidemiologista.

Petry entende que as reaberturas anunciadas por Estados e munic�pios do Brasil tamb�m precisam ser feitas aos poucos e com muito cuidado. "A flexibiliza��o precisa ser gradual, e n�o aquele oba-oba que vimos na Europa", conta.

"E os gestores precisam sempre acompanhar os n�meros e ter pulso para agir a tempo caso percebam uma piora", sugere o epidemiologista da UFRGS.

No reino das incertezas, ser� necess�rio aguardar as pr�ximas semanas de setembro e outubro para entender se o futuro da pandemia no Brasil ser� marcado por frustra��o ou esperan�a.


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