
No fechamento, a cota��o do barril suavizou um pouco a alta e ficou em US$ 99,08.
Ao mesmo tempo, os valores dos contratos de trigo e milho negociados na bolsa de Chicago chegaram a subir mais de 5% antes da abertura do mercado e atingiram o limite de alta ap�s o in�cio das negocia��es, que por conta disso foram temporariamente interrompidas.
Com a alta do milho e preocupa��es tamb�m com rela��o ao mercado de �leo de girassol - do qual a Ucr�nia � o maior produtor do mundo - a soja tamb�m estava em alta no preg�o desta quinta.
At� o d�lar, que havia fechado a quarta-feira cotado a R$ 5, no menor valor desde junho de 2021, inverteu a tend�ncia, e j� � negociado acima dos R$ 5,10.
O combo formado por petr�leo, gr�os e d�lar em alta, resultado da escalada da crise ucraniana, torna ainda mais complicado o cen�rio para a infla��o no Brasil em 2022.
Segundo analistas, o movimento pode resultar em alta dos combust�veis, dos custos industriais e de alimentos b�sicos como p�o e carnes, j� que os gr�os como milho e soja s�o utilizados na ra��o animal.
A magnitude dos reajustes, no entanto, vai depender da dura��o e da gravidade da crise no leste da Europa, j� que os agentes do mercado devem se manter em espera durante esse primeiro momento de forte volatilidade, para aguardar os desdobramentos da guerra.
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O choque internacional acontece num momento em que as coisas j� n�o iam bem para a infla��o brasileira.
Na quarta-feira, o IPCA-15, pr�via da infla��o de fevereiro, surpreendeu com uma alta de 0,99%, acima das expectativas dos analistas (0,87%) e maior resultado para o m�s desde 2016, com alta de pre�os maiores do que o esperado em servi�os e bens dur�veis, como autom�veis, eletroeletr�nicos, eletrodom�sticos e m�veis.
Com as novas incertezas, as expectativas para o IPCA (�ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo), medida oficial de infla��o do pa�s, devem continuar em alta.
Na segunda-feira, os analistas previam avan�o de 5,56% para o IPCA em 2022, ap�s seis semanas de revis�es para cima da mediana das proje��es no boletim Focus do Banco Central, que semanalmente consulta os economistas quanto �s suas estimativas para a economia.
Com os cen�rios internacional e inflacion�rio mais turvos, o Banco Central tem um desafio a mais para definir os rumos da pol�tica monet�ria brasileira.
A maioria dos agentes v� a Selic (taxa b�sica de juros da economia brasileira) indo a 12,25% at� maio, mas com a surpresa negativa do IPCA-15 na quarta, j� h� quem enxergue a taxa indo a 12,75%, caso por exemplo do banco Credit Suisse. Atualmente, a taxa est� em 10,75%.
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Petr�leo acima de US$ 100
Os pre�os do petr�leo do tipo Brent superaram os US$ 104 por barril durante as negocia��es desta quinta-feira, enquanto o WTI (refer�ncia do mercado americano) se aproximou dos US$ 100.
A R�ssia � o segundo maior exportador do �leo no mundo, atr�s apenas da Ar�bia Saudita, e o terceiro maior produtor. Tamb�m � o principal exportador e segundo maior produtor de g�s natural, respondendo por 41% do g�s importado pela Uni�o Europeia.
Assim, uma guerra envolvendo o pa�s provoca temores quanto � oferta desses insumos no mundo, num momento em que a produ��o de petr�leo e g�s j� vinham sendo insuficiente para acompanhar o aumento global da demanda.
"Esse ano, independentemente da guerra na Ucr�nia, j� seria um ano de petr�leo caro, porque a oferta est� crescendo menos do que a demanda, pois nos �ltimos cinco a seis anos, os grandes produtores internacionais investiram muito pouco em explora��o e produ��o, devido �s press�es ambientalistas e � pandemia", observa Adriano Pires, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura).
Com uma Opep (Organiza��o dos Pa�ses Exportadores de Petr�leo) empoderada pela restri��o de oferta, a expectativa inicial j� era do barril na casa dos US$ 90. Com a guerra na Ucr�nia, formou-se a "tempestade perfeita" para ir acima dos US$ 100.
Pires observa, por�m, que a alta de pre�os do petr�leo n�o � de todo negativa para o Brasil, j� que o pa�s � produtor do �leo e um pre�o mais alto do barril aumenta a arrecada��o de impostos pelo governo federal, Estados e munic�pios.
Por outro lado, como a Petrobras reajusta os combust�veis seguindo o movimento dos pre�os internacionais do petr�leo, o analista reconhece que o reajuste deve ser inevit�vel nas pr�ximas semanas, mesmo com a recente valoriza��o do real, que serve como um contrapeso.
"A Petrobras est� h� 43 dias sem reajustar combust�veis. A coisa boa nesse per�odo � que o c�mbio valorizou, chegou a bater abaixo de R$ 5. Isso ajuda que a defasagem [de pre�os do mercado interno com rela��o ao internacional] fique menor, por outro lado o petr�leo est� subindo", observa.
"Mas, num momento de forte instabilidade do petr�leo e do d�lar, a Petrobras n�o deve sair anunciando um aumento agora, deve esperar para ver como fica a guerra, para ver qual ser� o novo patamar de pre�os", afirma.
Segundo Pires, a press�o nos pre�os internacionais do petr�leo pode acelerar a tramita��o no Senado de tr�s projetos relacionados ao mercado de combust�veis: o PLP 11/2020, que determina al�quota unificada para o ICMS sobre combust�veis; o PL 1.472/2021, que cria uma conta para financiar a estabiliza��o dos pre�os; e a PEC 1/2022, apresentada pelo senador Carlos F�varo (PSD-MT), que prop�e a redu��o de impostos sobre combust�veis. Os dois primeiros t�m vota��o prevista para depois do Carnaval.
Pires, no entanto, n�o acredita em alguma interven��o mais dura do governo na pol�tica de pre�os da Petrobras, mesmo diante das reiteradas mostras de preocupa��es do presidente Jair Bolsonaro (PL) com a alta dos combust�veis num ano eleitoral.
"Acredito que o �nico cen�rio em que o governo tomar� uma posi��o intervencionista � se o barril for a US$ 150, US$ 200. Mas da� n�o ser� apenas o governo brasileiro, o mundo inteiro dever� impedir que isso chegue ao consumidor, porque � impag�vel", diz o analista.
Trigo, milho e soja em alta
R�ssia e Ucr�nia s�o respectivamente o primeiro e o quinto maiores exportadores de trigo do mundo e respondem juntos por mais de 15% do com�rcio global de milho, o que explica a forte alta das duas commodities agr�colas nesta quinta-feira.
"Pelo menos nos pr�ximos dias, os pre�os devem se manter pressionados, at� que se tenha uma defini��o do que realmente vai acontecer", avalia Roberto Sandoli, analista de gr�os da consultoria hEDGEpoint.
Segundo ele, se as retalia��es � invas�o russa se restringirem a san��es, essa tend�ncia de alta pode perder for�a.
Mas, se a Otan (Organiza��o do Tratado do Atl�ntico Norte) decidir enviar tropas � Ucr�nia, no que vem sendo considerado um cen�rio de uma "Terceira Guerra Mundial", a press�o tende a se perpetuar.
Sandoli explica que o Brasil compra trigo da Argentina, pa�s que fornece o produto a regi�es tamb�m abastecidas por R�ssia e Ucr�nia, como o sul da �sia e o norte da �frica.
"Se tivermos um cen�rio de guerra onde R�ssia e Ucr�nia parem de fornecer trigo, os compradores v�o buscar outras origens, como a Argentina. Isso acaba impactando toda a precifica��o de importa��o e deixa o c�mbio mais estressado", observa o analista, destacando ainda a press�o sobre o mercado de soja, devido � competi��o do produto com o �leo de girassol, do qual a Ucr�nia � o maior exportador global.
"Se essa situa��o se estender, o consumidor vai come�ar a sentir", diz Sandoli, destacando os impactos sobre a ra��o animal e sobre a produ��o de p�es e massas aliment�cias.
Segundo o analista, se a crise escalar ainda mais, a press�o para os consumidores pode vir n�o s� via pre�o, mas tamb�m via abastecimento.
"Os compradores come�am a sair correndo, por uma quest�o de seguran�a alimentar. Todo mundo sai comprando. J� vimos isso no come�o da pandemia, quando os pre�os subiram absurdamente", observa o especialista, ponderando, por�m, que n�o considera esse o cen�rio mais prov�vel no momento atual.
No Brasil, soma-se a esse quadro internacional estressado as quebras de safra de soja e milho no Sul do pa�s devido � seca neste in�cio de ano.
Por outro lado, a valoriza��o recente do real em rela��o ao d�lar tamb�m ajuda a situa��o do mercado de alimentos. Isso porque, com o real mais forte, fica mais barato para o Brasil importar commodities, mesmo que elas estejam mais caras devido �s poss�veis restri��es de oferta.
Ainda no campo do agroneg�cio, outro fator de preocupa��o s�o os fertilizantes, j� que o Brasil importa mais de 20% desses produtos da R�ssia. Tamb�m aqui uma restri��o de oferta no mercado global em decorr�ncia da guerra pode pressionar os custos dos produtores brasileiros, for�ando-os a repassar a press�o aos pre�os.
E a infla��o e os juros com tudo isso?
Para Andr� Braz, coordenador �ndices de pre�os no Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Getulio Vargas), o reajuste de combust�veis pela Petrobras � inevit�vel e deve afetar a infla��o este ano.
"A gente concentra muito as an�lises em combust�veis, mas � preciso lembrar que o petr�leo � mat�ria-prima para v�rios setores, para a ind�stria qu�mica, para o agroneg�cio devido aso fertilizantes. Ent�o o pre�o do petr�leo afeta a economia como um todo, num momento em que j� t�nhamos diversas cadeias produtivas com gargalos de produ��o", observa Braz.
"Essas cadeias podem agora sofrer gargalos ainda mais profundos, � medida que essa guerra se aprofunde e os pa�ses n�o entrem num acordo", avalia.
Al�m disso, o cen�rio de guerra muda a estrat�gia dos investidores internacionais e pode p�r fim � movimenta��o recente de valoriza��o do real, o que tamb�m pode pressionar os pre�os.
"O fluxo de entrada de recursos aqui, que era mais capital especulativo, tentando explorar o diferencial de juros, pode agora buscar destinos de maior prote��o, como economias mais s�lidas", afirma Braz.
"Ent�o n�o necessariamente esse fluxo vai continuar e nossa moeda pode n�o manter a valoriza��o acumulada no per�odo recente."
O pesquisador da FGV avalia, no entanto, que esse aumento das press�es inflacion�rias n�o necessariamente vai fazer o Banco Central brasileiro subir mais juros. Isso porque, a partir de um determinado n�vel, os juros imp�em uma paralisa��o muito forte da economia.
Al�m disso, o crescimento global tamb�m pode ser comprometido pela guerra na Europa, o que pesaria sobre a atividade econ�mica interna.
"H� um limite para o que a pol�tica monet�ria pode fazer, porque um juro cada vez mais alto significa crescer cada vez menos esse ano", diz Braz, lembrando ainda que os juros visam conter a demanda, mas grande parte da press�o atual de pre�os vem da ponta da oferta, n�o sendo afetada por aumentos adicionais da Selic.
"N�o adianta querer botar a Selic a 12,75% por conta dessa guerra, at� porque aumentos da taxa b�sica levam de seis a nove meses para afetarem a economia. Ent�o, se eu aumento muito, esse aumento n�o vai bater agora, mas l� no fim do ano, quando o cen�rio j� ser� outro", conclui o analista.
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