“ONU convida Lula para discursar, ap�s vergonha mundial de Bolsonaro”, dizem publica��es compartilhadas milhares de vezes em redes sociais desde 22 de setembro.
O ex-presidente realmente participou de um semin�rio com a relatora especial da ONU para o Direito � Educa��o, Koumbou Boly Barry, este m�s.
A alega��o come�ou a circular em 22 de setembro, horas ap�s o presidente Jair Bolsonaro discursar na Assembleia Geral da ONU, em pronunciamento criticado por organiza��es ambientalistas e de defesa dos direitos humanos.
“Ap�s a vergonha mundial que Jair Bolsonaro fez nesta ter�a-feira (22), na abertura da Assembleia Geral da ONU, o ex-presidente Lula foi chamado para discursar no organismo internacional sobre educa��o”, come�a o texto compartilhado mais de 18 mil vezes no Facebook, Twitter e em m�ltiplos sites (1, 2, 3).
A mensagem continua detalhando que o ex-presidente (2003-2010) participaria do semin�rio online “Educa��o e as Sociedades Que Queremos” no dia 24 de setembro, para o qual teria sido convidado pela relatora da ONU para o Direito � Educa��o, Koumbou Boly Barry.
Publica��es semelhantes (1, 2) afirmam apenas que Lula foi convidado pela ONU para um evento, sem especificar qual.
Lula realmente participou, em 24 de setembro, do semin�rio “Educa��o e as Sociedades Que Queremos”, mas n�o a convite da ONU.
O evento
O evento foi coordenado pela Organiza��o do Mundo Isl�mico para Educa��o, Ci�ncia e Cultura (ICESCO), uma associa��o fundada por pa�ses isl�micos em 1981 para fortalecer a coopera��o entre os membros nos campos da educa��o, ci�ncia, cultura e comunica��o.
O semin�rio, que tinha como objetivo discutir “os pap�is futuros que a educa��o deve assumir para construir as sociedades que desejamos”, tamb�m contou com a participa��o do vencedor do pr�mio Nobel da Paz de 2014 Kailash Satyarthi e com a Diretora Executiva da Global Partnership for Education, Alice Albright.
O evento foi mediado por Koumbou Boly Barry que, al�m de ser relatora especial da ONU para o Direito � Educa��o, tamb�m � supervisora do setor de Educa��o da ICESCO.
A presen�a de Barry n�o quer dizer, contudo, que o ex-presidente foi convidado pela ONU para participar do semin�rio.
“Especialistas independentes”
Procurado pelo AFP Checamos, o Escrit�rio do Alto Comiss�rio das Na��es Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), ao qual Koumbou Boly Barry � vinculada, afirmou que “n�o co-organizou, ou participou” do referido evento.
O ACNUDH confirmou que a relatora especial para o Direito � Educa��o, Koumbou Boly Barry, participou do semin�rio, mas destacou que estes relatores s�o especialistas independentes e n�o funcion�rios contratados da ONU.
De fato, como o ACNUDH explica em seu site, os relatores especiais s�o nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos para examinar e relatar a situa��o de um pa�s ou de um tema espec�fico, mas n�o s�o membros do pessoal da Organiza��o das Na��es Unidas e n�o recebem remunera��o, prestando servi�o “a t�tulo pessoal”.
“Os relatores especiais e as equipes de trabalho fazem parte do que � conhecido como os Procedimentos Especiais do Conselho de Direitos Humanos”, explicou ao AFP Checamos um porta-voz do ACNUDH em Genebra.
“Os Procedimentos Especiais, o maior grupo de especialistas independentes do sistema de Direitos Humanos da ONU, � o nome geral dos mecanismos independentes de averigua��o e monitoramento do Conselho que tratam de situa��es espec�ficas em pa�ses ou de quest�es tem�ticas em todo o mundo”, acrescentou.
O porta-voz reiterou, ainda, que os “especialistas dos Procedimentos Especiais trabalham de forma volunt�ria; eles n�o s�o funcion�rios da ONU e n�o recebem um sal�rio por seu trabalho. Eles s�o independentes de qualquer governo ou organiza��o e atuam em sua capacidade individual”.
Como detalha o ACNUDH em seu portal, os relatores especiais podem realizar visitas a pa�ses, enviar comunicados a Estados, conduzir estudos tem�ticos e organizar consultas a especialistas, entre outras atividades.
Em resumo, embora o ex-presidente Lula tenha participado de um semin�rio sobre educa��o mediado por uma relatora especial da ONU, isso n�o significa que ele foi convidado pelas Na��es Unidas para o evento, j� que relatores especiais n�o s�o funcion�rios contratados da organiza��o.