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Estado de Minas

Os cientistas que prop�em uma maneira 'mais eficiente' de descobrir e prevenir pandemias

Governos e institui��es v�m destinando milh�es de d�lares a esse tipo de pesquisa. A inten��o � prever qual ser� o pr�ximo pat�geno com potencial de causar uma pandemia.


24/03/2023 19:53 - atualizado 05/05/2023 10:37

Pesquisadores em laboratório
(foto: Getty Images)

Cientistas de todo o mundo est�o visitando o habitat de animais selvagens para estudar os v�rus que circulam em seus corpos.

Governos e institui��es v�m destinando milh�es de d�lares a esta pesquisa. A inten��o � prever qual ser� o pr�ximo pat�geno com potencial de causar uma pandemia.

A origem do Sars-CoV-2 o v�rus causador da covid-19 ainda n�o foi totalmente esclarecida.

Mas as evid�ncias cient�ficas continuam indicando a teoria do transbordamento ("spillover", em ingl�s), segundo a qual um v�rus conseguiu "saltar" de um animal para o ser humano e propagar-se sem controle.

A maioria dos pat�genos prov�m dos animais e a teoria do transbordamento � a base de in�meras pesquisas de vigil�ncia e preven��o.

Mas, para o epidemiologista Gregory Gray, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, destinar tantos recursos a esta ideia � como "procurar uma agulha em um palheiro".

"O transbordamento acontece todo o tempo e muito poucos se transformam em pandemias", segundo o cientista.

Gray e outros especialistas prop�em uma maneira alternativa de vigiar e evitar as pandemias que, de certa forma, desafia nosso pensamento sobre suas origens e como as enfrentamos.

O que �?

Esses cientistas partem do princ�pio de que pesquisar milhares de v�rus em animais � caro e, muitas vezes, ineficiente.

"� interessante do ponto de vista cient�fico, mas realmente n�o acredito que seja poss�vel prever quais deles se tornar�o pandemias", afirma � BBC News Mundo, o servi�o em espanhol da BBC, o bi�logo Stephen Goldstein, da Universidade de Utah, nos Estados Unidos.

Cientistas durante trabalho em campo
Cientistas defendem estrat�gias de pesquisa diferentes para identificar novos v�rus presentes nos seres humanos antes que se propaguem pelo mundo (foto: Getty Images)

Como Gray, Goldstein insiste que os transbordamentos ocorrem a todo momento. Mas a maioria n�o passa do primeiro receptor, segundo ele.

Isso ocorre porque, embora um v�rus seja capaz de adaptar-se a um ser humano, costuma levar tempo muitas vezes, anos e � preciso ter diversos outros transbordamentos para que surja uma variante que se propague com efici�ncia, transformando-se em pandemia. E � neste espa�o de tempo que devemos nos concentrar, segundo estes cientistas.

Se vigiarmos e estudarmos pessoas em contato frequente com animais, como os trabalhadores da agricultura ou comerciantes de animais vivos, especialmente quando eles ficam doentes, podemos identificar os agentes que est�o causando as doen�as, exemplifica Goldstein.

Em vez de procurar milhares de v�rus em animais, observamos aqui o que j� est� transbordando, prossegue ele. N�s confrontamos os v�rus preocupantes porque j� sabemos que eles podem infectar as pessoas.

Esta � a base do nosso argumento, afirma Gray. Reduzir os dados e detectar os pat�genos nos seus primeiros est�gios, quando j� causaram doen�as. A partir da�, podemos criar medidas de interven��o contra os mais amea�adores.

N�o existem muitos estudos nas �ltimas d�cadas que tenham procurado transbordamentos nas pessoas para determinar o quanto eles s�o comuns.

Quando pacientes com pneumonias misteriosas chegam ao atendimento de emerg�ncia, os m�dicos procuram pat�genos conhecidos. Eles n�o conseguem detectar v�rus que n�o tenham sido descobertos. E este � o tipo de caso que os cientistas pedem que sejam mais estudados.

Fechando o cerco

Em videoconfer�ncia, Gray demonstra em um gr�fico os v�rus que provocaram mais mortes no �ltimo s�culo.

Em sua maioria, s�o v�rus respirat�rios. A gripe espanhola de 1918, o SARS em 2003, o H1N1 em 2009 e o SARS-Cov-2 de 2020 s�o alguns exemplos.

Por isso, Gray acredita que podemos fechar o cerco sobre os v�rus mais amea�adores se concentrarmos mais pesquisas nos v�rus respirat�rios.

Eles se propagam, muitas vezes, sem sintomas e n�o conseguimos control�-los muito bem, afirma o cientista. Eles s�o transmitidos antes de podermos isolar os pacientes.

Quando a vigil�ncia da interface entre o ser humano e o animal n�o for poss�vel, uma op��o eficiente � vigiar novos v�rus respirat�rios em pacientes com pneumonia em regi�es de contato frequente com os animais, defende Gray no seu estudo. Se forem descobertos, pode-se avaliar seu risco aos seres humanos e, se for o caso, iniciar as estrat�gias de combate.

Linhagem de d�cadas

Gray argumenta que o extenso estudo dos animais n�o foi capaz de prever a pandemia de covid-19, nem a de influenza A em 2009. Quando surgiram as variantes que se propagaram pelo mundo, j� era tarde.

Mas existem estudos que indicam que o SARS-Cov-2 pode ter esperado d�cadas no corpo de algum animal, antes que surgisse a variante fatal.

Uma pesquisa publicada na revista Nature em 2020 sugere que a linhagem que deu origem ao SARS-CoV-2 pode ter circulado entre morcegos desde cerca de 1969, sem ter sido detectada.

Se for verdade, levou muito tempo para que fosse altamente transmiss�vel entre seres humanos, afirma Gray.

Alguns virologistas diriam que, entre os milhares de coronav�rus, parece que alguns poucos transbordam para os seres humanos. Mas, se vigiarmos os seres humanos expostos a animais e encontrarmos novos v�rus, podemos fazer algo, com base na sua evolu��o biol�gica, antes que eles invadam os atendimentos de emerg�ncia, insiste o especialista.

Homem faz exame de covid pelo nariz
Os testes de diagn�stico em pacientes concentram-se em v�rus conhecidos e, muitas vezes, ignoram novos pat�genos (foto: Getty Images)

Vantagens e desvantagens

Gray reconhece que a teoria defendida por ele tamb�m apresenta riscos.

Se colocarmos todos os recursos nos v�rus respirat�rios, poderemos ignorar outras amea�as, explica ele. � por isso que tamb�m defendemos o desenvolvimento de outras tecnologias, como o sequenciamento paralelo em massa.

O epidemiologista David Heymann, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, concorda que os bancos de dados criados em fun��o do estudo de v�rus animais n�o s�o muito eficazes para a previs�o de pandemias.

Mas ele indica que se um novo v�rus surgir, voc� pode comparar sua sequ�ncia com esse banco de dados, identificar quais animais s�o portadores desse v�rus e, talvez, fazer uma lista de animais em que ele pode ter se originado.

Goldstein, da Universidade de Utah, tamb�m adverte sobre os desafios da teoria que ele defende, se fosse implementada com mais frequ�ncia.

Voc� continua precisando de recursos, � caro e exige log�stica e coordena��o global, explica ele. E, se voc� identificar v�rus que est�o transbordando, n�o � t�o f�cil decidir o que fazer a respeito.

Por fim, seria necess�rio fabricar vacinas para infec��es cujo alcance continuaria no campo das hip�teses.

Para fazer vacinas, voc� precisa de testes cl�nicos em seres humanos e � dif�cil realiz�-los para v�rus que, embora preocupantes, n�o tenham causado epidemias, afirma Goldstein.

Morcego dentro de solução em laboratório
Morcegos podem ter abrigado a linhagem do SARS-CoV-2 (o v�rus causador da covid-19) por d�cadas, antes que ele chegasse aos seres humanos (foto: Getty Images)

Por outro lado, o biocientista Konstans Wells, da Universidade de Swansea, no Reino Unido, adverte que � igualmente importante avaliar como diferentes comportamentos humanos e intera��es entre seres humanos e animais contribuem para as infec��es de v�rus de origem animal em diferentes contextos.

Por exemplo, turistas ou popula��es urbanas podem ser expostos a morcegos de forma diferente dos ca�adores ou dos coletores de guano [as fezes dos animais]. Continua sendo importante observar como essas varia��es de ambientes e intera��es afetam a circula��o do v�rus, explica Wells.

Sem desmerecer a necessidade dos esfor�os de pesquisa sobre os v�rus mais amea�adores, Wells destaca a complexidade dessas intera��es. Para ele, � igualmente importante trabalhar na identifica��o dos chamados pontos cegos: esp�cies e ambientes desconhecidos que podem facilitar os transbordamentos de pat�genos.

Qualquer emerg�ncia patog�nica precisa ser avaliada de muitos pontos de vista diferentes, conclui Wells.


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