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O Minist�rio da Sa�de n�o recomenda mais o uso de vacinas de vetor viral (AstraZeneca e Janssen) como refor�o contra a covid-19.
As vacinas de vetor viral s�o criadas a partir de um tipo de adenov�rus que n�o prejudica a sa�de humana.
No interior dele, os cientistas inserem alguns genes do Sars-CoV-2, fazendo com que a imunidade de quem recebeu a dose seja treinada contra o causador da covid-19 sem receber os danos da infec��o.
Quem tomou qualquer uma das vacinas, no entanto - seja como primeira dose ou refor�o - n�o deve se preocupar.
A interrup��o do uso e produ��o do imunizante pelo Minist�rio da Sa�de nada tem a ver com a efic�cia, mas sim com um poss�vel risco aumentado de trombose dias ap�s a vacina��o, segundo documento publicado pelo Minist�rio da Sa�de.
O Minist�rio da Sa�de informa que, at� o dia 17 de setembro de 2022, foram notificados no e-SUS - excluindo dados de S�o Paulo, que n�o foram divulgados no documento - 98 casos (0,02 casos por 100 mil doses aplicadas) com suspeita de S�ndrome de Trombose com Trombocitopenia (queda de plaquetas) com rela��o temporal com as vacinas.
Destes casos, segundo o �rg�o, 34 foram atribu�dos �s vacinas de vetor viral, 17 casos foram registrados como com rela��o prov�vel e 47 ocorr�ncias foram consideradas casos poss�veis.
Os quadros, que foram mais comuns em mulheres, aconteceram em um per�odo m�ximo de 30 dias ap�s a aplica��o. Quem recebeu a dose h� mais tempo e n�o desenvolveu trombose, n�o � considerado em estado de risco relacionado � vacina.
A correla��o, segundo cientistas, n�o est� totalmente clara, ou seja: n�o se tem certeza que foram as vacinas que causaram os raros quadros de trombose. Mas, pela oferta de outras op��es e alta porcentagem da popula��o vacinada, o Minist�rio da Sa�de recomenda n�o usar a dose, eliminando um poss�vel risco.
O Minist�rio da Sa�de ainda prev� o uso das vacinas de vetor viral caso outras op��es estejam em falta.
Em nota � BBC News Brasil ap�s a publica��o original desta reportagem, a AstraZeneca afirmou:
"A AstraZeneca refor�a que a vacina contra a covid-19 Vaxzevria apresenta um perfil de seguran�a favor�vel, assim como j� declarado pela Organiza��o Mundial da Sa�de e outros �rg�os internacionais, em que os benef�cios da vacina��o superam quaisquer riscos potenciais.
� importante ver que esta an�lise conduzida a partir de um grande banco de dados de registros eletr�nicos de sa�de constatou que a mortalidade por todas as causas, incluindo a card�aca, n�o aumentaram entre os jovens que receberam vacinas contra a covid-19.
Ressaltamos que o estudo tamb�m analisou a rela��o da vacina Vaxzevria com mortes de mulheres jovens de 12 a 29 anos, evidenciando que n�o foi poss�vel estabelecer nenhum v�nculo causal. Os autores tamb�m afirmam que � dif�cil estender qualquer conclus�o para o p�blico em geral porque a vacina foi usada apenas durante um curto per�odo de tempo e em uma popula��o selecionada."
A BBC News Brasil tamb�m pediu um posicionamento para a farmac�utica Janssen, mas n�o obteve resposta at� o momento desta publica��o.
Por que as vacinas de vetor viral poderiam causar trombose?
"Existe uma possibilidade de algumas pessoas - e n�o temos como identificar isso individualmente - possu�rem uma caracter�stica gen�tica, muito pessoal, que em contato com essas vacinas de vetor viral, favorecer � hipercoagulabilidade, favorecendo a cria��o de trombos", explica infectologista Evaldo Stanislau de Ara�jo, do Hospital das Cl�nicas de S�o Paulo.
De acordo com o documento do Minist�rio da Sa�de, "devido � raridade das ocorr�ncias, ainda n�o foi poss�vel identificar fatores de risco associados � s�ndrome, a exce��o de um aparente aumento do risco em indiv�duos com idade abaixo de 40 anos de idade".
Na avalia��o do imunologista Gustavo Cabral, n�o � poss�vel afirmar com confian�a, justamente pela falta de clareza na associa��o, de que as vacinas s�o respons�veis pelos casos de trombose.
"Os estudos cient�ficos que tenho lido s�o muito bons, mas falta muita explica��o para como a vacina vai ser o gatilho", aponta ele, que � pesquisador da Universidade de S�o Paulo e da Fapesp (Funda��o de Amparo � Pesquisa do Estado de S�o Paulo).
Apesar da falta de explica��o detalhada, Cabral entende que a decis�o do Minist�rio da Sa�de � razo�vel no momento epidemiol�gico atual, no qual as vacinas de vetor viral n�o s�o indispens�veis como eram no �pice da pandemia.
Vacina de vetor viral cumpriu seu papel em momento cr�tico
Entre as poss�veis consequ�ncias de uma infec��o de covid-19 est� justamente a cria��o de trombos -- com uma incid�ncia, inclusive, muito maior do que a correla��o feita com as vacinas de vetores virais.
Um estudo publicado na revista cient�fica Radiology mostra que, entre 3.342 infectados com covid-19 que precisaram de hospitaliza��o a taxa de trombose foi de 16,5%.
"Em 2021, quando a possibilidade dessas vacinas causarem quadros tromb�ticos surgiu, est�vamos em um momento de pouca oferta de imunizantes e diante de uma doen�a que tem como caracter�stica causar trombose. Deixar de vacinar por uma vacina que hipoteticamente causaria o quadro n�o seria correto na �poca", avalia o infectologista.
"Esse racioc�nio, em 2023, j� n�o vale mais. O benef�cio da vacina hoje � inferior e � inaceit�vel oferecer risco tromb�tico. Grande parte da popula��o est� vacinada com m�ltiplas doses, ou seja, temos uma popula��o protegida e uma oferta maior de vacinas. N�o � razo�vel fazer a mesma an�lise."
As recomenda��es atuais
A produ��o do soro da vacina da AstraZeneca pela Fiocruz, que tinha um acordo para produzir uma vers�o nacionalizada do imunizante, foi interrompida.
A maioria dos pacientes tinha menos de 40 anos, e por isso, a recomenda��o oficial apresentada no documento � que as vacinas de vetor viral
Cabral tamb�m chama aten��o para o fato de que, ap�s uma dose inicial de vacina de vetor viral, o melhor � usar, para refor�o, outro tipo de tecnologia.
"Essas vacinas de vetor viral carregam informa��es do v�rus at� as nossas c�lulas. Nas doses seguintes essa informa��o j� chega de forma menos efetiva."
O que s�o os trombos e por que s�o perigosos
Os trombos s�o co�gulos sangu�neos formados nas veias ou art�rias que dificultam a circula��o do sangue e podem aparecer em diferentes partes do corpo.
A depender do local e tamanho, os co�gulos podem ser considerados mais perigosos. Nos pulm�es ou no c�rebro, por exemplo, podem bloquear o fluxo sangu�neo vital e levar a danos permanentes e at� � morte.
O texto relat�rio aponta que a forma cl�nica mais frequentemente reportada foi trombose venosa cerebral. H� tamb�m relatos de trombose de veias intrabdominais, tromboembolismo pulmonar e tromboses arteriais.
Orienta��o segue recomenda��o de outros pa�ses
Diferentes pa�ses j� adotaram restri��es nas indica��es de uso das vacinas de vetor viral.
Atualmente o CDC (Centros de Controle e Preven��o de Doen�as) dos Estados Unidos recomenda que a vacina Janssen seja utilizada apenas em situa��es onde exista contraindica��o para o uso das demais vacinas, em situa��es de limita��o de acesso �s demais vacinas ou para indiv�duos que desejem se vacinar com a Janssen apesar das preocupa��es relacionadas � seguran�a.
O NHS (National Health Service), sistema p�blico do Reino Unido, indica o uso preferencial das vacinas Pfizer ou Moderna para pessoas abaixo de 40 anos. J� no Canad� as vacinas de vetor viral s�o indicadas apenas quando existe contraindica��o do uso das demais vacinas autorizadas no pa�s.
