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Estado de Minas FACT-CHECKING

Checamos: princ�pios ativos da cloroquina e ivermectina n�o est�o nas cascas de laranja e lim�o

Medicamentos s�o obtidos via s�ntese qu�mica e n�o est�o nas frutas; n�o h� ainda comprova��o de que tenham efic�cia contra COVID-19


30/07/2020 17:45 - atualizado 31/07/2020 07:51

Um v�deo compartilhado milhares de vezes em redes sociais desde meados de julho assegura que os princ�pios ativos da cloroquina e da ivermectina podem ser encontrados nas cascas de laranja e lim�o e que, por isso, o suco destas duas frutas poderia prevenir, e at� curar, o novo coronav�rus.

Estes medicamentos s�o, contudo, obtidos via s�ntese qu�mica e n�o est�o presentes nestas frutas. N�o h�, ainda, comprova��o de que a cloroquina ou a ivermectina tenham efic�cia contra a COVID-19.

“O princ�pio ativo dos dois rem�dios, do ivermectina e do cloroquina est� na laranja e no lim�o, na casca dos dois [sic]”, garante um homem em v�deo compartilhado mais de duas mil vezes no Facebook (1, 2, 3) desde o �ltimo dia 20 de julho.

A grava��o continua, recomendando que as pessoas bebam o suco destas duas frutas durante uma semana. “Se voc� n�o tem o COVID-19, voc� vai tomar dois copos por dia. Um de manh� e um a tarde. Se voc� j� est� com a COVID, voc� vai tomar quatro copos, dois de manh� e dois de tarde”, indica o homem.

N�o � verdade, contudo, que os princ�pios destes dois medicamentos estejam presentes nas cascas destas frutas.

Compostos obtidos via s�ntese qu�mica


Como explicou ao AFP Checamos o presidente da Associa��o Brasileira de Ci�ncias Farmac�uticas, Flavio da Silva Emery, a cloroquina e a ivermectina “s�o compostos obtidos via s�ntese qu�mica”.

“Eles n�o s�o encontrados nas cascas de laranja e lim�o, eles dependem de uma produ��o industrial bem estabelecida, com etapas de s�ntese bem definidas”, afirmou o especialista em Qu�mica Medicinal de Doen�as Infecciosas, em conversa telef�nica.

O mesmo foi afirmado por Elizabeth Igne Ferreira, professora do Departamento de Farm�cia da Universidade de S�o Paulo (USP).

“N�o � verdade que as cascas de laranja ou lim�o possuem a cloroquina e a ivermectina. Essa informa��o � uma das muitas que confundem o p�blico”, disse, em e-mail enviado � AFP. 
Captura de tela feita em 24 de julho de 2020 de vídeo publicado no Facebook
Captura de tela feita em 24 de julho de 2020 de v�deo publicado no Facebook

Lan�ada aos holofotes em meio � pandemia do novo coronav�rus, a cloroquina foi desenvolvida em 1934 pela farmac�utica alem� Bayer, para substituir a quinina, subst�ncia obtida a partir da casca da �rvore quina (ou Cinchona officinalis), no tratamento contra a mal�ria.

Apesar de eficaz, a cloroquina se mostrou t�xica, estimulando a busca por compostos mais seguros. Esses estudos levaram ao desenvolvimento, em 1946, da hidroxicloroquina, derivado da cloroquina que tamb�m passou a ser utilizado no combate � mal�ria.

Ambos os compostos s�o “puramente sint�ticos”, afirmou Emery � AFP. Igne Ferreira tamb�m destacou que a cloroquina � “um produto de s�ntese” e que, portanto, “n�o tem origem natural”.

Igualmente estudada no contexto da pandemia de COVID-19, a ivermectina � utilizada para tratar infec��es parasit�rias em humanos e animais e foi elaborada pelo pesquisador japon�s Satoshi %u014Cmura no final da d�cada de 1970.

Neste caso, sim, o medicamento tem em sua origem um composto natural, mas ele n�o est� presente nas cascas de laranja e lim�o, e precisa passar por uma modifica��o qu�mica para gerar a ivermectina, explica Emery.

O medicamento foi desenvolvido quando %u014Cmura, junto a um grupo de pesquisadores da farmac�utica Merck, identificou uma cultura derivada do solo que apresentou efici�ncia em eliminar vermes em ratos, como resume este documento da American Chemical Society.

Os cientistas isolaram, em seguida, o componente ativo desta cultura e o nomearam de avermectina. Posteriormente, “eles descobriram que se modificassem quimicamente a avermectina, produziriam um composto 25 vezes mais ativo, que era a descoberta da ivermectina”, detalhou Emery.

� AFP, Igne Ferreira tamb�m destacou que a ivermectina tem origem natural, mas n�o proveniente das cascas de laranja e lim�o, e sim de um “um actinomiceto, bact�ria superior, do solo, denominado Streptomyces avermitilis”.

“A partir desse micro-organismo se extraem as ivermectinas naturais, que, submetidas a uma rea��o qu�mica, resultam na ivermectina”, acrescentou.

Rem�dios sem comprova��o cient�fica


Al�m dos princ�pios ativos da cloroquina e da ivermectina n�o estarem presentes nas cascas de laranja e lim�o, estes medicamentos n�o possuem efic�cia comprovada contra o novo coronav�rus.
Frutas são exibidas durante feira de agricultura em Berlim, Alemanha, em 18 de janeiro de 2019
Frutas s�o exibidas durante feira de agricultura em Berlim, Alemanha, em 18 de janeiro de 2019

Esperan�a inicial para o tratamento da COVID-19 e amplamente defendidas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e pelo brasileiro, Jair Bolsonaro, a cloroquina e a hidroxicloroquina se mostraram ineficazes contra o novo v�rus em diversos estudos recentes.

No �ltimo dia 5 de junho, o Recovery trial, estudo cl�nico realizado por milhares de m�dicos e pesquisadores do Reino Unido com apoio da Universidade de Oxford, concluiu que n�o h� qualquer efeito ben�fico da hidroxicloroquina em pacientes com COVID-19.

O mesmo foi demonstrado neste outro estudo, publicado em 18 de junho no New England Journal of Medicine.

Al�m disso, a ag�ncia de Medicamentos de Alimentos dos Estados Unidos (FDA) revogou a autoriza��o de uso de emerg�ncia que permitia a administra��o da hidroxicloroquina a pacientes com COVID-19 no pa�s, e a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) suspendeu as pesquisas que estava realizado para avaliar a efic�cia do medicamento contra o novo coronav�rus.

“A cloroquina j� foi estudada nos ensaios cl�nicos. N�o mostrou nenhuma efic�cia, n�o mostrou atividade adequada contra o COVID”, destacou Flavio Emery.

“Al�m de n�o mostrarem a efic�cia necess�ria”, lembrou Igne Ferreira, a cloroquina e a hidroxicloroquina t�m demonstrado ser “t�xicas”. “Arritmias card�acas foram identificadas no seu emprego nessa pandemia”, explicou.

Em abril deste ano, a ivermectina tamb�m passou a ser considerada como um poss�vel tratamento contra a COVID-19 ap�s um estudo indicar que o medicamento poderia inibir, in vitro, a replica��o do novo coronav�rus em 48 horas.

Emery ressalta, contudo, que esse resultado foi obtido apenas em laborat�rio e que “a dose necess�ria seria dezenas de vezes maior do que o que se utiliza hoje para ter uma atividade antiviral em humanos e isso poderia levar a efeitos t�xicos”.

A FDA tamb�m assinala que este tipo de estudo em laborat�rio � usado no est�gio inicial do desenvolvimento de rem�dios e que “testes adicionais s�o necess�rios para determinar se a ivermectina pode ser apropriada para prevenir ou tratar” a doen�a causada pelo novo coronav�rus.

At� o momento, a OMS indica que “nenhum medicamento foi capaz de prevenir ou curar” a COVID-19.

Em resumo, � falso que os princ�pios ativos da cloroquina e da ivermectina estejam presentes nas cascas de laranja e lim�o, como informaram especialistas � AFP. Al�m disso, esses medicamentos n�o t�m efic�cia comprovada contra o novo coronav�rus.


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