
“Se h� 2.000 mortes por dia, tem de haver 2.000 leitos vazios por dia n�o??? ou o leito vai junto com o paciente???”, “Se est�o morrendo mais de mil pessoas por dia, est�o sendo desocupados mil leitos, ou est�o enterrando o leito junto com o morto” e “Me desculpem a burrice, se est�o morrendo quase 3.000 por dia, n�o era pra desocupar 3.000 leitos di�rios tamb�m?”, perguntam postagens viralizadas no Facebook (1, 2) desde meados de mar�o.
Todas as publica��es, que tamb�m circularam no Instagram (1, 2) e no Twitter (1), seguem o mesmo modelo de questionamento, mudando somente a quantidade de mortos e, consequentemente, de leitos supostamente liberados.
Em 16 de mar�o, a Fiocruz divulgou um boletim do Observat�rio Covid-19 no qual indicava que das 27 unidades federativas, 24 estados e o Distrito Federal apresentavam taxas de ocupa��o de leitos de UTI para covid-19 no Sistema �nico de Sa�de (SUS) iguais ou superiores a 80%, sendo 15 com taxas iguais ou superiores a 90%.
Os indicadores das capitais, por sua vez, mostraram que em 25 das 27 unidades da federa��o as taxas estavam iguais ou superiores a 80%, sendo 19 delas superiores a 90%.
Essa taxa de ocupa��o tem sido analisada pelo instituto desde julho de 2020 e vem apresentando uma piora significativa em 2021, principalmente desde o final de fevereiro.
O m�s de mar�o de 2021 foi o mais letal da pandemia. Neste per�odo foram vistos os maiores n�meros de casos e �bitos em decorr�ncia da covid-19: no dia 16 foram registradas 2.841 mortes, enquanto em 19 de mar�o mais de 90 mil casos foram notificados.
A m�dia de �bitos dos �ltimos sete dias chegou a 2.306 nesta segunda-feira, a mais alta registrada.
Morte significa libera��o de leito?
De acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Sa�de (CNES), o sistema de informa��o de todos os estabelecimentos de sa�de no pa�s, o Brasil conta com 23.111 leitos de UTI tipo II para adultos direcionados para a covid-19. No caso de suporte ventilat�rio pulmonar especificamente para a doen�a, o n�mero � de 3.920.
Ao AFP Checamos, Margareth Portela, pesquisadora da Escola Nacional de Sa�de P�blica/ENSP e integrante do Observat�rio covid-19 da Fiocruz, explica por que a afirma��o viralizada � falaciosa: h� “um n�mero de mortos que n�o � necessariamente hospitalar. Tem muita morte em domic�lios, muitas mortes de pacientes em UPAs”, unidades de urg�ncia e emerg�ncia nas quais o paciente apenas estabilizado, diferentes de uma unidade de interna��o.
Margareth Portela ainda faz uma ressalva a respeito do que s�o os leitos:
“Quando a gente fala de leito de UTI, � a cama e uma s�rie de equipamentos, e equipe especializada para lidar. O leito hospitalar, mesmo o mais simples, n�o � s� a cama. N�o tem condi��o de dizer ‘eu estou com problema de leito de UTI, ent�o eu abro leito de UTI e pronto’. Mentira. Voc� pode conseguir abrir uma quantidade pequena, mas n�o � ilimitado, e a gente est� experimentando esse momento de caos na assist�ncia porque n�o vai ter profissional, n�o adianta”.
Ainda segundo a pesquisadora, a ocupa��o de leitos n�o ocorre de maneira din�mica, “em que ocupa um dia e no outro dia, tenho novos casos e os leitos j� s�o liberados para outros casos. A pessoa que entrar, provavelmente, vai ocupar aquele leito por v�rios dias. Ent�o, vai retendo e diminuindo a capacidade de ofertar leitos”.
Um projeto realizado pelos hospitais que fazem parte do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema �nico de Sa�de (PROADI-SUS), Impacto MR, levantou alguns dados (1, 2, 3), enviados tamb�m ao AFP Checamos, entre eles o do tempo m�dio de perman�ncia na UTI, que foi de 11,6 dias.
Al�m disso, os dados de mortalidade levantados mostram que 36,3% dos pacientes analisados foram a �bito em UTIs e 46,2% deles faleceram no hospital.

Taxas de ocupa��o nos estados
Uma an�lise dos dados dispon�veis nas Secretarias de Sa�de de cinco estados, um de cada regi�o do pa�s, sobre a ocupa��o de leitos de UTI mostra que a situa��o � preocupante.
Em S�o Paulo a taxa de ocupa��o � de 91,9%; em Goi�s, 99,08% dos leitos de UTI sob a gest�o do governo do estado j� contam com pacientes; no Tocantins, a maior parte dos hospitais apresenta 100% de ocupa��o em leitos de UTI covid-19; em Sergipe, esse n�mero chega a 85,7% na rede p�blica e 128,9% na rede privada; no Rio Grande do Sul, mais de 96% dos leitos p�blicos de UTI est�o ocupados, enquanto 131,6% dos privados est�o com pacientes.
Portela, inclusive, faz uma considera��o a respeito dos n�meros que ultrapassam 100% de ocupa��o de leitos de UTI em alguns casos: isso “quer dizer que os hospitais est�o transformando outras instala��es para covid. Leitos que n�o est�o habilitados para serem covid, est�o sendo transformados em fun��o da press�o por receber os pacientes”.
A imprensa j� tem noticiado uma s�rie de casos de pessoas que morreram aguardando vagas em UTI em raz�o da pandemia. Alguns desses registros foram feitos no estado de S�o Paulo (1, 2), em Goi�s, em Santa Catarina, em Minas Gerais e no Paran�.
A pesquisadora finaliza, indicando que, apesar do crescimento exponencial dos n�meros de cont�gios pelo coronav�rus, a abertura de leitos hospitalares n�o pode ser feita na mesma propor��o: “N�o tem capacidade de amplia��o de leitos em um n�vel exponencial, � muito mais limitada, tanto pela capacidade mesmo de abrir, como tamb�m a rapidez que voc� consegue fazer isso. A rapidez da expans�o da pandemia �, se voc� tem as condi��es prop�cias para o cont�gio. E a gente tem visto isso”.