
“Por que essa mulher ligou 18 vezes para Ad�lio no dia do esfaqueamento do Bolsonaro?”, diz o texto sobreposto a uma imagem de D’�vila em publica��es que come�aram a circular logo ap�s Ad�lio Bispo esfaquear Bolsonaro em um evento de campanha em Juiz de Fora, Minas Gerais, em setembro de 2018. Na �poca, D’�vila era vice da chapa de Fernando Haddad (PT) na disputa pelo Pal�cio do Planalto.
O conte�do voltou a ser compartilhado no final de 2020 (1, 2, 3), quando Manuela D’�vila era candidata a prefeita de Porto Alegre, e, novamente, em maio de 2021 (1, 2, 3).
Ad�lio Bispo foi detido no mesmo dia do atentado, em 6 de setembro de 2018, e submetido a dois inqu�ritos policiais. Mas, ao contr�rio do alegado nas redes, uma consulta a documentos p�blicos relacionados a essas duas investiga��es n�o localiza qualquer men��o ao nome de D’�vila.
Primeiro inqu�rito
Dois dias ap�s a deten��o de Ad�lio, a ju�za Patr�cia Alencar Teixeira de Carvalho, da 2ª Vara Federal de Juiz de Fora, autorizou a quebra de seu sigilo telef�nico, permitindo que a Pol�cia Federal rastreasse liga��es, mensagens e contatos feitos pelo agressor antes do ataque.
Essa an�lise foi conduzida j� no primeiro inqu�rito policial sobre o caso, realizado nos 30 dias ap�s a facada, como detalhado em relat�rio do juiz federal Bruno Savino, da 3ª Vara Federal de Juiz de Fora, que julgou a a��o penal referente ao atentado.
No documento, s�o listados os elementos de interesse ao caso identificados no celular de Ad�lio, como imagens e v�deos que “comprovam que o r�u [...] premeditou o crime”. Em nenhum momento s�o mencionados os telefonemas descritos nas redes.
Como reportado pela AFP, a PF concluiu neste inqu�rito que Ad�lio agiu sozinho, descartando, a partir das evid�ncias colhidas, o envolvimento de terceiros no ataque. A Pol�cia tamb�m determinou, contudo, a abertura de uma segunda investiga��o para avaliar mais detalhadamente a exist�ncia de mandantes, idealizadores, instigadores, ou financiadores do crime.
Sem participa��o partid�ria
Em relat�rio parcial deste segundo inqu�rito, divulgado em maio de 2020 pelo jornal O Estado de S. Paulo, a Pol�cia Federal forneceu mais detalhes sobre as dilig�ncias realizadas ao longo da investiga��o - incluindo a an�lise das liga��es telef�nicas de Ad�lio.
De acordo com o documento, foram analisados os extratos telef�nicos de todos os terminais e chips relacionados ao investigado, assim como os extratos telef�nicos de cinco pessoas “apontadas como de significativa import�ncia � apura��o”.
Esses dados foram comparados, ainda segundo o relat�rio, com os dados cadastrais “de dezesseis milh�es e duzentos mil filiados a todos os partidos pol�ticos registrados no Brasil” para averiguar se alguma dessas pessoas teria tido contato telef�nico com Ad�lio “considerando os reflexos pol�ticos do ato criminoso”.
Essa possibilidade foi descartada, no entanto, pela investiga��o: “Essa busca gen�rica decorreu da absoluta aus�ncia de suspeitos concretos”, diz o relat�rio. Manuela D’�vila � filiada ao PCdoB no Rio Grande do Sul.

O documento indica, ainda, que as liga��es efetivamente identificadas nos telefones de Ad�lio “nada carrearam de significante”, indicando que o “investigado utilizava seus terminais celulares para, em regra, comunicar-se com contratantes, para agendar entrevistas de trabalho e para efetuar acesso � rede social Facebook”.
Esse inqu�rito, arquivado provisoriamente em junho de 2020, tamb�m concluiu que Ad�lio atuou sozinho, “n�o contanto, a qualquer tempo, com o apoio de terceiros” e ressaltou que n�o foi comprovada a “participa��o de agremia��es partid�rias” no crime.
Contactada pelo AFP Checamos em 26 de maio, a assessoria de imprensa da Pol�cia Federal de Minas Gerais, onde ocorreu o crime, informou que apurou essa alega��o na �poca das investiga��es e que “n�o restou comprovado as referidas liga��es”.
Retirada de publica��es
Desde 2018, Manuela D’�vila denuncia a falsidade dessa alega��o, tendo entrado na Justi�a duas vezes para solicitar a retirada das publica��es viralizadas.
Em setembro de 2018, pouco antes do primeiro turno das elei��es presidenciais, o ministro Carlos Horbach, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), reconheceu a exist�ncia de “fundados ind�cios da ocorr�ncia de il�cito” na publica��o do conte�do e pediu que o Facebook apresentasse os dados do usu�rio respons�vel pela divulga��o inicial da alega��o.
Em 2020, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul determinou a retirada de diversas publica��es sobre Manuela D’�vila, incluindo algumas das postagens que a relacionavam a Ad�lio Bispo, “visto que, sobretudo pela verifica��o realizada e constata��o de sua inadequa��o, h� o potencial de haver preju�zo eleitoral aos representantes, o que seria, no caso, decorrente de not�cia n�o verdadeira”.
O AFP Checamos j� verificou outras publica��es sobre o atentado � faca sofrido por Bolsonaro em setembro de 2018 (1, 2, 3).
Conte�do semelhante foi verificado pelo site Ag�ncia Lupa.