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Estado de Minas BBC

Como o c�rebro doado de mulher ajudou a condenar marido assassino

Ian Stewart afirmou que sua esposa Diane morreu enquanto colocava a roupa para lavar. Na verdade, ela foi assassinada


11/02/2022 22:16 - atualizado 11/02/2022 22:16

Diane Stewart
Diane Stewart trabalhava em escolas do ensino b�sico na Inglaterra (foto: Contributed)
Depois que sua esposa Diane morreu em suposta decorr�ncia de epilepsia em 2010, o ingl�s Ian Stewart deu seu consentimento para preservar partes de seu c�rebro para a medicina. Nesta semana, o c�rebro doado ajudou a condenar Stewart pelo assassinato de Diane.

 

Como a ci�ncia ajudou a pegar um assassino?

 

Quando perguntamos � vizinha de Diane Stewart, Vanessa Easton, sobre sua amiga morta, ela come�ou a nos contar hist�rias da secret�ria sorridente, carinhosa e extrovertida que trabalhava em escolas locais.

 

"Ela era uma pessoa realmente ador�vel com quem qualquer um podia conversar", diz Vanessa, que morava desde 1993 em frente aos Stewarts em Poplar Farm Close, em um vilarejo de Cambridgeshire, no leste da Inglaterra.

As amigas muitas vezes cuidavam dos gatos uma da outra quando estavam de f�rias e frequentavam a queima anual de fogos de artif�cio do bairro juntas.

 

"[Eles] pareciam uma fam�lia perfeita e feliz", diz Vanessa sobre os Stewarts.

 

"Era t�o �bvio o quanto eles amavam seus garotos. Diane era t�o orgulhosa de seus garotos."

 

Mas em 25 de junho de 2010 tudo mudou.

 

De acordo com Stewart, ele voltou para casa de uma viagem e encontrou sua esposa desmaiada depois de lavar a roupa em casa. Mais tarde, ela foi declarada morta.

As primeiras suspeitas

Um inqu�rito no final daquele ano concluiu que Diane, de 47 anos, havia sofrido uma morte s�bita por epilepsia, que mata cerca de 600 pessoas a cada ano.

 

Embora Diane n�o tivesse sofrido nenhum ataque de epilepsia nos �ltimos 18 anos, ningu�m suspeitou sobre os motivos de sua morte.

 

Suspeitas come�aram a surgir somente seis anos depois, ap�s a morte de uma segunda mulher — a noiva de Stewart, a autora de livros infantis Helen Bailey.

 

Ian drogou e sufocou Helen, como parte de seu plano de herdar uma fortuna de quase 4 milh�es de libras (R$ 28 milh�es) e jogou seu corpo em uma fossa embaixo de sua casa.

 

Condenado pelo assassinato de Helen em 2017, a pol�cia voltou sua aten��o para a morte de Diane.

 

Mas essa investiga��o enfrentou obst�culos enormes.

 

O corpo de Diane havia sido cremado. Al�m disso, testes toxicol�gicos completos n�o haviam sido realizados durante a aut�psia em 2010.

 

A �nica an�lise de drogas realizada foi em rela��o a um medicamento antiepilepsia.

 

Stewart foi quem decidiu cremar o corpo da esposa. Durante o julgamento pela morte de Diane, ele foi acusado pelos promotores de ter cremado o corpo "para que n�o houvesse nada que pudesse vir � tona para incrimin�-lo".


Det Supt Jerome Kent
O detetive Jerome Kent disse que n�o teria sido poss�vel condenar Ian sem a evid�ncia do c�rebro (foto: Kate Bradbrook/BBC)

No entanto, os detetives seguiram um caminho bastante incomum. Diane havia doado seu c�rebro para pesquisas m�dicas, com o consentimento de Stewart.

 

Sem esse consentimento, esta prova fundamental teria sido destru�da.

 

O detetive Jerome Kent, da Unidade de Crimes Graves de Bedfordshire, Cambridgeshire e Hertfordshire, descobriu que o c�rebro de Diane n�o havia sido usado por estudantes de medicina e estava armazenado em um hospital.

Ele disse que ter essa pista era "absolutamente fundamental — sem isso, n�o ter�amos sido capazes de garantir a condena��o".

 

"Tamb�m era importante lembrar que se ela tivesse morrido de causas naturais, quer�amos poder dizer � fam�lia que suas suspeitas eram infundadas".


Prof Colin Smith
O professor Colin Smith disse que o uso do tecido cerebral armazenado em uma investiga��o de assassinato foi algo "muito, muito incomum, se n�o excepcional" (foto: BBC)

Usar o tecido cerebral armazenado como parte de uma investiga��o � extremamente incomum, diz o neuropatologista Colin Smith, da Universidade de Edimburgo.

 

"Eu nunca havia me deparado com essa situa��o antes", disse ele.

 

"Quando os c�rebros s�o doados para n�s, sabemos o que h� de errado com um indiv�duo, ent�o n�o h� necessidade real de a pol�cia investigar esses casos."

 

Cientistas e patologistas foram convidados a reexaminar o tecido cerebral de Diane.

 

O professor Safa Al-Sarraj, neuropatologista consultor do King's College Hospital, disse ao j�ri que encontrou "mudan�as no c�rebro [...] consistentes com isquemia precoce", algo que ele definiu como "dano �s c�lulas devido � falta de suprimento de oxig�nio e sangue".

 

Ele disse que n�o esperaria encontrar qualquer evid�ncia de isquemia em "um humano saud�vel". Mas sinais assim podem ser detectados se uma pessoa morre ap�s sofrer de respira��o "restrita" por "mais de 30 minutos".


Poplar Farm Close sign
Os Stewarts viviam em Poplar Farm Close em Cambridgeshire (foto: BBC)

Outro especialista que testemunhou no julgamento, o neuropatologista Kieren Allinson, n�o encontrou "nenhuma evid�ncia positiva de uma convuls�o recente", embora tenha acrescentado que isso n�o significa que n�o tenha acontecido morte s�bita por epilepsia.

Sinais de estresse

O patologista do Minist�rio do Interior, Nat Cary, que prestou depoimento no julgamento do assassinato de Helen Bailey em 2017, disse que morte s�bita por epilepsia � uma entre outras hip�teses sobre o que poderia ter matado Diane.

 

Segundo ele, existe a possibilidade de "sufocamento ou interfer�ncia na mec�nica da respira��o ou algum tipo de uso de drogas".

 

Cary disse ao j�ri que esperava ver ferimentos do lado de fora do corpo de algu�m caindo no concreto durante um ataque. N�o havia nenhum, disse ele.

 

No momento da morte de Diane, Stewart ligou para o n�mero de emerg�ncia.

 

"Minha esposa teve um ataque. Ela est� no jardim", disse ele ao operador.

 

Perguntado se sua esposa estava respirando, ele respondeu: "N�o, acho que n�o, n�o".

 

O vizinho Victor Nickson ajudou os param�dicos da ambul�ncia a�rea chegarem at� a casa dos Stewarts.

 

"Eu os vi fazer um polegar para baixo e balan�ar a cabe�a negativamente em resposta �s perguntas dos param�dicos. A reanima��o cardiopulmonar parou", disse ele.

"Um dos param�dicos abra�ou [Stewart], que estava mostrando sinais de estresse e preocupa��o."


Vanessa Easton
Vanessa Easton era vizinha e amiga de Diane (foto: Kate Bradbrook/BBC)

Ap�s a morte de Diane, Stewart seguiu em frente com sua vida. Ele comprou um carro esportivo antes de iniciar um relacionamento com Helen Bailey.

 

Em abril de 2016, Stewart relatou o desaparecimento da nova namorada. Tr�s meses depois, o corpo da mulher foi encontrado na fossa "fedorenta" ao lado do cad�ver de seu c�o.

 

O marido de Vanessa, Paul, disse que "os eventos que foram revelados durante [essa] investiga��o ... pareciam completamente bizarros".

 

Ele acrescentou: "Eu n�o esperava que ele tivesse matado algu�m".

 

At� hoje, nenhuma motiva��o real para o assassinato de Diane surgiu. Vanessa n�o consegue entender por que ele faria o que fez.

 

"Ian tinha tanta coisa. Ele tinha uma fam�lia amorosa. Ele tinha uma vida maravilhosa. Ele s� n�o sabia o qu�o sortudo ele era e as pessoas dariam tudo para estar em sua posi��o com uma esposa muito feliz e amorosa."

 

"Ela era t�o orgulhosa de sua fam�lia. Ent�o, por que jogar tudo fora? Por que fazer isso? Como voc� p�de fazer isso com uma mulher t�o amorosa e uma pessoa t�o ador�vel? Como voc� p�de fazer isso com seus dois meninos lindos? Isso simplesmente n�o faz sentido."

 

Seis anos depois, Stewart matou sua outra parceira.

 

Helen Bailey escreveu mais de 20 livros, incluindo a s�rie adolescente Electra Brown, mas perdeu o marido John Sinfield em 2011 durante um feriado em Barbados. Ele morreu afogado.

 

Ela e Stewart se conheceram atrav�s de um site de luto. Come�aram a namorar, compraram uma casa juntos e planejavam se casar.

 

"Na hora da morte de Diane n�o havia nada para suspeitar que Ian fosse o respons�vel ou que ela tivesse morrido em suas m�os", diz o detetive Kent

"Ele teria se livrado de matar Diane Stewart se n�o fosse pela investiga��o em torno de Helen Bailey."

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