
Sob o impacto da pandemia de covid-19, 27 dentre 29 pa�ses estudados tiveram uma queda expectativa de vida para ambos os sexos de 2019 a 2020, com exce��o das mulheres na Finl�ndia e de homens e mulheres na Dinamarca e na Noruega.
Mulheres em 15 pa�ses e homens em 10 pa�ses acabaram com uma expectativa de vida menor ao nascer em 2020 do que tinham em 2015.
E os Estados Unidos sofreram as maiores quedas, com recuos de mais de dois anos para os homens, segundo dados analisados pelos pesquisadores do Centro de Ci�ncias Demogr�ficas Leverhulme, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Essas redu��es, explicam os especialistas, s�o atribu�das principalmente ao aumento da mortalidade em pessoas com mais de 60 anos e �s mortes registradas oficialmente por covid-19 (por causa da subnotifica��o, o volume desses �bitos pode ser muito maior).
A pandemia teve um "impacto bastante consider�vel e sem precedentes" nas taxas de mortalidade e expectativa de vida, diz Ridhi Kashyap, professor de demografia social da universidade e um dos principais autores do estudo.
Perdas de mais de um ano s�o particularmente incomuns. "Isso � algo que realmente n�o temos desde a Segunda Guerra Mundial para a maior parte da Europa Ocidental, e desde a dissolu��o da Uni�o Sovi�tica, na d�cada de 1990, na Europa Oriental", afirma Kashyap.
Dada a gravidade da pandemia de covid-19, a surpresa n�o � pela queda generalizada na expectativa de vida, diz o coautor do estudo, Jose Manuel Aburto, mas a "a magnitude da queda".
Os EUA foram particularmente afetados porque as taxas de mortalidade de covid-19 foram altas na popula��o em idade ativa, em vez de se limitarem � popula��o idosa, um padr�o visto em v�rios pa�ses do Leste Europeu e at� certo ponto na Esc�cia.
Em compara��o, as mulheres na Finl�ndia e ambos os sexos na Dinamarca e na Noruega mostraram ligeiros aumentos na expectativa de vida, e pa�ses como a Est�nia e a Isl�ndia tiveram pequenas perdas.

No Reino Unido, a expectativa de vida dos homens caiu pela primeira vez em 40 anos. Em geral, esses �ndices aumentam com o tempo, e as quedas s�o raras. E isso n�o deve parar por a�.
Especialistas dizem ainda que outras quedas na expectativa de vida podem ocorrer nos pr�ximos anos, antes que esse indicador comece a se recuperar.
Desigualdade
Outro "resultado alarmante", explica Aburto, � a diferen�a que existe entre os pa�ses, ou seja, a pandemia afetou de forma distinta os pa�ses desenvolvidos, assim como v�rias na��es inclu�das na pesquisa.
"Os EUA s�o um pa�s que se considera desenvolvido, mas tamb�m s�o um pa�s com muita desigualdade, e isso se reflete nesse patamar de queda acentuada de expectativa de vida".
Embora o estudo tenha permitido observar que "a maior parte das perdas na expectativa de vida se deveu � mortalidade ocorrida acima de 60 anos", Aburto explica que pa�ses como os EUA viram "a mortalidade de adultos jovens tamb�m contribuir muito para esse decl�nio na expectativa de vida".
Para o especialista, diversos motivos podem explicar as diferen�as do impacto da pandemia nesses lugares. "Cada pa�s agiu de maneira diferente em rela��o � pandemia. Por exemplo, houve pa�ses que seguiram interven��es n�o farmac�uticas com mais rapidez e efic�cia, como lockdowns, uso obrigat�rio de m�scara e assim por diante".
Al�m disso, diz Aburto, outro fator fundamental � a qualidade dos servi�os de sa�de, e "isso tamb�m se reflete negativamente no caso dos EUA".
'Efeito de sobreviv�ncia'
Apesar do nome, esses n�meros da expectativa de vida, conhecidos como "expectativa de vida de per�odo", n�o preveem uma expectativa de vida real. Em vez disso, mostram a idade m�dia que um rec�m-nascido viveria se as taxas de mortalidade atuais continuassem por toda a sua vida.
E como as taxas de mortalidade da covid-19 n�o devem continuar a longo prazo, as novas estimativas n�o significam que um menino nascido em 2020 ter� uma vida mais curta do que um menino nascido em 2019.

Mas eles fornecem um instant�neo do efeito da pandemia que pode ser comparado ao longo do tempo e entre pa�ses e diferentes popula��es.
E assim que a pandemia acabar e "suas consequ�ncias para a mortalidade futura forem finalmente conhecidas, � poss�vel que a expectativa de vida volte a uma tend�ncia de melhora no futuro", diz afirma a estat�stica Pamela Cobb, do ONS (org�o brit�nico de estat�sticas).
Pode at� haver uma recupera��o no primeiro ano ou logo depois gra�as ao que os dem�grafos chamam de "efeito de sobreviv�ncia".
"Essencialmente, isso significa que voc� perdeu uma grande parte de sua popula��o mais fr�gil e tem agora uma popula��o sobrevivente mais saud�vel. Ent�o voc� esperaria matematicamente que houvesse menos mortes no per�odo que se segue", afirma o especialista em avalia��o de risco Stuart McDonald, cofundador do Grupo de Resposta de Atu�rios da Covid-19.
Mas, segundo ele, h� ainda uma s�rie de lacunas para an�lises de longo prazo menos incertas. Por um lado, novas ondas de variantes do coronav�rus, covid longa, decl�nios econ�micos e atrasos no tratamento de c�ncer e outras doen�as graves t�m o potencial de manter baixa a expectativa de vida no Reino Unido, diz McDonald.
De outro, o avan�o dos programas de vacina��o, um melhor conhecimento do controle de infec��es em massa e um maior foco na sa�de podem ajudar na recupera��o dos �ndices de expectativa de vida.
"A expectativa de vida volta � sua trajet�ria original e continua aumentando ou aumenta do ponto mais baixo? Vou fazer o hedge: acho que � um pouco dos dois. Na minha opini�o, e no consenso emergente na profiss�o atuarial, � que, mesmo em uma base de longo prazo, isso � um resultado negativo l�quido, o que significa um crescimento mais lento", conclui McDonald.
Impacto no Brasil
A pesquisa publicada na revista especializada International Journal of Epidemiology analisou informa��es dos seguintes pa�ses: Espanha, Su��a, Fran�a, It�lia, Finl�ndia, Su�cia, Portugal, Noruega, Isl�ndia, �ustria, Eslov�nia, B�lgica, Chile, Gr�cia, Alemanha, Holanda, Inglaterra e Pa�s de Gales, Dinamarca, Est�nia, Irlanda do Norte, Rep�blica Tcheca, Cro�cia, Pol�nia, Estados Unidos, Litu�nia, Esc�cia, Eslov�quia, Hungria e Bulg�ria.
Aburto, da Universidade de Oxford, explica que o estudo se concentrou nesses 29 pa�ses porque havia dados dispon�veis para eles, divididos por idade, e isso permitiu fazer uma an�lise da expectativa de vida.
O Chile � uma exce��o na Am�rica Latina em quest�es de dados de sa�de consistentes e de qualidade. "No contexto latino-americano, mesmo que um pa�s forne�a informa��es em tempo, os dados de mortalidade tendem a apresentar falhas que devem ser corrigidas antes de se fazer c�lculos comparativos, como essee da expectativa de vida".

Embora o estudo tenha se concentrado em 29 pa�ses, os autores observam que "evid�ncias emergentes de pa�ses de baixa e m�dia renda (como Brasil e M�xico), que foram devastados pela pandemia, indicam que as perdas na expectativa de vida ainda podem ser maiores em essas popula��es".
Em abril de 2021, uma equipe de pesquisadores liderados pela dem�grafa M�rcia Castro, professora da Faculdade de Sa�de P�blica da Universidade Harvard, apontou que o brasileiro perdeu quase dois anos de expectativa de vida em 2020 por causa da pandemia de covid-19.
Em m�dia, beb�s nascidos no Brasil em 2020 viver�o 1,94 ano a menos do que se esperaria sem o quadro sanit�rio atual no pa�s. Ou seja, 74,8 anos em vez dos 76,7 anos de vida anteriormente projetados. Com isso, a esperan�a de longevidade dos brasileiros retornou ao patamar de 2013.
A queda interrompe um ciclo de crescimento da expectativa de vida no pa�s, que partiu da m�dia de 45,5 anos, em 1945, at� atingir os estimados 76,7 anos, em 2020, um ganho m�dio de cinco meses por ano-calend�rio.
O estudo, ainda em vers�o pr�-print (sem revis�o pelos pares), indica tamb�m que a pandemia reduziu de modo desigual a expectativa de vida a depender da regi�o do pa�s.
Os pesquisadores descobriram que o Distrito Federal, onde est� a capital do pa�s, registrou o pior resultado: ali, a expectativa de vida recuou em mais de 3 anos. O DF foi seguido por tr�s Estados do Norte: Amap�, com queda de 2,98 anos na expectativa de vida, Amazonas, com perda de 2,92 anos, e Roraima, com redu��o de 2,74 anos. Na outra ponta, entre os Estados que menos perderam na expectativa de vida em 2020, est�o v�rios nordestinos, como Maranh�o, Piau� e Bahia, os tr�s abaixo de 1,49 ano de redu��o na expectativa de vida.
Mas os dados podem ser na verdade piores do que essa estimativa. "A gente sabe que houve muita dificuldade de acesso ao teste de covid-19, subnotifica��o e muita morte pelo novo coronav�rus que n�o foi registrada dessa maneira", explica Castro.
*Com informa��es da BBC News Brasil e da BBC News Mundo
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