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Estudo da cloroquina contra covid foi retirado em junho de 2020; mas outros atestam a sua inefic�cia

Uma busca no Google pelo t�tulo do artigo localiza o texto original, publicado no site Tribuna Nacional em 22 de janeiro de 2021


08/02/2021 20:22 - atualizado 08/02/2021 20:26

Captura de tela feita em 4 de fevereiro de 2021 de uma publicação no Facebook
Captura de tela feita em 4 de fevereiro de 2021 de uma publica��o no Facebook
Publica��es compartilhadas milhares de vezes em redes sociais desde o �ltimo dia 23 de janeiro afirmam que cientistas pediram desculpas por “estudo ter desqualificado” o uso da cloroquina contra a covid-19 e que “agora” o mundo reconhece os resultados positivos do medicamento. Isso n�o � verdade.

 

Um estudo que apontava efeitos adversos associados ao uso de cloroquina ou hidroxicloroquina realmente foi retratado, mas em junho de 2020. No entanto, desde ent�o, diversos outros artigos constataram a inefic�cia do rem�dio contra o coronav�rus.

Cientistas pedem desculpas ao mundo, por estudo ter desqualificado o uso da Cloroquina no combate a pandemia. � s� pedir desculpas e est� tudo certo?”, diz o t�tulo de um artigo, cuja captura de tela foi compartilhada mais de 3.500 vezes no Facebook (1, 2, 3) e Instagram (1, 2, 3).


Na imagem que circula nas redes tamb�m � poss�vel ler um subt�tulo: “Incont�veis mortes poderiam ter sido evitadas com o uso da hidroxicloroquina, agora o mundo todo passa a afirmar os resultados positivos do medicamento. Todos que lutaram e bradaram contra, s�o os verdadeiros genocidas?”.

Uma busca no Google pelo t�tulo do artigo localiza o texto original, publicado no site Tribuna Nacional em 22 de janeiro de 2021. O subt�tulo visto na imagem viralizada n�o aparece no artigo em 8 de fevereiro, mas uma busca pelo trecho no Google leva � publica��o do Tribuna Nacional, indicando que a mat�ria pode ter sido editada.

O artigo se refere a um estudo publicado na revista The Lancet que apontava um maior risco de morte associado ao uso de cloroquina ou hidroxicloroquina contra a covid-19 e que foi, efetivamente, retratado.

Isso ocorreu, contudo, em junho de 2020. Desde ent�o, diversos outros estudos constaram: a cloroquina e seu derivado menos t�xico, a hidroxicloroquina, n�o s�o eficazes contra a covid-19.

Estudo retratado h� meses


Em 22 de maio do ano passado, a revista cient�fica The Lancet publicou um artigo que comparava a evolu��o de pacientes com covid-19 que foram tratados com cloroquina ou hidroxicloroquina com aqueles que n�o receberam nenhum destes dois rem�dios.

Para fazer a compara��o, os autores do estudo utilizaram uma base de dados fornecida pela companhia Surgisphere, que supostamente coletou as informa��es de quase 100 mil pacientes, tratados em 671 hospitais espalhados por todos os continentes.

Ap�s a an�lise, os autores n�o apenas n�o identificaram nenhum benef�cio no uso da hidroxicloroquina ou cloroquina contra a covid-19, como tamb�m constataram um aumento na mortalidade hospitalar e na ocorr�ncia de arritmias card�acas associado a esses dois rem�dios.

O resultado do estudo teve grande repercuss�o. Menos de uma semana ap�s sua publica��o, a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) suspendeu temporariamente seu ensaio cl�nico com a hidroxicloroquina por quest�es de seguran�a, a��o tomada tamb�m por outros pesquisadores.

Logo em seguida, no entanto, come�aram a surgir d�vidas sobre a base de dados que fundamentou o estudo. O artigo levou em considera��o, por exemplo, 600 casos de covid-19 confirmados na Austr�lia e 73 mortes registradas at� 21 de abril. No entanto, dados da Johns Hopkins University mostravam apenas 67 �bitos em todo o pa�s at� a mesma data. 

Em 29 de maio, 120 cientistas enviaram uma carta aberta aos autores do estudo listando outras preocupa��es com a integridade da an�lise e pedindo que a companhia Surgisphere compartilhasse os dados utilizados como base para o artigo. 

Em 5 de junho do mesmo ano, o peri�dico The Lancet abordou as preocupa��es levantadas pela comunidade cient�fica e retirou o pol�mico estudo.

“Ap�s a publica��o do nosso artigo na Lancet, v�rias preocupa��es foram levantadas com rela��o � veracidade dos dados e an�lises conduzidos pela Surgisphere Corporation. [...] Lan�amos uma revis�o por pares independente e terceirizada [...] para avaliar a origem dos elementos da base de dados, para confirmar a integridade do banco de dados e para replicar as an�lises apresentadas no artigo”, escreveram os autores do estudo.

Segundo informaram, no entanto, a companhia se recusou a transferir os dados completos alegando que isso violaria requisitos de confidencialidade. “Com base neste acontecimento, n�s n�o podemos mais garantir a veracidade das fontes de dados prim�rias. Devido a este infeliz acontecimento, os autores solicitam que o artigo seja retratado”, comunicaram.

O problema com a base de dados aconteceu, contudo, meses atr�s - e n�o recentemente como sugerem as postagens de janeiro deste ano. Al�m disso, n�o � verdade que, desde ent�o, estudos comprovaram a efic�cia dos rem�dios contra a covid-19.

Inefic�cia comprovada por outros estudos


No mesmo dia em que o artigo da Lancet foi retirado, foram publicados os resultados de um ensaio cl�nico randomizado conduzido por pesquisadores da Universidade de Oxford, o Recovery Trial.

Ap�s compararem a evolu��o de pacientes de covid-19 que receberam hidroxicloroquina com aqueles que receberam o tratamento usual, os cientistas conclu�ram que n�o houve diferen�a significativa na taxa de mortalidade ou evid�ncia de redu��o no per�odo de interna��o hospitalar.

“A hidroxicloroquina e a cloroquina t�m recebido muita aten��o e t�m sido amplamente utilizadas para tratar pacientes de covid-19 apesar da aus�ncia de qualquer boa evid�ncia. O Recovery Trial mostrou que a hidroxicloroquina n�o � um tratamento eficaz para pacientes hospitalizados com covid-19. Embora seja decepcionante que esse tratamento tenha se mostrado ineficaz, isso nos permite dedicar os cuidados e a pesquisa a medicamentos mais promissores”, escreveu Peter Horby, pesquisador-chefe do estudo.

O ensaio cl�nico da OMS, que havia sido suspenso ap�s a publica��o do artigo da Lancet, foi retomado em 3 de junho. Apenas algumas semanas depois, no entanto, o estudo, conhecido como Solidarity Trial, tamb�m descartou a efic�cia da hidroxicloroquina contra o novo coronav�rus.

“Em 17 de junho de 2020, a OMS anunciou que o bra�o de hidroxicloroquina do Solidarity Trial, para encontrar um tratamento eficaz contra a covid-19, estava sendo interrompido”, diz a organiza��o em seu site.

A OMS explicou o motivo da decis�o: “Dados do Solidarity [...] e os resultados recentemente anunciados do Recovery Trial do Reino Unido mostraram que a hidroxicloroquina n�o resulta na redu��o de mortalidade em pacientes hospitalizados com covid-19, quando comparado com o tratamento padr�o”.

Desde ent�o, diversos outros estudos chegaram a conclus�es semelhantes. 
Farmacêutico segura um frasco e uma pílula de hidroxicloroquina em Provo, Estados Unidos, em 20 de maio de 2020 (George Frey / AFP)
Farmac�utico segura um frasco e uma p�lula de hidroxicloroquina em Provo, Estados Unidos, em 20 de maio de 2020 (George Frey / AFP)

Em 6 de agosto, um ensaio cl�nico duplo-cego randomizado - considerado o padr�o de excel�ncia para estudos deste tipo - foi publicado no The New England Journal of Medicine. Para o artigo, os autores acompanharam 821 adultos que haviam sido expostos ao novo coronav�rus nos Estados Unidos e no Canad�.

Quatro dias ap�s a exposi��o, alguns pacientes receberam a hidroxicloroquina e, outros, o placebo. N�o houve diferen�a significativa na quantidade de pessoas que contra�ram a doen�a entre os dois grupos. “Ap�s alto risco ou risco moderado de exposi��o � covid-19, a hidroxicloroquina n�o preveniu doen�as compat�veis com a covid-19 ou infec��o confirmada quando usada como profilaxia p�s-exposi��o”, conclu�ram os pesquisadores.

Em outubro de 2020, a hidroxicloroquina tamb�m n�o se mostrou capaz de reduzir substancialmente a gravidade de sintomas em pacientes ambulatoriais com covid-19 leve e inicial.

Em novembro, pesquisadores tamb�m avaliaram o efeito do uso da hidroxicloroquina quando utilizada antes da exposi��o � covid-19. Para isso, acompanharam pacientes com artrite reumat�ide ou l�pus que utilizavam o medicamento antes da pandemia e aqueles que n�o o utilizavam. De maneira semelhante, n�o foi encontrada nenhuma diferen�a de mortalidade por covid-19 entre os dois grupos.

Medicamentos n�o s�o recomendados


Ao contr�rio do que d�o a entender as publica��es viralizadas, a cloroquina e a hidroxicloroquina continuam a n�o ser recomendadas como tratamento para a covid-19 por autoridades de sa�de de todo o mundo.

Em seu site, a Ag�ncia de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos (FDA) reitera que os dois medicamentos n�o se mostraram seguros e eficazes para tratar ou prevenir a covid-19.

De maneira semelhante, a Ag�ncia Europeia de Avalia��o de Medicamentos (EMA) destaca que a hidroxicloroquina e a cloroquina n�o mostraram efeitos ben�ficos no tratamento da doen�a. Al�m disso, os medicamentos “podem causar alguns efeitos colaterais, incluindo problemas card�acos”, diz a organiza��o.

No Brasil, onde o pr�prio presidente Jair Bolsonaro � um aberto defensor desses rem�dios no combate � covid-19, a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) continua a n�o recomendar “o uso indiscriminado desses medicamentos, sem a confirma��o de que realmente funciona”.

Em resumo, s�o enganosas as publica��es de janeiro de 2021 que afirmam que cientistas pediram desculpas por um estudo que desqualificou o uso da cloroquina contra a covid-19 e que posteriormente o mundo reconheceu os efeitos ben�ficos do medicamento. O estudo citado foi retirado em junho de 2020 mas, desde ent�o, diversos outros constataram a inefic�cia do rem�dio contra a covid-19.


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