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Estado de Minas CHECAMOS

A Universidade de Almer�a n�o endossou um estudo sobre presen�a de grafeno nas vacinas

O grafeno � um nanomaterial � base de carbono, com propriedades antibacterianas e antivirais.


08/09/2021 21:49 - atualizado 08/09/2021 21:49


 

Captura de tela feita em 3 de setembro de 2021 de uma publicação no Twitter ( . / )
Captura de tela feita em 3 de setembro de 2021 de uma publica��o no Twitter ( . / )
Publica��es em redes sociais e sites, compartilhadas mais de 80 vezes desde pelo menos julho de 2021, afirmam que um estudo da Universidade de Almer�a, na Espanha, teria detectado a presen�a de �xido de grafeno e grafeno nas vacinas contra o novo coronav�rus. No entanto, especialistas ouvidos pela AFP dizem que n�o h� evid�ncias da presen�a dessas subst�ncias nos imunizantes. Al�m disso, a universidade n�o corrobora o documento, que tamb�m n�o foi revisado por pares.


“Pesquisadores da Universidade de Almeria, na Espanha, relataram a descoberta de que a vacina covid-19 da Pfizer cont�m principalmente grafeno. Segue o documento com o resultado das pesquisas e experimentos. Todas as vacinas s�o fabricadas com a mesma nanotecnologia” , diz uma publica��o no Twitter . O conte�do circulou tamb�m no Facebook ( 1 , 2 , 3 ). Algumas das publica��es sugerem tamb�m que o elemento tornaria algumas pessoas magn�ticas.

Alega��es similares foram publicadas tamb�m em espanhol , franc�s , alem�o e holand�s .

Estudo n�o revisado por pares

As publica��es se referem a um estudo espanhol publicado por Pablo Campra, doutor em ci�ncias qu�micas, ao final de junho de 2021, sem o respaldo de outros cientistas. No documento, Campra examina uma amostra da vacina da Pfizer, chamada Comirnaty , com um microsc�pio �ptico e um microsc�pio eletr�nico de transmiss�o, e conclui que a observa��o “n�o permite descartar a presen�a de grafeno na amostra” .

O texto de Campra afirma que a investiga��o foi solicitada por Ricardo Delgado Mart�n, fundador de um grupo cr�tico e c�tico sobre o coronav�rus e as vacinas, e autor de afirma��es que j� foram verificadas em espanhol pela AFP sobre m�scaras e testes PCR , e tamb�m sobre presen�a de grafeno em imunizantes.

O que � grafeno?

O grafeno � um nanomaterial � base de carbono, com propriedades antibacterianas e antivirais. Entre outras possibilidades, ainda em explora��o, � flex�vel, eletricamente condutivo, leve, resistente e � considerado o material mais fino do mundo, o que o torna objeto de pesquisas. O material foi isolado pela primeira vez em 2004.

Um exemplo do interesse gerado pelo grafeno � a Graphene Flagship , uma iniciativa financiada pela Comiss�o Europeia que re�ne “cerca de 170 parceiros acad�micos e industriais de 22 pa�ses” .

Maurizio Prato, respons�vel pelas �reas de sa�de e meio ambiente na plataforma, explicou � AFP: "Existem muitos tipos de grafeno. O grafeno que todos conhecem � uma camada de �tomos de carbono com excelentes propriedades para eletr�nica, fot�nica e muito mais" .

O pesquisador Diego Pe�a , do Centro de Pesquisa Singular para Qu�mica Biol�gica e Materiais Moleculares ( CiQUS ) da Espanha, explicou � AFP que “o grafeno n�o � sol�vel, portanto, um dispositivo de grafeno n�o pode ser injetado em solu��o" . E acrescentou: "Se houvesse grafeno, as vacinas seriam solu��es de cor escura”.

Ele converge com Matthew Diasio , autor de uma tese de doutorado sobre a decomposi��o do grafite em grafeno em diferentes l�quidos. Ele abordou o grafeno neste fio do Twitter.

One of the newest conspiracy claims about #COVID19 #vaccines is that they contain graphene and/or graphene oxide.

I am weirdly qualified to debunk this rumor, despite not being a medical/health/vaccine scientist, because my PhD literally was about graphene in liquids. 1/n
— Fully Vaccinated Matthew, Evaluating Distance (@MatSciMatt) July 11, 2021

J� em rela��o ao �xido de grafeno, Yoni Hillen, do Conselho de Avalia��o de Medicamentos da Holanda ( CBG-MEB ), disse � AFP que se trata de uma subst�ncia diferente. “O �xido de grafeno � um derivado do grafeno e � uma forma mais sol�vel. Atualmente, a aplica��o do �xido de grafeno na medicina est� sendo investigada com diversos objetivos” .

Prato, da Graphene Flagship, tamb�m destacou que se trata de algo diferente: “O �xido de grafeno � uma subst�ncia distinta, que pode ter at� 50-60% de oxig�nio. A presen�a de �tomos de oxig�nio leva a uma estrutura muito diferente do grafeno, que tem sido usado em baterias, sensores, tinta, entre outras coisas".

Estudo provis�rio


O texto assinado por Campra, no qual se baseiam as falsas alega��es, tamb�m n�o � conclusivo. Ele foi publicado pelo pr�prio m�dico, e n�o em uma revista cient�fica, o que significa que n�o foi verificado ou endossado por outros cientistas na chamada revis�o por pares .

Em sua an�lise, Campra investigou a presen�a de grafeno e �xido de grafeno usando um microsc�pio �ptico e um microsc�pio eletr�nico de transmiss�o (MET), para posteriormente comparar as imagens com outras da literatura cient�fica, conforme mostrado a seguir:
Captura de tela da página 12 do estudo de Campra, realizada em 20 de julho de 2021 ( . / )
Captura de tela da p�gina 12 do estudo de Campra, realizada em 20 de julho de 2021 ( . / )





Nas conclus�es de seu estudo (p�gina 22), Campra afirma que o material “fornece evid�ncias s�lidas da prov�vel presen�a de derivados de grafeno, embora a microscopia n�o forne�a provas conclusivas” .

� equipe de verifica��o da AFP Campra afirmou: “Nossa descoberta � que 99% da absor��o de UV n�o vem do RNA, e o sinal � compat�vel com grafeno, mas muitas outras subst�ncias mostram o mesmo sinal. Encontramos evid�ncias microsc�picas de part�culas de grafeno, mas mais testes espectrosc�picos s�o necess�rios para confirmar essa estrutura" .

O departamento cient�fico da Graphenano , empresa dedicada � fabrica��o de grafeno na Espanha, destacou � AFP que “as conclus�es do estudo de Pablo Campra baseiam-se em evid�ncias muito fracas (...). Os autores usam ‘sugerir’, ‘parecer’ porque est�o cientes das limita��es de seus resultados”.

A professora Ester V�zquez , especialista em seguran�a e sa�de da Graphene Flagship e pesquisadora da Universidade de Castilla-La Mancha, na Espanha, definiu o estudo como "bastante inconclusivo" , em declara��es � AFP ap�s a leitura do texto cient�fico. "O pr�prio autor reconhece que n�o h� evid�ncias suficientes para apoiar as alega��es de que as vacinas cont�m grafeno, mas essa parte nunca � citada nas hist�rias e v�deos sobre isso".

V�zquez tamb�m explicou que o microsc�pio n�o � o m�todo apropriado para avaliar a presen�a de grafeno ou de �xido de grafeno. “Os testes realizados s�o insuficientes para identificar o grafeno, eles mostram apenas algumas imagens microsc�picas que se parecem com imagens de grafeno e �xido de grafeno na literatura [cient�fica] . De qualquer forma, isso est� longe de ser uma comprova��o cient�fica, a identifica��o do grafeno exigiria uma an�lise que vai al�m, usando outras t�cnicas”.

Pablo Campra admite no texto viral (p�gina 23): “Os resultados e conclus�es deste relat�rio n�o implicam nenhuma posi��o institucional da Universidade de Almer�a”.

Em 2 de julho, a universidade negou pelo Twitter qualquer colabora��o com o estudo, em resposta � “falsa informa��o divulgada em algumas redes sociais e blogs sobre um relat�rio provis�rio de um professor da Universidade de Almer�a, que parece questionar vacinas contra a covid -19”.

Comunicado de la Universidad de Almer�a en relaci�n con las falsas informaciones difundidas en algunas redes sociales y blogs. pic.twitter.com/Rx6ayF35eI
— Universidad de Almer�a (@ualmeria) July 2, 2021

No Brasil, o conte�do foi checado pela Ag�ncia Lupa e pelo Fato ou Fake .

Composi��o da vacina


Meses antes da aprova��o das primeiras vacinas contra o coronav�rus, j� haviam surgido teorias sobre poss�veis “ingredientes” suspeitos ou secretos dos imunizantes. Mas os componentes das vacinas n�o s�o secretos: no Brasil, os da Pfizer , AstraZeneca , CoronaVac ou Janssen, por exemplo, foram publicados pela Anvisa . Dervila Keane, porta-voz da Pfizer, ressaltou � AFP: “O �xido de grafeno n�o � utilizado na fabrica��o da vacina Pfizer-BioNTech Covid-19”.

Em outra verifica��o, sobre os supostos efeitos magn�ticos dos imunizantes , Thomas Hope , pesquisador de vacinas e professor de Biologia Celular e do Desenvolvimento na Faculdade de Medicina Feinberg da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, disse � AFP: “N�o h� nada nas vacinas com o que um �m� possa interagir; h� prote�nas, lip�dios, sais, �gua e subst�ncias qu�micas que mant�m o pH. Isso � basicamente tudo” .

Sa�de e �xido de grafeno


At� o momento, “n�o existem ind�cios” da presen�a de grafeno ou de �xido de grafeno em nenhuma das vacinas utilizadas na Europa, segundo Yoni Hillen, do CBG-MEB .

O vice-decano da Faculdade de Ci�ncias Qu�micas de C�rdoba, na Argentina, Marcelo Mariscal , explicou � AFP em junho: “S� h� alguns relatos na bibliografia onde foi utilizado �xido de grafeno (um material muito diferente do grafeno) como potencial adjuvante nas vacinas. Os adjuvantes s�o usados para melhorar a imunogenicidade ou capacidade para desencadear uma resposta imunol�gica. Tratam-se de estudos modelo em fases de ci�ncia b�sica, os quais encontram-se ainda longe de uma aplica��o” .

O grafeno foi utilizado em algumas m�scaras por suas propriedades antibacterianas e antivirais. No entanto, os efeitos para a sa�de ainda n�o s�o conclusivos. Existe preocupa��o, por exemplo, com a possibilidade de o material “fibroso” poder danificar os pulm�es quando inalado, algo que investigam estudos cient�ficos . Na Espanha , Fran�a e Canad�, foram retiradas as m�scaras FFP2 porque continham grafeno, ainda que o Canad� tenha revogado a decis�o porque as autoridades sanit�rias “n�o encontraram riscos para a sa�de preocupantes”.

Em 2 de abril de 2021, o Minist�rio da Sa�de do Canad� havia publicado uma avalia��o preliminar na qual “identificou que as part�culas de grafeno tinham potencial para causar toxicidade pulmonar precoce em animais” . “O risco para a sa�de das pessoas de qualquer idade n�o est� claro” , indicava o texto. A AFP verificou alega��es de que essas m�scaras seriam cancer�genas.
Passageiros no metrô de Viena com máscaras, em 25 de janeiro de 2021 (AFP / Alex Halada) ( AFP / ALEX HALADA)
Passageiros no metr� de Viena com m�scaras, em 25 de janeiro de 2021 (AFP / Alex Halada) ( AFP / ALEX HALADA)

Os benef�cios para a sa�de no uso de materiais baseados em grafeno ainda n�o s�o bem conhecidos, segundo os cientistas consultados pela AFP. Maurizio Prato explicou que na iniciativa de pesquisa cient�fica Graphene Flagship h� “v�rios grupos de especialistas estudando os efeitos de todos esses produtos (grafeno, �xido de grafeno e outros) sobre a sa�de humana e o meio ambiente” . A p�gina da iniciativa indica que “estudos iniciais sugerem que o grafeno � seguro para uma exposi��o ocupacional a longo prazo, mas se deve evitar a inala��o do �xido de grafeno, dependendo do tamanho das part�culas” .

O vice-diretor de Sa�de e Meio Ambiente da Graphene Flagship, Alberto Bianco, assinalou: “A evid�ncia nos mostra que o grafeno e o �xido de grafeno s�o biodegrad�veis e podem ser eliminados do corpo. De todo modo, est�o sendo realizados mais estudos para avaliar se os fragmentos da decomposi��o podem ter efeitos n�o desejados”.

O grafeno n�o � magn�tico por si


O departamento cient�fico da Graphenano destacou que os l�pis “cont�m grafite” , elemento muito semelhante ao grafeno, “e n�o s�o magn�ticos”.

O pesquisador Diego Pe�a, que estuda o potencial magn�tico do nanomaterial, descartou que o grafeno possa gerar magnetismo com uma vacina: “Ele � magn�tico somente em condi��es laboratoriais muito espec�ficas (ultra-alto v�cuo e padr�o-ouro). � muito inst�vel, motivo pelo qual perde as suas propriedades magn�ticas em condi��es ambientais” . Ele acrescentou que o magnetismo "se perderia assim que tent�ssemos dissolv�-lo" em uma vacina.

Por sua vez, Mariscal, vice-decano da Faculdade de Ci�ncias Qu�micas de C�rdoba, na Argentina, observou que � imposs�vel ao grafeno atrair metais por meio de um fen�meno de magnetiza��o. “As propriedades magn�ticas n�o existem naturalmente no grafeno” , disse. “O grafeno n�o poderia gerar esse fen�meno devido � pequena quantidade de material. � preciso lembrar que � um material com a espessura de apenas uma l�mina de �tomos”.

A AFP j� verificou como falsas, em outras ocasi�es, declara��es sobre o grafeno e sua suposta capacidade magn�tica, sobre sua rela��o com o v�rus SARS-CoV-2 causador do covid-19, e com as vacinas e os vacinados contra o coronav�rus .

* Esta verifica��o foi realizada com base em informa��es cient�ficas e oficiais sobre o novo coronav�rus dispon�veis na data desta publica��o .


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