Em meio a tantas not�cias sobre bombardeios e ataques, um aspecto relevante sobre a guerra na Ucr�nia tem passado despercebido por muitas an�lises: o conflito acontece em meio � pandemia de covid-19, doen�a que acometeu 5 milh�es e matou 112 mil cidad�os deste pa�s localizado no leste da Europa.
Uma preocupa��o constante das ag�ncias internacionais de sa�de � a falta de equipamentos e medicamentos essenciais para garantir a sobreviv�ncia dos pacientes com covid em estado mais grave, como o oxig�nio.
Em sites que compilam estat�sticas sobre a crise global de sa�de p�blica, como o Our World In Data, criado na Universidade de Oxford, no Reino Unido, as atualiza��es sobre os n�meros de casos e mortes por covid na Ucr�nia ficaram paralisados por uma semana a partir de 24 de fevereiro, dia em que as for�as militares russas cruzaram as fronteiras e come�aram a invadir o territ�rio vizinho.
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Naquele momento, a Ucr�nia parecia estar saindo de uma quarta onda de casos e mortes relacionadas � variante �micron do coronav�rus. Em 9 de fevereiro, o pa�s bateu o recorde de novas infec��es, com o registro de 37 mil novos diagn�sticos em 24 horas, como voc� confere nos gr�ficos a seguir.
Desde ent�o, esse n�mero est� em queda e bateu os 26,7 mil em 24/2. No dia 3 de mar�o, as notifica��es voltaram a ser atualizadas, mas � esperado que os sistemas de vigil�ncia do pa�s tenham enfrentado muitos problemas e os n�meros n�o representem 100% a realidade.
Na Ucr�nia, o pico di�rio de mortes aconteceu em novembro de 2021, com 712 �bitos por covid em 12/11.
Na atual onda da �micron, a curva de mortalidade segue num patamar mais baixo, a exemplo do que � observado em outros pa�ses do globo, embora ela ainda n�o tenha mostrado sinais de descenso at� 24 de fevereiro, quando as notifica��es sobre o pa�s tiveram uma pausa de uma semana nos reposit�rios internacionais.
Falta de recursos
Al�m do "apag�o" de dados sobre a pandemia nessa primeira semana de guerra, entidades internacionais chamam a aten��o para a escassez de insumos b�sicos para tratar os pacientes mais cr�ticos.
No dia 27 de fevereiro, a Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) soltou um primeiro alerta sobre o assunto, dizendo que "o suprimento de oxig�nio est� chegando num ponto muito perigoso na Ucr�nia".
"Caminh�es n�o conseguem mais transportar os tanques de oxig�nio das f�bricas at� os hospitais espalhados por todo o pa�s, incluindo para a pr�pria capital Kiev", informa a entidade, por meio de uma nota publicada em seu site.
"A maioria dos hospitais pode ficar sem reservas de oxig�nio em 24 horas, o que coloca milhares de vidas em risco", continua o texto.
A OMS calcula que entre 1,7 mil e 2 mil ucranianos estejam internados com covid no momento e possam necessitar do oxig�nio.
A organiza��o tamb�m lembrou que esse insumo n�o serve apenas para quem apresenta complica��es da infec��o pelo coronav�rus, mas tamb�m � prescrito para outros quadros cr�ticos, que acometem desde beb�s rec�m-nascidos at� idosos.
Numa coletiva de imprensa realizada no dia 2 de mar�o, representantes da entidade voltaram a bater nessa mesma tecla.
"Pelo menos tr�s importantes f�bricas de oxig�nio da Ucr�nia est�o fechadas agora e n�s estamos buscando maneiras de trazer esse insumo de pa�ses vizinhos para entregar nos locais onde ele est� em falta", detalhou o bi�logo et�ope Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
O l�der da entidade ainda destacou que h� uma "necessidade urgente" de estabelecer rotas para que esses suprimentos m�dicos sejam transportados pelas regi�es onde o conflito se desenrola.
Na segunda rodada de discuss�es entre representantes russos e ucranianos, que ocorreu em 3/3, um dos consensos foi a cria��o de "corredores humanit�rios", que podem proteger os refugiados e garantir a chegada dos suprimentos m�dicos aos locais onde eles s�o mais urgentes.

O m�dico irland�s Mike Ryan, diretor-executivo do Programa de Emerg�ncias em Sa�de da OMS, tamb�m refor�ou a urg�ncia do assunto.
"Oxig�nio � um insumo que salva vidas. E quando voc� precisa dele, � para agora. N�o d� pra esperar at� amanh� ou a pr�xima semana. N�o existe uma 'lista de espera' para oxig�nio."
"Se o oxig�nio e outros medicamentos cr�ticos n�o estiverem dispon�veis, as pessoas v�o morrer desnecessariamente", completou.
O que diz o governo da Ucr�nia
No site do Minist�rio da Sa�de ucraniano, os conte�dos de maior destaque est�o relacionados � urg�ncia da guerra e dos riscos relacionados aos ataques e bombardeios.
� poss�vel ler textos informativos, por exemplo, sobre o que os cidad�os devem fazer quando ouvirem sirenes, como preparar um kit b�sico de primeiros socorros ou como se proteger durante tiroteios com armas leves e artilharia pesada.
Entre os destaques da p�gina inicial, h� tamb�m um guia da OMS sobre como desenvolver "habilidades importantes em tempos de estresse" e um apelo para que profissionais de sa�de estrangeiros venham ajudar durante a crise.
Num comunicado � imprensa divulgado em 3 de mar�o, o minist�rio agradece a solidariedade internacional e informa que mais de 500 m�dicos, enfermeiros e param�dicos de Uni�o Europeia, Reino Unido, Su��a, Turquia, Azerbaij�o, Israel, Estados Unidos, Canad�, Austr�lia, Nova Zel�ndia, �frica do Sul, �ndia, Jord�nia, Brasil e outras na��es j� se voluntariam para trabalhar nos hospitais ucranianos.
Mais especificamente sobre a covid e a falta de insumos b�sicos, o governo afirmou em 2 de fevereiro que havia realizado novas entregas aos hospitais a situa��o do suprimento de oxig�nio estava "sob controle" naquele momento.
"Gostar�amos de informar que os parceiros de log�stica est�o trabalhando, mas os prazos, infelizmente, s�o ajustados em fun��o das a��es agressivas das tropas da Federa��o Russa", escreveram os representantes do minist�rio.

O que dizem as institui��es internacionais
Al�m da OMS e do pr�prio governo ucraniano, diversas outras entidades de sa�de se manifestaram nos �ltimos dias sobre a guerra na Ucr�nia.
Os M�dicos Sem Fronteiras, por exemplo, declararam que suas equipes em solo ucraniano est�o "profundamente preocupadas com as consequ�ncias do conflito para o povo e as comunidades".
A entidade ainda afirmou que est� conduzindo atividades de resposta emergencial n�o apenas nas cidades onde acontecem os conflitos, mas tamb�m em Pol�nia, Mold�via, Hungria, Rom�nia e Eslov�quia, os pa�ses que est�o recebendo os refugiados ucranianos.
J� o Comit� Internacional da Cruz Vermelha est� adotando uma estrat�gia semelhante e diz que "continuar� perto das comunidades afetadas, para ajud�-las a lidar com as necessidades b�sicas e a prepara��o necess�ria para esses tempos desafiadores".

De acordo com a Organiza��o das Na��es Unidas (ONU), mais de 1 milh�o de cidad�os da Ucr�nia tiveram que deixar suas casas nos �ltimos dias em raz�o da guerra.
E esse deslocamento massivo tamb�m traz outras preocupa��es relacionadas � pandemia: ainda n�o se sabe ao certo o impacto que essa locomo��o de tantos indiv�duos num curto espa�o de tempo pode ter na transmiss�o do coronav�rus nas regi�es fronteiri�as e nos pa�ses vizinhos.
At� 24/2, apenas 36% dos ucranianos haviam recebido ao menos uma dose da vacina contra a covid, segundo os �ltimos registros dispon�veis no site Our World In Data.
Resta saber como os pa�ses e os organismos internacionais v�o se organizar para evitar o m�ximo poss�vel a cria��o de novas cadeias de transmiss�o do coronav�rus na regi�o e garantir o acesso � vacina��o e aos servi�os de sa�de a todos os refugiados.
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