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Estado de Minas CHECAMOS

Checamos: Arquivos de Albert Einstein n�o t�m uma carta sobre a 'for�a universal do amor'

Carta do f�sico teria sido enviada � filha Lieserl e foi compartilhada milhares e milhares de vezes em redes sociais; problema � que trata-se de fake news


11/08/2020 21:01 - atualizado 18/08/2020 13:04

Uma carta atribu�da a Albert Einstein, na qual ele supostamente explica a sua filha Lieserl que a verdadeira “for�a universal” � o amor, foi compartilhada mais de 37 mil vezes nas redes sociais desde 2014.

Algumas publica��es ainda indicam que esta missiva esteve nas m�os de Lieserl at� o fim da d�cada de 1980, quando doou � Universidade “Hebrea”, em Jerusal�m. Entretanto, os arquivos internacionais que conservam o legado do famoso f�sico n�o cont�m esta carta e suas correspond�ncias n�o foram doadas � Universidade Hebraica.

“No final dos anos 80, Lieserl, a filha do c�lebre g�nio, doou 1.400 cartas escritas por Einstein para a Universidade Hebrea, com o pedido de n�o torn�-las p�blicas at� que duas d�cadas se passassem da morte de seu pai. Esta foi uma delas”, indica uma postagem no Facebook, de 2017, fazendo men��o � Universidade Hebraica de Jerusal�m, mas usando o seu nome em espanhol.

Outras publica��es, contudo, n�o indicam como esta carta teria vindo a p�blico, e foram compartilhadas milhares de vezes desde 2014 n�o apenas no Facebook (1, 2, 3), como tamb�m no Twitter, Instagram (1, 2, 3) e em sites (1, 2, 3). Seis anos depois, o texto continua circulando nas redes.


Um artigo compartilhado mais de 21 mil vezes no Facebook, de acordo com a ferramenta CrowdTangle, embora divulgue a carta, coloca em d�vida a sua autoria afirmando que “n�o existe prova nenhuma que Einstein seja o autor da mesma”.

A missiva supostamente escrita por Einstein diz, em seu primeiro par�grafo: “quando propus a teoria da relatividade, muito poucos me entenderam e o que vou agora revelar a voc�, para que transmita � humanidade, tamb�m chocar� o mundo, com sua incompreens�o e preconceitos”. E continua: “h� uma for�a extremamente poderosa para a qual a ci�ncia at� agora n�o encontrou uma explica��o formal. [...] Esta for�a universal � o AMOR”.

A carta se estende por mais 40 linhas, nas quais faz alus�o a uma “bomba de amor” que destruir� “todo o �dio, ego�smo e gan�ncia”, e nas quais o autor da Teoria da Relatividade pede perd�o a sua filha por n�o ter expressado adequadamente o seu afeto.

A maior parte das publica��es � ilustrada com uma fotografia na qual o nobel de F�sica posa com uma menina, dando a entender de que se trata de Lieserl Einstein.

As palavras atribu�das ao famoso cientista tamb�m circularam em outros idiomas, como espanhol, ingl�s e franc�s.

N�o existem evid�ncias, contudo, de que a carta tenha sido escrita por Albert Einstein; a menina vista na fotografia n�o � sua filha e Lieserl n�o doou as correspond�ncias de seu pai para a Universidade Hebraica de Jerusal�m.

Lieserl Einstein


Albert Einstein teve dois filhos com a sua primeira esposa, Mileva Maric: Hans Albert Einstein, nascido em 1904, e Eduard Einstein, nascido em 1910.

Gra�as �s pesquisas de sua neta Evelyn Einstein, filha de Hans Albert, foram descobertas 500 cartas de Einstein nos anos 1980 em uma caixa de seguran�a em Berkeley. As correspond�ncias revelaram que, antes de casarem oficialmente, Albert Einstein e Mileva Maric tiveram uma filha, Lieserl, nascida em 1902.

Algumas destas cartas foram publicadas pela Universidade de Princeton em 1992 sob o t�tulo “The Love Letters”. Nelas, pode-se conferir que Albert Einstein estava na Su��a no momento do nascimento de Lieserl e presume-se que Maric tenha feito o parto na atual S�rvia, de onde a sua fam�lia era origin�ria.

Nas cartas, Einstein se mostra ansioso para conhecer a menina. Mas em uma missiva datada em setembro de 1903, o futuro nobel de F�sica manifesta preocupa��o pelo seu estado de sa�de: “Lamento muito o que aconteceu com Lieserl. � muito f�cil sofrer os efeitos duradouros da escarlatina. [...] Como ela foi registrada? Devemos tomar precau��es para que n�o surjam problemas para ela mais tarde”.

Segundo o historiador Robert Schulmann, que editou o livro e foi diretor do Einstein Papers Project - que re�ne, sistematiza e publica o legado escrito do f�sico -, a carta de 1903 permite inferir que o casal deu a menina para a ado��o nesse mesmo ano. Este � o �ltimo documento que a menciona e at� hoje n�o se sabe mais dela, como � relatado no “The Collected Papers of Albert Einstein. Volume 1”, publicado tamb�m pela Universidade de Princeton.
Captura de tela feita em 17 de agosto de 2020 de uma publicação no Instagram
Captura de tela feita em 17 de agosto de 2020 de uma publica��o no Instagram

Na realidade, quem realizou a doa��o da correspond�ncia de Einstein � Universidade Hebraica foi Margot Einstein, enteada do cientista, falecida em 1986. As cartas foram adicionadas ao acervo que o pr�prio Einstein havia deixado � institui��o em seu testamento.

O arquivo de Albert Einstein


A equipe de checagem da AFP fez uma busca pela carta sobre o amor como “for�a universal” no Arquivo Albert Einstein da Universidade Hebraica de Jerusal�m, mas n�o obteve resultados.

O curador da cole��o, Roni Grosz, que ocupa este cargo desde 2004, confirmou � AFP que a carta n�o se encontra no arquivo, como afirmam publica��es viralizadas, e tampouco foi escrita pelo f�sico

“A carta mencionada � uma total falsifica��o”, assinalou. E acrescentou que o fato de isto circular na Internet h� pelo menos cinco anos sem qualquer aval institucional “� um forte indicador de que n�o se trata de um documento aut�ntico”.

A carta que, de fato, � conservada na Universidade Hebraica � a de setembro de 1903, na qual Lieserl Einstein � citada pela �ltima vez.

A AFP tamb�m pesquisou pela carta no Einstein Papers Project, mas igualmente n�o obteve resultados.

A menina da foto


Muitas publica��es compartilhadas nas redes s�o ilustradas por uma fotografia na qual se v� Einstein com uma menina em um jardim. Uma busca reversa pela imagem no Google revelou que ela pode ser encontrada no banco de imagens da ag�ncia Getty e que n�o se trata de uma foto, mas do fotograma de uma filmagem.

A legenda da sequ�ncia d� cr�dito a Stephanie Asker, em Princeton, Nova Jersey, em 1943. A Getty Images n�o identifica a menina, mas n�o poderia ser Lieserl Einstein, que na �poca estaria com 41 anos, e tampouco poderia ser Margot Einstein, enteada do f�sico, que tinha 43 anos nesta data.
Albert Einstein declara sua oposição à bomba H e à corrida armamentista entre Estados Unidos e União Soviética durante uma conferência em Princeton, nos Estados Unidos, em 14 de fevereiro de 1950
Albert Einstein declara sua oposi��o � bomba H e � corrida armamentista entre Estados Unidos e Uni�o Sovi�tica durante uma confer�ncia em Princeton, nos Estados Unidos, em 14 de fevereiro de 1950

Uma busca no Google pelos termos “Stephanie Asker + Einstein” mostra resultados que a assinalam como uma amiga da fam�lia. Um dos sites, inclusive, a identifica como a menina das imagens e vincula uma reportagem a ela. A AFP n�o conseguiu localizar a mat�ria original.

Em resumo, n�o h� evid�ncias de que Albert Einstein tenha escrito uma carta sobre a “for�a universal do amor” a sua filha Lieserl, ou a qualquer outro destinat�rio. A missiva n�o se encontra nos arquivos internacionais que conservam o legado do f�sico. Al�m disso, foi a enteada do cientista, Margot Einstein, quem doou a cole��o de cartas � Universidade Hebraica, n�o Lieserl.


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