(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas DRAMA NA PANDEMIA

'Procurei minha irm� por 30 anos, mas a COVID a levou'

Quando crian�a, Steve Ellis descobriu um segredo de fam�lia e, 60 anos depois, a descoberta levou a uma amizade inesperada


20/05/2022 08:03 - atualizado 20/05/2022 10:59


Steve Ellis
Steve Ellis procurou a irm� por muitos anos (foto: BBC)

No ver�o de 1988, Steve Ellis recebeu uma not�cia chocante que afetaria sua vida por mais de 30 anos e levaria a uma amizade inesperada.

Ellis estava trabalhando nos escrit�rios londrinos da revista feminina Bella, quando uma carta chegou para ele. O envelope tinha um carimbo postal de Halifax, no Reino Unido, e Steve reconheceu a caligrafia imediatamente - era de sua m�e.

"Querido Stephen, n�o tenho orgulho do meu passado e, �s vezes, ainda d�i muito", come�ava a carta.

"Acredite, ningu�m sabe da ang�stia que passei por muitos anos. As pessoas perdoaram a mim e a ele pelo que fizemos, mas posso dizer que o mais dif�cil � perdoar a si mesmo."

Steve, um dos editores fundadores da revista, tinha 37 anos quando recebeu a carta. Ele foi criado como filho �nico por sua m�e solo, Dorothy. Mas em sua carta, Dorothy revelou que ela tamb�m deu � luz outra crian�a - uma menina nascida dois anos depois de seu filho.

Steve e sua irm� tinham o mesmo pai, escreveu Dorothy, mas ele era casado e tinha sua pr�pria fam�lia.

"Foi a primeira vez que ela mencionou que teve outro filho", diz Steve. "Isso estourou uma bolha de sil�ncio, de algo n�o dito entre m�e e filho."

"Stephen, por favor, me perdoe pelo passado, pois n�o consigo explicar o desgosto que foi para mim", escreveu Dorothy. "Eu te amo muito."

Embora a carta de sua m�e tenha sido um choque, Steve n�o ficou surpreso ao saber que ele tinha uma irm�. Na verdade, ele havia descoberto o segredo de sua m�e mais de 25 anos antes, quando um dia encontrou um ma�o de cartas no quarto dela.


Steve Ellis e sua mãe em uma foto em preto e branco
Steve, com cerca de 10 anos, com sua m�e, Dorothy, por volta de 1961 (foto: BBC)

Entre os documentos estava uma certid�o de nascimento de uma pessoa chamada Susan Ellis, nascida em dezembro de 1953 - dois anos depois dele.

"Fiquei t�o surpreso. Senti que eu n�o era a �nica pessoa no mundo", diz Steve.

Tamb�m havia cartas da Sociedade de Ado��o Ashton-under-Lyne, que diziam coisas como: "Sentimos muito por sua a��o", "Este � um ato muito pecaminoso" e "Espero que sua fam�lia a perdoe".

Steve, na �poca com 10 anos, sabia o que significava ado��o, mas havia outras palavras que ele n�o entendia, e descobrir os segredos de sua m�e o fez se sentir culpado. Ele nunca disse uma palavra � m�e sobre o que havia encontrado.

No dia seguinte ao recebimento da carta, Steve foi de carro encontrar a m�e no apartamento dela em Halifax. Em meio �s l�grimas, Dorothy contou a ele como havia amamentado sua filha por 10 semanas em casa, antes de lev�-la embora.

"Um segundo filho 'ileg�timo', nascido em uma casa geminada de dois quartos com sete ocupantes era demais para ela", diz Steve.

Na �poca, ele e a m�e moravam com os pais de Dorothy e tr�s ou quatro irm�os dela. A av� de Steve era faxineira, enquanto seu av� alimentava caldeiras em uma f�brica de tapetes. Dorothy n�o tinha emprego e eles simplesmente n�o podiam se dar ao luxo de alimentar outra boca.

Dorothy vivia com um "horr�vel fardo de culpa", ela disse a ele, al�m de ter que suportar o estigma de ser uma m�e solo que doou um de seus filhos. Tinha sido dif�cil encontrar trabalho porque muitos empregadores n�o aceitavam m�es solteiras, e alguns dos amigos de Dorothy n�o falavam com ela h� anos.

"As pessoas atravessaram a rua e se recusavam a falar com ela porque ela teve um filho ileg�timo", diz Steve. "Ela era uma mulher rejeitada."

Steve sempre se perguntou sobre o paradeiro de sua irm� Susan. Ele perguntou a Dorothy se ela gostaria que ele tentasse encontr�-la, e sua m�e disse que sim.


Steve Ellis, em 1960
Steve sempre pensou que era filho �nico, at� que descobriu um segredo de fam�lia aos 10 anos (foto: BBC)

Em poucos dias, Steve estava preenchendo formul�rios em um servi�o p�blico para localizar pessoas no Reino Unido. Ele entrou em contato com advogados, falou com uma ag�ncia de detetives particulares e at� colocou um an�ncio no jornal Manchester Evening News com um palpite de que Susan estava morando naquela �rea.

"N�o recebi nenhuma resposta", diz Steve.

Com o passar dos anos, Steve muitas vezes se perguntava se sua irm� poderia ser uma estranha que passava por ele na rua. Ele ansiava por encontrar Susan, n�o apenas para seu pr�prio bem, mas tamb�m para sua m�e.

"N�o consigo imaginar que houve um dia em que ela n�o tivesse pensado na filha", diz ele.

"De certa forma, � pior do que a morte. Algu�m que voc� deu � luz est� l� fora, mas voc� n�o sabe como ela �, se os pais adotivos foram legais ou desagrad�veis, se ela foi bem-sucedida. Ela est� l�, mas tamb�m n�o est�."

Em 2019, Steve estava com quase 70 anos e se resignou ao fato de que talvez nunca encontrasse sua irm�. Mas durante os anos seguintes, a lei mudou para permitir que ag�ncias intermedi�rias ajudassem a rastrear pessoas separadas por ado��o antes de 30 de dezembro de 2005.

Quando Steve percebeu que essa ajuda estava dispon�vel, ele entrou em contato com uma ag�ncia e contou tudo o que sabia sobre Susan Ellis. Dentro de alguns meses um pesquisador teve not�cias dela.

"Minha irm� estava viva", diz Steve.


Steve Ellis sentado
O dinheiro estava apertado enquanto Steve estava crescendo na Inglaterra (foto: BBC)

O investigador o avisou que teriam que agir com cuidado. Susan podia n�o saber que havia sido adotada. Eles enviaram uma carta delicada e esperaram, mas a resposta de Susan n�o foi a que Steve desejava.

"Ela ficou muito zangada e chocada", diz ele.

Susan havia sido informada pelos pais adotivos de que foi colocada para ado��o ap�s a morte de sua m�e biol�gica. Ela n�o fazia ideia de que tinha parentes vivos - disse que precisava de tempo para considerar a abordagem de seu irm�o.

Steve esperava que Susan voltasse e eles pudessem finalmente construir um relacionamento de irm�os, mas quando mais de cinco meses se passaram sem nenhuma not�cia, ele come�ou a perder a esperan�a.

Em um dia ensolarado de abril, apenas algumas semanas ap�s o primeiro lockdown no Reino Unido por causa da pandemia de covid-19, em 2020, o investigador o procurou novamente. Mas n�o era uma boa not�cia. Susan tinha morrido tr�s dias antes.

"Sentei-me no jardim chorando", diz Steve. "Perdi minha irm�."

O investigador disse a Steve que Graham, o marido de sua irm�, gostaria de falar com ele, e mais tarde naquela noite os dois homens conversaram.

Sarah - cujo nome havia sido mudado quando foi adotada - estava pensando em entrar em contato com Steve, disse Graham, mas sua sa�de estava se deteriorando ap�s uma complicada opera��o de ponte de safena - ela foi internada em um hospital.

"Como estava ficando mais doente, ela foi mais conciliadora e queria fazer contato", diz Steve. "Mas ent�o sua sa�de se deteriorou a ponto de se tornar tarde demais."

Sarah morreu isolada. Oficialmente, a causa da morte foi covid-19.

Em luto, Graham respondeu �s perguntas de Steve sobre Sarah e criou uma imagem da irm� que Steve nunca conheceu. Ela era emotiva, calorosa e amig�vel, disse Graham, e gostava da vida.

"Foram 66 anos de hist�ria condensados %u200B%u200Bem 90 minutos de conversa. Foi incr�vel", diz Steve.


Sarah, irmã de Steve
Esta foto de Sarah, datada da d�cada de 1980, foi a primeira que Steve viu (foto: BBC)

Sarah foi criada por pais adotivos amorosos. Seu pai era diretor de uma escola e eles moravam em uma casa grande e isolada.

"H� uma ironia maravilhosa nisso, desses contrastes na vida dela e na minha", diz Steve. "Fui deixado neste casebre lotado em Halifax, enquanto minha irm� partiu para uma vida bastante luxuosa."

Depois de frequentar uma escola particular, Sarah passou tr�s anos como oficial da RAF (For�a A�rea Real) e depois administrou seu pr�prio caf�.

Alguns dias depois, Graham enviou a Steve uma fotografia de Sarah - a primeira que ele viu.

"Quando apareceu na tela, eu desabei", diz Steve. "Acho que foram 60 anos de emo��o reprimida. Foi a sensa��o mais surpreendente, nunca tive isso antes e nunca mais tive desde ent�o. Ela ganhou vida para mim, embora estivesse morta."

Atrav�s de um link de v�deo a partir da casa onde moravam, Steve e sua esposa puderam ver Graham, sozinho, no cremat�rio no dia do funeral de Sarah. Ent�o os dois homens passaram a se falar por telefone todos os dias, e o v�nculo entre eles cresceu.

Graham convidou Steve para ficar na casa que ele e Sarah tinham compartilhado. Ao passar um tempo com seu marido de 25 anos, vasculhando fotografias e visitando lugares onde ela esteve, Steve se sentiu mais pr�ximo de sua irm� do que nunca.


Steve Ellis, e sua irmã
Steve com cerca de 11 anos e Sarah com cerca de 16 anos (foto: BBC)

Ele descobriu paralelos interessantes tamb�m - ambos tocavam piano de ouvido e adoravam cozinhar - e quando Steve viu algumas das pinturas de Sarah, ficou impressionado com a semelhan�a entre o estilo dela e o dele.

"Voc� n�o seria capaz de dizer se foi ela ou eu quem tinha pintado um quadro", diz ele.

Dorothy, a m�e de Steve, morreu dois anos antes dele encontrar sua irm�, levando sua culpa para o t�mulo. Steve se sente triste por n�o ter sido capaz de tranquilizar sua m�e sobre como as coisas aconteceram para o beb� que ela precisou doar.

"Teria sido maravilhoso se ela soubesse que a filha foi criada por pais gentis e amorosos", diz ele.

Steve � %u200B%u200Bgrato pelo relacionamento com seu cunhado, que cumpriu os desejos de Sarah, tornando poss�vel a "peregrina��o" de Steve para conhecer um pouco sua irm�.

"Eu nunca vou conhec�-la pessoalmente, nunca vou conseguir falar com ela, e isso ser� uma fonte de arrependimento para sempre", diz Steve, que agora tem 70 anos.

"No entanto, eu conheci Sarah depois de sua morte, porque seu marido Graham abriu seu cora��o e sua casa para me permitir descobrir o m�ximo poss�vel sobre minha irm� h� muito perdida - foi um ato de incr�vel generosidade".

Todas as fotos s�o cortesia de Steve Ellis.

Sabia que a BBC est� tamb�m no Telegram? Inscreva-se no canal.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)