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China: os 3 pilares da expans�o do pa�s na Am�rica Latina em 2 anos de pandemia de covid-19

Assim como o mundo mudou em apenas dois anos devido � pandemia, um novo cap�tulo tamb�m foi aberto na rela��o entre pa�ses da regi�o e o gigante asi�tico.


24/01/2022 10:44 - atualizado 24/01/2022 11:02

Xi Jinping
'Diplomacia da covid': o fornecimento de vacinas e equipamentos tornou a China protagonista na Am�rica Latina (foto: Reuters)

Com a venda de milh�es de doses de vacinas, a China est� impulsionando sua ind�stria farmac�utica. Paralelamente, segundo os analistas, est� tamb�m ampliando sua influ�ncia na Am�rica Latina e no Caribe.

Esse processo recebeu o nome de "diplomacia da covid". Ele consiste na venda e doa��o de m�scaras, respiradores, equipamentos de prote��o e vacinas a outros pa�ses em meio � necessidade urgente de combater a crise sanit�ria nos diferentes picos da pandemia em todo o mundo.

� medida que a produ��o do material foi se expandindo, essa pr�tica avan�ou rapidamente na regi�o latino-americana ao longo de 2021 tamb�m com o prop�sito de formar acordos de coprodu��o de vacinas com v�rios pa�ses.

Enquanto isso, o volume do com�rcio bilateral entre a China e a Am�rica Latina continuou aumentando. Proje��es de Pequim indicam que, em 2021, ele atingiria um n�vel recorde de US$ 400 bilh�es (R$ 2,27 trilh�es).

E os investimentos contratados antes da pandemia em projetos de energia e infraestrutura prosseguem, bem como o avan�o das negocia��es comerciais sobre tecnologia (como no caso da tecnologia 5G no Brasil) e os empr�stimos que a China vem oferecendo h� anos para pa�ses com risco de cr�dito muito alto, como a Argentina e a Venezuela.

Ao mesmo tempo, as circunst�ncias abriram as portas para novas aproxima��es pol�ticas. � o caso da Nicar�gua, que rompeu rela��es diplom�ticas com Taiwan para estabelecer novas rela��es com Pequim.

A pandemia "foi muito importante para a China porque ofereceu ao pa�s um novo caminho para ampliar sua participa��o na regi�o", segundo declarou � BBC News Mundo (servi�o em espanhol da BBC) Pepe Zhang, diretor e membro do Centro Adrienne Arsht para a Am�rica Latina do centro de estudos Atlantic Council, nos Estados Unidos.

A 'diplomacia da covid'

Tamb�m conhecida como a "diplomacia das m�scaras", ou a "diplomacia das vacinas", a doa��o e venda de produtos para enfrentar a pandemia no seu momento mais cr�tico fez com que a China se tornasse protagonista durante a crise sanit�ria na Am�rica Latina.

Enquanto a Europa e, posteriormente, os Estados Unidos tratavam de conseguir respiradores, equipamentos de prote��o, oxig�nio, m�scaras e tudo o mais que fosse necess�rio para salvar a vida dos seus habitantes frente � r�pida expans�o da covid-19, a China, onde irrompeu o surto inicial, reagiu mais cedo � trag�dia e come�ou a produzir a toda velocidade os insumos m�dicos necess�rios.

Vacinas da Sinivac
A vacina produzida pelo laborat�rio chin�s Sinovac (no Brasil, CoronaVac) � uma das mais compradas na Am�rica Latina (foto: Getty Images)

Pequim aplicou duras medidas de controle e isolamento contra o v�rus e, assim que conseguiu controlar a situa��o no seu territ�rio, posicionou-se como uma esp�cie de t�bua de salva��o para os pa�ses mais desesperados, que n�o conseguiam encontrar produtos m�dicos nos primeiros meses de 2020.

Um dos primeiros pa�ses a receber ajuda foi a Venezuela, em meados de mar�o. Logo seguiram-se outras na��es como Bol�via, Equador e Argentina. Paralelamente �s doa��es, come�aram as compras pelos pa�ses latino-americanos que tinham recursos econ�micos dispon�veis, mas n�o encontravam vendedores.

"Queremos agradecer � Rep�blica Popular da China pela rapidez com que atendeu a esta solicita��o do M�xico", destacou, em 2020, o chanceler mexicano Marcelo Ebrard em meio � escassez de equipamentos de prote��o contra a covid-19 na �poca e � batalha internacional para consegui-los.

Segundo Enrique Dussel, coordenador do Centro de Estudos China-M�xico da Universidade Nacional Aut�noma do M�xico (UNAM) e da Rede Acad�mica da Am�rica Latina e do Caribe sobre a China (Rede ALC-China), o governo do presidente mexicano Andr�s Manuel L�pez Obrador havia feito naquele momento um "pedido de aux�lio" e "o �nico pa�s que respondeu de forma r�pida foi a China", declarou � BBC News Mundo.

Por isso, Dussel � da opini�o de que a ideia de que exista uma "diplomacia da covid" por parte da China �, na verdade, uma cr�tica feita por Washington � pol�tica externa chinesa. "Essa quest�o da diplomacia das m�scaras e das vacinas � uma rea��o exagerada. A China vem desenvolvendo rela��es com a Am�rica Latina h� d�cadas", ressalta Dussel.

J� Evan Ellis, professor de Estudos Latino-americanos da Escola de Guerra do Ex�rcito dos Estados Unidos, especializado nas rela��es da regi�o com a China, tem uma opini�o diferente. Ele declarou � BBC News Mundo que "a pandemia deu espa�o para a China aumentar sua influ�ncia. Ela serviu para (o pa�s) projetar o seu poder."

Ellis destaca que, nestes �ltimos dois anos, devido � pandemia, foram abertos novos mercados na Am�rica Latina para a venda de vacinas e produtos sanit�rios. Agora, segundo ele, foi iniciada uma nova fase da diplomacia da covid na �rea de tecnologia da sa�de.

Andrés Manuel López Obrador
O governo do presidente mexicano Andr�s Manuel L�pez Obrador comprou vacinas de v�rios pa�ses, incluindo a China (foto: Governo do M�xico)

Um exemplo desse fen�meno s�o os planos de coprodu��o de vacinas no Brasil, Peru e Argentina, at� 2024. Para o analista, esse novo tipo de rela��o permitir� a Pequim avan�ar em desenvolvimentos biotecnol�gicos na regi�o.

At� o momento, a China encontrou na Am�rica Latina um grande mercado para a venda das vacinas produzidas pelos laborat�rios chineses Sinovac (que faz a CoronaVac, desenvolvida no Brasil pelo Instituto Butantan), Sinopharm e CanSino. A grande maioria dos pa�ses da regi�o adquiriu doses dessas vacinas.

Os v�nculos pol�ticos e o 'fator Taiwan'

A capacidade chinesa de produzir vacinas em massa e envi�-las a pa�ses em desenvolvimento gerou uma abertura diplom�tica e comercial que ofereceu � China, segundo os especialistas, uma vantagem com rela��o aos pa�ses desenvolvidos que se concentraram nas suas pr�prias necessidades.

Mulher sendo vacinada
Entre vendas e doa��es, a China forneceu vacinas contra a covid-19 para a maior parte dos pa�ses latino-americanos (foto: Getty Images)

Na Am�rica Latina, al�m do benef�cio das vendas, a China tamb�m desenvolveu um programa de doa��o de vacinas. H� algumas semanas, o governo do presidente Xi Jinping realizou a segunda doa��o de vacinas para a Nicar�gua, assim que o pa�s centro-americano rompeu rela��es diplom�ticas com Taiwan.

"No mundo, existe apenas uma China", afirmou o ministro das Rela��es Exteriores da Nicar�gua, Denis Moncada, tomando para si a posi��o de Pequim sobre o governo da ilha, considerada parte inalien�vel do territ�rio da Rep�blica Popular.

A decis�o da Nicar�gua "demonstra que a China est� expandindo sua influ�ncia na regi�o", segundo afirmou � BBC News Mundo o professor e diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade Renmin, na China, Cui Shoujun.

Ele acrescenta que "a China considera os pa�ses latino-americanos como s�cios para o desenvolvimento e forneceu enorme assist�ncia m�dica aos pa�ses mais afetados pela pandemia".

Com o t�rmino das rela��es diplom�ticas com a Nicar�gua, Taiwan tem agora apenas 14 aliados diplom�ticos formais em todo o mundo, em meio a tens�es cada vez maiores com o governo de Pequim.

Na Am�rica Central, os pa�ses que mant�m rela��es diplom�ticas com Taiwan s�o a Guatemala, Belize e Honduras mas a presidente eleita Xiomara Castro, que assumir� o cargo em Honduras no dia 27 de janeiro, comprometeu-se durante a campanha a romper rela��es com Taiwan, em favor de Pequim.

Daniel Ortega
O governo do presidente nicaraguense Daniel Ortega rompeu rela��es diplom�ticas com Taiwan em dezembro de 2021 (foto: Getty Images)

No Caribe, o Haiti, S�o Crist�v�o e Nevis, S�o Vicente e Granadinas e Santa L�cia mant�m rela��es diplom�ticas com Taiwan e, na Am�rica do Sul, somente o Paraguai.

As �ltimas doa��es de vacinas � Nicar�gua, ap�s seu rompimento com Taiwan, somam-se �s enviadas a outros pa�ses latino-americanos, como a Venezuela, Cuba, Bol�via e Peru, que agradeceram pela ajuda chinesa em meio � crise sanit�ria.

Enquanto a China considera as doa��es um ato humanit�rio ap�s entraves do cons�rcio Covax Facility definido pelas grandes pot�ncias para ajudar os pa�ses mais vulner�veis, seus cr�ticos consideram que Pequim faz uso dessa circunst�ncia como uma oportunidade para conseguir benef�cios em neg�cios futuros e, de forma mais ampla, para melhorar a imagem do pa�s pelo mundo.

Maduro e Xi
A China e a Venezuela mant�m estreitas rela��es pol�ticas e comerciais (foto: Getty Images)

Por outro lado, uma inclina��o para a esquerda dos governos da Am�rica Latina poderia criar um cen�rio novo. "O desvio para a esquerda abre uma porta p�s-covid para maior expans�o da influ�ncia chinesa na Am�rica Latina", afirma Evan Ellis.

Segundo o pesquisador, existe um padr�o hist�rico de v�nculo entre a China e pa�ses como a Venezuela, Cuba, o Equador do ex-presidente Rafael Correa, a Bol�via de Evo Morales, a Argentina da ex-presidente Cristina Kirchner e El Salvador de Naiyb Bukele, al�m dos primeiros encontros com o Peru de Pedro Castillo e, agora, a Nicar�gua de Daniel Ortega.

Mas os especialistas consultados concordam que existe um elemento fundamental: a China quer fazer neg�cios. E esse objetivo depende muito mais das oportunidades que da posi��o pol�tica do governo que estiver no poder no momento.

O com�rcio chin�s

Barco cargueiro
Os n�meros de 2021 a serem divulgados devem marcar mais um ano recorde no com�rcio entre a China e a Am�rica Latina (foto: Getty Images)

Alicia Garc�a-Herrero, economista-chefe para a �sia e a Oceania do banco de investimentos franc�s Natixis e ex-economista do Fundo Monet�rio Internacional (FMI), defende que "a pandemia aprofundou a rela��o de depend�ncia entre a Am�rica Latina e a China".

Al�m de uma conta comercial em d�ficit e de uma grande quantidade de empr�stimos chineses para a regi�o nas �ltimas d�cadas, surgiram novos elementos.

Entre eles, a atual depend�ncia latino-americana das importa��es de vacinas chinesas e, em alguns casos, "doa��es em troca de favores pol�ticos", segundo a economista.

Al�m disso, est� em jogo a redu��o do fornecimento de empr�stimos para a regi�o, com o aumento da press�o para o pagamento das d�vidas contra�das. Nesse contexto, Garc�a-Herrero salienta que "os pa�ses mais endividados da regi�o precisam enfrentar uma enorme quantidade de pagamentos para a China em um momento muito dif�cil", quando os cofres dos governos est�o muito prejudicados pela pandemia.

Embora os investimentos estrangeiros diretos da China na Am�rica Latina tenham sido reduzidos durante a pandemia, segundo Pepe Zhang, as "rela��es comerciais permanecem s�lidas e resistentes".

"� prov�vel que 2021 tenha sido outro ano recorde, ou perto disso, para o com�rcio entre a China e a regi�o", afirma.

De fato, durante a reuni�o ministerial do Foro da Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe (Celac) com a China no in�cio de dezembro, o vice-ministro das Rela��es Exteriores chin�s, Ma Zhaoxu, anunciou que o volume de com�rcio entre as partes superou US$ 300 bilh�es (R$ 1,7 trilh�o) em 2020. "E esperamos que, este ano (2021), essa cifra alcance US$ 400 bilh�es" (R$ 2,275 trilh�es), segundo ele.

Com rela��o aos investimentos chineses em infraestrutura, 24 projetos foram desenvolvidos na regi�o, somando um total de US$ 18 bilh�es (R$ 102 bilh�es) em 2020, segundo Enrique Dussel, "embora estiv�ssemos em plena pandemia".

Para o pesquisador mexicano, a China busca estabelecer uma associa��o estrat�gica integral de longo prazo com a regi�o, que v� mais al�m dos governos no poder. Ele acrescenta que a China oferece um portf�lio de op��es para os pa�ses latino-americanos h� mais de dez anos.

"Se voc� tiver interesse por t�nis de mesa, eu ofere�o t�nis de mesa, se quiser tecnologia 5G, ofere�o tecnologia 5G. Se quiser um trem de alta velocidade, um porto, um sat�lite ou um empr�stimo, aqui est�", exemplifica Dussel. No final, os pa�ses latino-americanos escolhem qual parte deste portf�lio querem receber.

Como temos visto, "pa�ses como Argentina, Equador, Brasil, M�xico, Cuba e Venezuela escolheram uma parte do portf�lio chin�s", segundo Dussel.

Al�m disso, estamos presenciando novas rela��es triangulares entre a Am�rica Latina, os Estados Unidos e a China.

"Vamos continuar convivendo com a tens�o entre os dois gigantes", destaca ele. "Fazer um casamento ideol�gico com um dos dois � falta de sensatez. � algo pouco inteligente."


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