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Estado de Minas

Por que o nariz 'entope' quando estamos com gripe, resfriado ou covid

Por que a lista de poss�veis causas de um nariz entupido ou congestionado � t�o grande? � recomendado tentar desobstru�-lo com descongestionantes e lavagens com soro ou fazer isso mais atrapalha que ajuda? E afinal, por que o nariz reage desse jeito?


12/01/2022 16:19

Mulher assoa o nariz
Por que a lista de poss�veis causas de um nariz entupido ou congestionado � t�o grande? (foto: Getty Images)

Fuma�a de cigarro, poeira, mudan�a do tempo, frio, rinite, sinusite, polui��o, umidade, ar seco, p�len, forte odor, gravidez, gripe, resfriado, covid-19 Por que a lista de poss�veis causas de um nariz entupido ou congestionado � t�o grande? � recomendado tentar desobstru�-lo com descongestionantes e lavagens com soro ou fazer isso mais atrapalha que ajuda? E afinal, por que o nariz reage desse jeito?

Primeiro � preciso entender o complexo papel do nariz no sistema respirat�rio humano. Ele principalmente filtra, umedece e aquece (com o calor de vasos sangu�neos) o ar inspirado para que chegue da melhor forma aos pulm�es, de onde o oxig�nio ser� distribu�do para o resto do corpo por meio do sangue.

O otorrinolaringologista Renato Roithmann, diretor-presidente da Associa��o Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia C�rvico-Facial, explica em entrevista � BBC News Brasil que o nariz � respons�vel por equilibrar o ar que inspiramos para a temperatura corporal. "� o nosso termostato (dispositivo que regula a temperatura). O nariz aquece o ar e produz muco para nos defender." E n�o � pouco: a mucosa nasal costuma produzir quase 1,5 litro por dia de secre��o para manter as vias a�reas �midas e ajudar a barrar e descartar part�culas ou micro-organismos filtrados tamb�m por p�los nasais.

"Quando olhamos a mucosa (a pele que reveste o nariz) no microsc�pio, parece um tapete, porque � cheia de pelinhos, que s�o os c�lios. Eles ficam batendo para transportar essa secre��o. Parecem algas no fundo do mar quando os vemos varrendo em dire��o � garganta", afirma a otorrinolaringologista Renata Lopes Mori, da cl�nica Otorrino Experts.

Mas nem sempre o nariz passa ileso ao desempenhar essas fun��es, e � a� que ele pode acabar entupido ou congestionado com tanto muco que �s vezes ele escorre (coriza). Mori explica as diferen�as sutis entre essas duas rea��es, que podem acontecer ao mesmo tempo no caso de doen�as como gripe, resfriado ou covid-19.

No caso do nariz entupido (ou obstru�do), conta Mori, isso ocorre pelo incha�o da mucosa, principalmente em uma estrutura na regi�o inferior do nariz chamada concha nasal. "Ela � um epit�lio que aumenta e diminui. Mas quando ele inflama, pode aumentar muito e acabar entupindo o nariz."

A congest�o, explica ela, se d� quando o batimento dos c�lios diminui e a secre��o se acumula e se condensa no nariz. Tomada por esse muco, a mucosa nasal fica inflamada, com vasos sangu�neos inchados.

Em geral, esse excesso de muco � produzido pelo corpo como uma rea��o imunol�gica posterior � invas�o bem-sucedida daqueles micro-organismos que conseguiram ultrapassar a barreira nasal e causar doen�as nos pulm�es, por exemplo. Um dos pap�is dessa secre��o nesse caso � combater novos invasores. Estima-se que pelo menos metade das pessoas resfriadas tenham o nariz escorrendo como um dos sintomas. Por outro lado, o excesso de muco correndo na dire��o oposta, ou seja, a garganta, pode causar inflama��es e tosse.

Al�m disso, estima-se que 2 em cada 100 infec��es virais nessa regi�o resultem numa infec��o bacteriana porque o muco e outros fluidos acumulados criam um lugar prop�cio para a prolifera��o de bact�rias.

E a� surgem as d�vidas: � recomendado usar rem�dios ou fazer lavagens com soro fisiol�gico para lidar com nariz obstru�do/congestionado, ou � melhor deixar que a situa��o "volte ao normal" no nariz naturalmente depois de o sistema imunol�gico derrotar os invasores em outras partes do corpo?

Homem espirra
Estima-se que pelo menos metade das pessoas resfriadas tenham o nariz escorrendo como um dos sintomas (foto: Getty Images)

Descongestionantes nasais: benef�cios e riscos

Como mostrado acima, a congest�o nasal pode ocorrer em resfriados ou alergias, por exemplo, em que a secre��o sai sem que se perceba. Mas h� momentos em que o corpo n�o consegue eliminar todo esse muco nasal e muitas pessoas recorrem aos descongestionantes vendidos em farm�cias.

H� dois tipos principais deles: os que s�o administrados diretamente no nariz e os que s�o administrados pela boca (em forma de xarope ou comprimido). Em geral, esses medicamentos t�m um papel de contra�rem os vasos sangu�neos do nariz (vasoconstri��o), melhorando o inc�modo da congest�o e ajudando a respirar melhor.

Mas essa melhora n�o � natural, j� que foi obtida pelo produto farmac�utico, ent�o o al�vio (benef�cio para algumas pessoas) � tempor�rio. Um tempo depois, os vasos sangu�neos do nariz voltam a dilatar e a congest�o volta. A partir da�, h� um vaiv�m de contrair e descontrair os vasos do nariz que para algumas pessoas � sin�nimo de al�vio.

Apesar dos benef�cios envolvidos, h� tamb�m diversos riscos, principalmente para crian�as, gr�vidas, lactantes e idosos.

"Os orais s� s�o liberados em crian�as a partir dos 4 anos de idade. Alguns seguem o crit�rio de que s� pode usar a partir de 6 anos, mas dependendo das formula��es s� podem ser usados a partir de 12 anos. Al�m disso, � proibido o uso de descongestionantes orais em gr�vidas e lactantes. Os de uso t�pico, em forma de gota, eventualmente se pode usar. O problema � que eles funcionam t�o bem que a pessoa tem a tend�ncia de come�ar a usar excessivamente porque na gesta��o normalmente o nariz fica mais congestionado, e a� pode entrar a quest�o da depend�ncia", afirma Roithmann, da Associa��o Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia C�rvico-Facial.

Segundo o otorrinolaringologista, gestantes e lactantes devem conversar com seus m�dicos sobre o uso desse tipo de medicamento, mas, "de maneira geral, n�o se usa descongestionantes nem t�picos (aplicado no local), nem sist�micos (medicamentos orais) em gestantes e lactantes."

H� duas sa�das poss�veis para gr�vidas e lactantes, sugere Roithmann. Uma � a lavagem nasal (leia mais abaixo) e a outra � o uso de medicamentos anti-inflamat�rios de uso t�pico, que tamb�m podem ser usados de forma segura na rinite da gesta��o e durante o per�odo de lacta��o. Mas � importante ressaltar que eles n�o s�o descongestionantes.

Homem de perfil espirra
� recomendado tentar desobstru�-lo com descongestionantes e lavagens com soro ou fazer isso mais atrapalha que ajuda? (foto: Getty Images)

E por que h� toda essa preocupa��o em torno do uso de descongestionantes nasais?

Roithmann explica que esse tipo de medicamento � absorvido pela circula��o sangu�nea e pode gerar altera��es na frequ�ncia card�aca e de press�o, sem falar de altera��es no sistema nervoso central.

Por isso, devem ficar atentos pacientes com condi��es card�acas, como isquemia card�aca, hipertens�o, altera��es hormonais como hipertireoidismo, diabetes, glaucoma e uso de outros medicamentos, como alguns tipos de antidepressivos.

"Se voc� pinga essa medica��o, ele descongestiona essas estruturas internas do nariz e voc� em 2 minutos est� respirando melhor. Mas qual � o problema disso? Passado um tempo tem um fen�meno chamado efeito rebote", explica o especialista. "Se usar mais do que tr�s a cinco dias, continuamente, o organismo come�a a precisar do congestionante para funcionar. E come�a a pedir que a pessoa use cada vez mais. Isso gera uma situa��o que tem at� um nome e � uma doen�a, que se chama 'rinite da gota', 'rinite medicamentosa', e que � dif�cil de tratar, exigindo em alguns casos interven��o cir�rgica do nariz para resolver."

H� um projeto de lei em tramita��o na C�mara dos Deputados em que torna obrigat�ria a apresenta��o e a reten��o de uma receita m�dica para a compra de medicamentos para desobstru��o nasal que contenham corticoides e vasoconstritores.

O autor da proposta, o deputado federal Dr. Zacharias Calil (DEM-GO), cita no texto dados da Associa��o Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia C�rvico-Facial, que aponta que "os descongestionantes nasais s�o os medicamentos mais procurados na automedica��o, em torno de 7% das vendas" e que "de 25% a 50% dos usu�rios dessas subst�ncias poder� desenvolver rinite medicamentosa".

O projeto, que cita outros efeitos colaterais poss�veis (como malforma��es card�acas fetais no primeiro trimestre de gravidez e redu��o da espessura da mucosa nasal), aguarda parecer do relator na Comiss�o de Constitui��o e Justi�a da C�mara.

"Uma coisa importante para as m�es e pais entenderem: a gente tem tanto receio do uso de descongestionante em crian�a porque a dose que ajuda, ou seja, a dose que descongestiona, � muito pr�xima da dose que gera efeitos colaterais. Ent�o, � muito comum intoxica��o por descongestionante, inclusive visitas � emerg�ncia pelos efeitos do excesso de descongestionante", afirma Roithmann.

Segundo ele, "a tend�ncia hoje da maior parte dos tratamentos, tanto de rinite cr�nica, quanto de sinusite cr�nica, � atrav�s de lavagens nasais".

Mulher negra segura lenço e está a ponto de espirrar
Pacientes com condi��es card�acas, como isquemia card�aca, hipertens�o, altera��es hormonais como hipertireoidismo, diabetes, glaucoma e uso de outros medicamentos, como alguns tipos de antidepressivos, devem ficar atentos ao usar descongestionantes nasais (foto: Getty Images)

Lavagem nasal: benef�cios e riscos

Esse tipo de tratamento, que basicamente lava as narinas com soro fisiol�gico, vem sendo considerado por especialistas como um das sa�das mais efetivas para o cuidado e tratamento de doen�as que afetam o nariz. Al�m de ajudar a prevenir crises de sinusite ou rinite, por exemplo, ao melhorar em alguns casos a circula��o sangu�nea e a efici�ncia da mucosa nasal.

Pacientes com rinite al�rgica, congest�o nasal e excesso de secre��o costumam usar essa t�cnica com frequ�ncia, principalmente porque eventuais efeitos adversos envolvem riscos bem menores: a irrita��o no nariz e a remo��o indevida de defesas nasais.

E quais s�o os principais benef�cios? Mori explica que a lavagem nasal ajuda a eliminar subst�ncias inflamat�rias (reduzindo os sintomas de congest�o ou obstru��o) e tamb�m auxilia na remo��o mec�nica da secre��o acumulada, evitando que o local vire um meio de cultura para bact�ria e "evoluindo de uma gripe ou resfriado para uma sinusite aguda bacteriana."

A lavagem nasal pode ser feita em pessoas de todas as idades, mas a quantidade varia a depender da faixa et�ria. Crian�as mais novas podem precisar do aux�lio de adultos para realizar o procedimento. Em geral, podem ser usados seringas (sem agulhas) ou dispositivos espec�ficos para isso (vendidos em farm�cias ou lojas de artigos m�dico-hospitalares).

H� dois tipos de lavagem nasal: baixo volume (at� 50ml em cada narina) e alto volume (mais do que 100ml por lavagem).

A primeira costuma ser usada em pacientes sem muita secre��o e congest�o nasal. A segunda, de alto volume, � indicada "nos casos em que a mucosa est� inflamada, como nos epis�dios de gripes, resfriados e principalmente nos casos de sinusites agudas e cr�nicas", explica Mori. O objetivo da maior quantidade de soro � conseguir remover essa secre��o e subst�ncias inflamat�rias.

A lavagem pode ser feita tanto com o soro vendido em garrafas em farm�cia quanto com soro feito em casa. Mas a composi��o aqui n�o � igual � do soro caseiro usado para combater a desidrata��o (com �gua, sal e a��car). Mori sugere uma receita baseada em sach�s americanos vendidos para lavagem nasal: 250ml de �gua filtrada/fervida, 1 colher de caf� rasa de sal de cozinha e 1/4 de colher de caf� de bicarbonato de s�dio (que ajuda a diminuir a viscosidade da secre��o). Esse l�quido, que n�o deve ser usado para inala��o, pode ser armazenado na geladeira por at� 24h.

Mulher branca assoa o nariz
Recomenda-se que lavagem nasal seja feito com pessoa em p� ou sentada, com uso de seringa (sem agulha), garrafinha vendida em farm�cia para esse fim ou dispositivos conhecidos como Lota (foto: Getty Images)

E como se faz essa lavagem nasal com soro?

Recomenda-se que isso seja feito com a pessoa em p� ou sentada, com uso de seringa (sem agulha), garrafinha vendida em farm�cia para esse fim ou dispositivos conhecidos como Lota.

Segundo Mori, o importante nessa t�cnica � o volume de soro, e n�o a for�a ou a press�o aplicada, que em excesso podem transformar a solu��o em problema. "Muita for�a pode fazer com que o soro v� parar no ouvido, que se comunica com o nariz pela tuba auditiva. Com o soro se encaminhando para l�, pode gerar muitos desconfortos, como a sensa��o de ouvido tampado e pior, pode at� causar otite."

A press�o em excesso tamb�m pode machucar o septo nasal e provocar sangramento. Por fim, se n�o houver for�a ou press�o demais, mas lavagem em excesso, o nariz pode acabar irritado. "A estrutura interna do nariz e sua defesa contra infec��es dependem de algumas subst�ncias presentes nesse muco nasal. Ent�o, a remo��o excessiva delas pode ser prejudicial", afirma Roithmann. Segundo ele, a quantidade ideal numa crian�a, por exemplo, � duas vezes ao dia: quando acorda e antes de dormir.

Roithmann afirma ainda que essa t�cnica pode ser usada em beb�s, que costumam ter congest�o nasal e excesso de muco dentro do nariz, "o que n�o � sin�nimo de doen�a". Nessa faixa et�ria, s�o usados tanto a lavagem nasal quanto dispositivos de suc��o que retiram um pouco desse muco excessivo, j� que beb�s ainda n�o sabem expelir por conta pr�pria essa secre��o.

Homem idoso assoa o nariz
Deve-se buscar avalia��o de m�dicos especializados caso problema respirat�rio seja frequente, persistente ou esteja afetando a rotina (foto: Getty Images)

No caso dos beb�s, o especialista recomenda tamb�m que, no caso de congest�o nasal, deve-se amament�-los na posi��o sentada, que ajuda a desinchar as estruturas nasais, explica Roithmann .

A posi��o tamb�m deve ser observada na hora de dormir em adultos e crian�as com nariz congestionado. Recomenda-se que o travesseiro fique em posi��o mais elevada para ajudar a respira��o e diminuir o desconforto.

Roithmann ressalta, por fim, que deve-se buscar a avalia��o de m�dicos especializados caso esse problema respirat�rio seja frequente, persistente ou esteja afetando a rotina.


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