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Estado de Minas

'Vacinem seus filhos. A prote��o do meu depende da imunidade comunit�ria': o apelo de m�e de menino � espera de vacina

Com o in�cio da vacina��o infantil no Brasil, fam�lias de crian�as imunossuprimidas e com comorbidades esperam ansiosamente pelo imunizante, que diminuir� os riscos � sa�de dos pequenos.


19/01/2022 14:26 - atualizado 19/01/2022 14:32

Hélio com sua mãe, Thaís
H�lio com sua m�e, Tha�s: ele toma um medicamento imunossupressor desde o primeiro ano de vida (foto: Arquivo Pessoal)

Quando H�lio Ten�rio, de 5 anos, v� outras crian�as na rua, fica dif�cil para ele esconder um sorriso. Segundo sua m�e, Tha�s S�co, por ter passado a maior parte dos �ltimos dois anos fora das aulas presenciais e sem brincar pessoalmente com colegas da mesma idade, ele, que � naturalmente soci�vel, fica em �xtase quando encontra algu�m que possa se tornar seu amigo.

O isolamento do pequeno n�o foi � toa. H�lio toma um medicamento imunossupressor desde seu primeiro ano de vida, j� que foi diagnosticado com AVB (atresia de vias biliares) logo ap�s o nascimento e, aos seis meses, precisou passar por um transplante de f�gado.

De acordo com a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), a doen�a � o motivo mais comum de transplante hep�tico em crian�as, e sua causa n�o � completamente conhecida. No caso de H�lio, a cor amarelada da pele que n�o sumiu depois dos banhos de sol e as fezes claras quando deveriam ser amarelas foram sinais que ajudaram no diagn�stico.

Em um organismo com o quadro, h� uma inflama��o e obstru��o dos ductos biliares, respons�veis por transportar a bile, l�quido que ajuda na digest�o de gorduras e carrega algumas subst�ncias para serem eliminadas pelo intestino. A bile fica retida no f�gado, provocando rapidamente danos ao �rg�o, o que pode evoluir para cirrose e �bito, caso o paciente n�o seja tratado precocemente.

Para muitas crian�as, a sa�da � fazer um procedimento conhecido como 'cirurgia de Kasai', que tem como objetivo fazer uma liga��o do intestino delgado ao local de maior acumula��o de bile no f�gado e pode retardar a necessidade de um transplante de f�gado em mais de uma d�cada. No caso de H�lio, a cirurgia n�o teve sucesso, o que fez com que ele precisasse receber um peda�o do f�gado do pai.

'Conto com a ci�ncia desde que ele nasceu'

O f�gado � o �nico �rg�o capaz de se regenerar, o que permitiu que seu pai, Thiago Duque, continuasse vivendo saudavelmente ap�s doar 30% do �rg�o para o filho.

"O volume ainda era muito superior ao tamanho de um beb�, por isso, os m�dicos reduziram ainda mais. Foi uma cirurgia extremamente delicada que demorou 13 horas. Para que ele pudesse viver, conto com a ci�ncia desde que ele nasceu. Agora, com a vacina, n�o seria diferente", diz Tha�s, que tem 36 anos e � professora do departamento de Direito da UFLA (Universidade Federal de Lavras) e est� licenciada para se dedicar � pesquisa de doutorado.

Hélio indo à escola
H�lio e sua fam�lia aguardam in�cio da vacina��o em sua cidade (foto: Arquivo Pessoal)

Por diferentes intercorr�ncias na sa�de, at� um ano e meio, H�lio passou por sete procedimentos cir�rgicos. Depois, o menino foi crescendo e levando uma vida como qualquer outra crian�a, com a ajuda do imunossupressor que impede que o corpo rejeite o �rg�o transplantado.

Mas como o nome sugere, a droga tem o efeito de deixar o sistema imune mais fraco. "Esses pacientes t�m maior risco de contrair qualquer tipo de infec��o, assim como de desenvolver formas mais graves delas", explica Lucas Fadel, pediatra e coordenador da UTI Pedi�trica e Neonatal da Santa Casa de S�o Jos� dos Campos (SP).

Por isso, a fam�lia de H�lio o manteve em casa durante a maior parte da pandemia, com medo que ele pudesse ter contato com o Sars-CoV-2.

'Esse coronav�rus nunca vai embora, m�e?'

A pergunta foi feita por H�lio em dezembro de 2021. Assim como boa parte dos brasileiros, ele estava ansioso para retomar a vida "normal", sem os perigos impostos pela covid-19. Ao ouvir da m�e que os cientistas estavam produzindo o imunizante, ele voltou � sala alguns minutos mais tarde, com sua pr�pria vers�o da vacina, feita de lego, em m�os. A cena fez a m�e rir e ansiar ainda mais por uma vacina de verdade.

"Ele pode tomar a maioria das vacinas. Embora v� ter uma taxa de resposta inferior, ainda vale muito para fortalecer o sistema imunol�gico dele. Mas a prote��o dele tamb�m depende muito da imunidade comunit�ria, e por isso, fa�o o apelo para que outros pais tamb�m vacinem seus filhos", diz Thais.

Atualmente, a fam�lia mora em Bicas, Minas Gerais, cerca de 40 quil�metros de dist�ncia de Juiz de Fora. Na cidade, a vacina��o ainda n�o teve in�cio. "Em Juiz de Fora j� come�ou, mas n�o h� nenhuma men��o sobre imunossuprimidos. Aqui, um carro de som passa avisando. Estou ansiosa para ouvir o an�ncio", diz a m�e.

Hélio com sua versão de lego da vacina
H�lio com sua vers�o de lego da vacina (foto: Reprodu��o/Twitter)

Entenda o que � considerado comorbidade

A ordem de vacina��o estabelecida pelo Minist�rio de Sa�de come�a com crian�as de 5 a 11 anos com defici�ncia permanente ou com comorbidades, depois crian�as ind�genas e quilombolas, seguidas por aquelas que vivem em lar com pessoas com alto risco para evolu��o grave de covid-19. Depois desses grupos, v�m as crian�as sem comorbidades, come�ando dos mais velhos para os mais novos.

No entanto, cada estado (e em alguns casos, munic�pios), podem apresentar diferen�as na log�stica de vacina��o. Veja mais detalhes aqui.

Al�m de crian�as imunossuprimidas por qualquer causa, s�o consideradas comorbidades para o p�blico infantil pelo Minist�rio da Sa�de: diabetes mellitus; pneumopatias cr�nicas graves; hipertens�o arterial resistente ou de est�gio 3; hipertens�o arterial est�gios 1 e 2 como les�o em �rg�o-alvo; insufici�ncia card�aca; cor-pulmonale e hipertens�o pulmonar; cardiopatia hipertensa; s�ndromes coronarianas; valvopatias; miocardiopatias e pericardiopatias; doen�as da aorta, do grandes vasos e f�stulas arteriovenosas; arritmias card�acas; cardiopatias cong�nita no adulto; pr�teses valvares e dispositivos card�acos implantados; doen�as neurol�gicas cr�nicas; doen�a renal cr�nica; hemoglobinopatias graves; obesidade m�rbida; s�ndrome de Down; e cirrose hep�tica.

Os primeiros da fila da vacina

Enzo com sua mãe, Milene
Enzo com sua m�e, Milene: nos primeiros meses de vida, ele foi diagnosticado com diabetes e hipotireoidismo (foto: Arquivo Pessoal)

Acompanhado de sua m�e, Enzo Cronemberger de Azevedo, de 9 anos, foi o primeiro a chegar no posto de sa�de localizado na Vila Anast�cio, bairro da zona oeste de S�o Paulo, para receber a vacina em dose pedi�trica no �ltimo dia 17.

Milene chora ao falar do filho vacinado. "� algo que a gente esperou demais. Acompanh�vamos o passo a passo das aprova��es. Ter a vacina, para n�s, � uma esperan�a. Ele estava ansioso, at� disse que faria um bolo para comemorar o dia da vacina", conta a m�e, acrescentando que ele n�o teve nenhuma rea��o adversa ao imunizante.

O menino p�de ser atendido por fazer parte das crian�as com comorbidades e imunossuprimidas. Nos primeiros meses de vida, ele foi diagnosticado com diabetes e hipotireoidismo. Logo depois, teve um dist�rbio renal que fazia com que seu corpo eliminasse prote�na em excesso na urina. O quadro, pouco comum em crian�as, levou os m�dicos que o acompanhavam a suspeitar de uma s�ndrome rara.

Enzo foi ent�o diagnosticado com a doen�a autoimune IPEX, quadro heredit�rio e raro que causa a disfun��o de v�rias gl�ndulas end�crinas e a inflama��o do intestino. Desde ent�o, ele faz utiliza��o cont�nua de um medicamento imunosupressor, e com isso, manteve uma boa sa�de.

Enzo exibe cartão de vacinação contra covid
Enzo foi vacinado contra a covid-19 (foto: Arquivo Pessoal)

Quando a pandemia come�ou, Milene, que � gerente de projetos, j� passou a trabalhar remotamente. "Nos primeiros meses, ficamos totalmente sem sair de casa. O contato dele � com a fam�lia - minha m�e, minha irm�, o pai dele e os irm�os por parte do pai", explica ela, hoje mora com o filho e o marido, padrasto de Enzo.

O pequeno ficou quase dois anos sem ir para escola presencialmente. Em novembro de 2021, com os cuidados indicados pelos m�dicos, ele voltou a estudar na mesma sala que outros colegas durante um m�s, antes das f�rias e da nova onda causada pela variante �micron come�ar.

Mesmo tomando os cuidados regularmente, Milene foi infectada pelo Sars-CoV-2 duas vezes, mas em ambas as ocasi�es conseguiu proteger o filho, deixando-o na casa do pai.

"Ele entende a situa��o atual e � bem consciente em rela��o � imunidade dele, �s medica��es, e se manteve tranquilo no isolamento. Mas antes da volta � escola j� estava chegando a um est�gio em que ficar t�o recluso fazia mal para ele. N�o sa�amos com ele para as festas, ele deixou de brincar com outras crian�as e de fazer atividade f�sica, j� que as aulas de nata��o n�o eram mais poss�veis", diz a m�e.

"Conversei com a m�dica imunologista dele, que me deu um atestado para que ele tomasse a vacina. Fiquei com medo, mas os m�dicos falaram: � muito melhor que ele tome a vacina."

Mitos atrapalham a vacina��o

"As d�vidas sobre a vacina devem ser esclarecidas com o pediatra da crian�a", aconselha o m�dico Lucas Fadel para que as fam�lias n�o caiam em not�cias falsas. Abaixo, o especialista esclarece t�picos que frequentemente s�o usados para desencorajar a vacina, mas que n�o s�o verdadeiros:

- A vacina n�o interage com o DNA celular e n�o causa altera��es gen�ticas. Ela funciona como uma "receita" pronta para que o sistema imunol�gico possa produzir anticorpos e estar pronto para combater uma poss�vel infec��o.

- O RNAm (ou RNA mensageiro), utilizado na vacina Pfizer, n�o ficar� indefinidamente nas c�lulas que ele entrou. Ap�s cumprir seu papel, � inativado (como todo RNAm que o corpo humano produz). As prote�nas spike do coronav�rus tamb�m ser�o inativadas pelo organismo, assim como todas as prote�nas reconhecidas como invasoras.

- Miocardite, pericardite e outros eventos vacinais s�o extremamente raros. "Basta olhar o n�mero de vacinado, que s�o milh�es, e o n�mero de eventos, de apenas algumas dezenas", aponta Fadel.

Os eventos vacinais mais preocupantes s�o ainda mais improv�veis e todos mostraram curso benigno. "Al�m do mais, o risco de desenvolver uma miocardite pela infec��o por coronav�rus chega a ser mais de dez vezes maior que pela vacina."

Diagn�stico recente fez L�via entrar para o grupo priorit�rio

Líivia com os pais
L�via com, seus pais: ela foi diagnosticada com artrite idiop�tica juvenil sist�mica (foto: Arquivo Pessoal)

Os pais de L�via Martins Pinto, de 7 anos, tamb�m anseiam pela vez da filha receber o imunizante, o que deve ocorrer nos pr�ximos dias na cidade de Indaiatuba (SP). Ap�s ter mononucleose em 2021, a febre da menina n�o cessou por 15 dias seguidos. O sintoma preocupante foi o come�o da luta dos pais por um diagn�stico. Os sinais que apareceram a seguir foram dores nas articula��es e �nsia de vomito, o que levava L�via a n�o comer e a perder peso.

Mais 15 dias se passaram, com a crian�a internada, antes que a equipe multidisciplinar de m�dicos que a examinava descobrisse o problema. Ap�s uma bateria extensa de exames e testes, os pais receberam a not�cia de que ela possu�a artrite idiop�tica juvenil sist�mica.

"A doen�a faz com que os anticorpos que deveriam servir de prote��o no sistema imunol�gico ataquem o pr�prio corpo. Ela inflama as articula��es, causando dor, incha�o e dificuldade de movimento. L�via tem o subtipo mais grave (sist�mica), que causa febre e altera��es importantes no sangue. Al�m disso, ela tamb�m teve s�ndrome de ativa��o macrof�gica, que causa a excessiva prolifera��o de macr�fagos (c�lulas do sistema imune), e pode ser fatal", explica a reumatologista pedi�trica Maria Teresa Terreri, professora da Unifesp (Universidade Federal de S�o Paulo), e parte da ONG Acredite, onde conheceu L�via.

Lívia em cama de hospital
L�via j� teve de ser internada v�rias vezes (foto: Arquivo Pessoal)

Durante o ano, L�via precisou ser internada seis vezes e agora, fazendo o uso de tr�s medicamentos imunossupressores, tem a sa�de est�vel. "Eu tenho medo que ela pegue qualquer coisa, mas principalmente a covid-19. S� sa�mos com m�scaras PFF2, ainda tiramos as roupas antes de entrar em casa e n�o deixo ningu�m se aproximar demais dela", diz a m�e, Shirlei, que tem 52 anos e � professora do ensino fundamental.

Para poder ter mais seguran�a, Terreri explica que n�o � s� seguro, como tamb�m extremamente indicado, que pacientes imunossuprimidos recebam a vacina.

"Espero que o imunizante possa permitir que ela fa�a mais coisas. � uma menina muito especial, brilhante na escola, que at� tem uma boa compreens�o do que acontece com ela, mas que ainda quer brincar e visitar as amigas", diz a m�e.


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