'Quem tem condi��es de comprar?', questiona sanitarista sobre libera��o de autotestes para covid no Brasil

A autoriza��o da Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) para a venda de autotestes de covid-19 n�o deve fazer grande diferen�a no enfrentamento � pandemia no Brasil, porque s� uma pequena fatia da popula��o ter� como comprar o produto.

Essa � a avalia��o de Reinaldo Guimar�es, m�dico sanitarista e vice-presidente da Associa��o Brasileira de Sa�de Coletiva (Abrasco).

A decis�o da ag�ncia, nesta sexta-feira, autoriza que os testes possam ser comercializados em farm�cias, drogarias e outros estabelecimentos de sa�de devidamente licenciados. Por�m, n�o h� indicativo por parte do governo Jair Bolsonaro (PL) de que o produto tamb�m ser� disponibilizado pelo Sistema �nico de Sa�de (SUS).

"N�o acredito que a autoriza��o para a venda dos teste ter� uma grande import�ncia no combate � pandemia. Quem tem condi��es de comprar um teste por R$ 180? S� uma pequena parcela da popula��o, a de maior poder aquisitivo. A maior parte das pessoas n�o tem como pagar. Al�m disso, com a alta procura, a tend�ncia � que o pre�o dos testes suba", diz o sanitarista.

Para ele, o autoteste deveria ser inclu�do em uma pol�tica p�blica do SUS, e distribu�do gratuitamente em um programa amplo de testagem.

"Outros pa�ses que t�m um sistema de sa�de, como o Reino Unido com o NHS, disponibilizam os testes de gra�a. J� os Estados Unidos, que n�o t�m sistema de sa�de (p�blico), compraram um grande volume de testes e tamb�m est�o distribuindo � popula��o", explica.

Embora a autoriza��o da Anvisa para venda dos autotestes em farm�cias tenha sido dada ap�s um pedido do Minist�rio da Sa�de, o ministro Marcelo Queiroga disse recentemente ser "dif�cil" incorpora��o do produto pelo SUS.

"Sem ter essas respostas em rela��o � efetividade e ao custo, essa politica pode n�o ter o resultado que desejamos. Isso n�o quer dizer que o teste n�o possa ser vendido nas farm�cias para que a popula��o possa adquirir e realizar o teste. Isso � muito poss�vel que a sociedade possa ter esse acesso, as redes privadas tem realizado testes tamb�m", disse o ministro, no dia 10 de janeiro.

Para Guimar�es, outro problema ser� relacionado aos dados de infec��es e a vigil�ncia epidemiol�gica.

"Se a pessoa estiver infectada e tiver consci�ncia, ela vai procurar o sistema de sa�de para informar seu caso. Mas acho muito dif�cil que isso aconte�a com a maior parte das pessoas. Mesmo se ela informar, haver� uma vigil�ncia no entorno dessa pessoa e com quem ela entrou em contato? Durante a pandemia, ficou claro que a vigil�ncia epidemiol�gica n�o funcionou no Brasil", diz.

A empresa que quiser comercializar o autoteste em farm�cias ainda dever� pedir autoriza��o da Anvisa, que analisar� caso a caso. "Como h� uma press�o da sociedade por celeridade, n�o acredito que a Anvisa v� demorar muito para autorizar as empresas", avalia Guimar�es.

Segundo a ag�ncia, a expectativa � de que os primeiros pedidos de regulariza��o de autotestes devem chegar na semana que vem. Nesses processos, as empresas dever�o apresentar dados que mostrem a efic�cia e seguran�a dos produtos que elas desejam vender no pa�s.

Ainda n�o se sabe qual ser� o valor do teste nas farm�cias. Normalmente, quem define o pre�o m�ximo de um medicamento ou produto m�dico � a C�mara de Regula��o do Mercado de Medicamentos (CMED), �rg�o interministerial respons�vel pela regula��o econ�mica do mercado de medicamentos no Brasil - a Anvisa exerce o papel de secretaria-executiva da CMED.

Durante a sess�o na Anvisa, o diretor da ag�ncia, Romisson Rodrigues Mota, lembrou que o governo espanhol estabeleceu em 2,94 euros o pre�o m�ximo dos kits de autotestes no pa�s. O valor � equivalente a R$ 17,6. N�o h�, no entanto, indica��o de que o pre�o no pa�s possa estar nessa faixa.

Como funciona o autoteste?

No autoteste, o usu�rio faz a coleta de material (que pode ser a saliva ou de l�quido da cavidade nasal) com uma esp�cie de cotonete, coloca ela em um recipiente com reagente e depois despeja essa solu��o em uma esp�cie de caixa onde o resultado � exibido. Em geral, o resultado sai entre 10 e 20 minutos.

- Esse teste � o igual ao RT-PCR?

N�o. Os autotestes liberados pela Anvisa s�o do tipo que detecta se o usu�rio tem ant�genos do coronav�rus. Segundo o Minist�rio da Sa�de, os autotestes devem ter sensibilidade acima de 80%. Apesar de serem considerados seguros e precisos, os testes considerados "padr�o-ouro" s�o os RT-PCR.

- O que fazer se o resultado for positivo?

A orienta��o do Minist�rio da Sa�de � que o usu�rio procure uma unidade de sa�de mais pr�xima ou o teleatendimento para que seja feita a confirma��o do diagn�stico. � nesse momento que, se o diagn�stico for confirmado, o caso ser� devidamente notificado �s autoridades sanit�rias. Nessas situa��es, a orienta��o � que o paciente entre em isolamento imediatamente.

- O que fazer se o resultado for negativo?

Aqui, a orienta��o vai depender se o usu�rio tem ou n�o tem sintomas. Caso ele n�o tenha sintomas da doen�a, a orienta��o � observar se eles surgir�o ou n�o. Se o exame der negativo, mas o usu�rio sabidamente teve contato recente com pessoas diagnosticadas com covid-19, a orienta��o � que ele fa�a um exame RT-PCR.

Para os usu�rios que est�o com sintomas, mas o teste deu resultado negativo, a orienta��o � que ele fa�a um novo teste ou procure uma unidade de sa�de para avalia��o.

- O resultado negativo do autoteste poder� ser usado para embarque em voos internacionais?

N�o. Segundo o diretor da Anvisa, Alex Campos Machado, o resultado negativo apontado em um autoteste n�o poder� ser utilizado pelo usu�rio como comprovante de que n�o est� infectado para o embarque em voos internacionais para pa�ses que exigem esse tipo de comprova��o.

- O resultado positivo do autoteste vai ser suficiente para obter licen�a ou afastamento m�dico?

N�o. Segundo a Anvisa, a licen�a ou o afastamento m�dico em decorr�ncia da covid-19 s� podem ocorrer ap�s an�lise de um profissional de sa�de.

- Empresas poder�o comprar autotestes e distribuir aos funcion�rios?

Sim. Segundo a Anvisa, n�o h� nenhuma restri��o para que empresas fa�am a distribui��o de autotestes para seus funcion�rios.

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