
“Duas verdades que nunca te contaram sobre Paulo Freire: 1 - Ele NUNCA foi professor, o �nico diploma que Paulo Freire tinha era de bacharel em direito. 2 - Ele NUNCA alfabetizou uma crian�a, sua experi�ncia em alfabetiza��o foi de adultos no MST” , diz a publica��o compartilhada no Facebook ( 1 , 2 , 3 ), no Instagram e no Twitter ( 1 , 2 ).
No �ltimo 19 de setembro de 2021, foi comemorado o centen�rio do educador Paulo Freire, que faleceu em 1997. O marco motivou uma s�rie de eventos em universidades e em outras institui��es como o Senado Federal . Nesse contexto, alguns cr�ticos de sua metodologia e obra compartilharam publica��es questionando sua trajet�ria e atua��o como professor.
De bacharel em Direito a professor
Paulo Reglus Neves Freire nasceu em 19 de setembro de 1921 em Recife, Pernambuco. Freire, reconhecido em 2012 como
“Patrono da Educa��o Brasileira”
, foi um educador e fil�sofo premiado em todo o mundo por seus trabalhos na �rea da educa��o. Foi contemplado, por exemplo, com o Pr�mio Unesco (Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura) da Educa��o para a Paz em
1986
; e com o Pr�mio Andres Bello como Educador do Continente da Organiza��o dos Estados Americanos (OEA) em
1992
.
O educador, de fato,
graduou-se em Direito em 1947
pela Escola de Direito de Recife - transformada no Centro de Ci�ncias Jur�dicas da Universidade Federal de Pernambuco (
UFPE
) -, mas n�o chegou a exercer a profiss�o. A informa��o foi confirmada pelo Instituto Paulo Freire, que enviou ao Checamos uma
declara��o da UFPE
sobre a gradua��o de Freire. Sua primeira experi�ncia com o ensino foi como professor de l�ngua portuguesa no Col�gio Oswaldo Cruz, em sua cidade natal, onde havia estudado na sua adolesc�ncia.
Ao contr�rio do que diz a publica��o viral, Freire lecionou em diversas universidades dentro e fora do Brasil, como a Universidade Estadual de Campinas (
Unicamp
), a Pontif�cia Universidade Cat�lica de S�o Paulo (
PUC-SP
) e a
Universidade de Genebra
, Su��a. Tamb�m fez parte do corpo docente da
Escola de Belas Artes de Recife
, onde apresentou uma tese para a c�tedra de Filosofia e Hist�ria da Educa��o, publicada posteriormente como um
livro
.

T�tulos
Usu�rios tamb�m afirmam, nas publica��es viralizadas, que o "�nico diploma que Paulo Freire tinha era de bacharel em direito" . “Ele n�o fez o doutorado, n�o defendeu a tese, mas ele � doutor honoris causa, ent�o isso � muito al�m de defender uma tese de doutorado” , afirmou Maurilane de Souza Biccas professora na Faculdade de Educa��o da Universidade de S�o Paulo em declara��o ao Checamos.Freire recebeu mais de 40 t�tulos como doutor “honoris causa” de universidades nacionais, como a Unicamp , e estrangeiras, como a Universidade de Genebra ; a Complutense , de Madri; e a de Lisboa .
O t�tulo � concedido pelas universidades a personalidades que se destacam por sua contribui��o � cultura, � educa��o ou � humanidade. Walter Kohan , professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e especialista em filosofia da educa��o e inf�ncia, disse ao Checamos:
“Sua forma��o e seu compromisso, sua coer�ncia em fazer de sua vida dedica��o completa � alfabetiza��o e liberta��o das classes oprimidas, � inquestion�vel, � reconhecida no mundo inteiro. Paulo Freire sempre foi muito sens�vel � injusti�a e � opress�o”.
Alfabetiza��o de adultos
Segundo as publica��es virais, Freire “NUNCA alfabetizou uma crian�a” , o que � verdadeiro. Seu projeto foi direcionado a adultos dos setores mais pobres do Brasil, que n�o haviam sido alfabetizados antes, como afirmou ao Checamos Pablo Martinis , professor titular do Departamento de Pedagogia, Pol�tica e Sociedade da Universidade da Rep�blica, no Uruguai.Sobre a rela��o de Freire com o ensino infantil, Kohan explicou que, embora o educador n�o tenha atuado diretamente com a educa��o infantil, algumas de suas ideias inspiram profissionais dedicados a esse n�vel de educa��o. “Ele n�o escreve sobre educa��o infantil no sentido de educa��o de crian�as pequenas, mas ele trabalha ideias sobre a crian�a e a inf�ncia que inspiram educadores da educa��o infantil” , assegurou.
No entanto, diferentemente do que afirmam as publica��es virais, Freire jamais alfabetizou adultos em acampamentos do Movimento Sem Terra (MST). Ele come�ou a trabalhar com a alfabetiza��o de adultos ainda em 1947, quando dirigiu o Departamento de Educa��o e Cultura do Servi�o Social da Ind�stria ( Sesi ). Nesse per�odo o MST ainda n�o havia sido criado, o que viria a ocorrer apenas em 1984 . Nesse ano, Freire j� havia retornado ao Brasil de seu ex�lio de 16 anos, por conta da ditadura militar.
Ao voltar ao Brasil , em 1980, ele lecionou na Unicamp, na PUC-SP, foi secret�rio de Educa��o da Prefeitura de S�o Paulo e j� n�o mais coordenava programas de alfabetiza��o.
“Toda essa experi�ncia de educa��o com adultos � muito anterior ao surgimento do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra” , confirmou ao Checamos Federico Brugaletta, especialista em Paulo Freire e professor de Ci�ncias da Educa��o na Universidade Nacional de La Plata, na Argentina. No mesmo sentido afirmou Pablo Martinis: “Esse trabalho foi desenvolvido em v�rias comunidades do Brasil em uma �poca em que ainda n�o existia o MST, demorou mais de uma d�cada para a funda��o do Movimento Sem Terra. Portanto, n�o se pode afirmar que Freire trabalhou exclusivamente com a alfabetiza��o nesse movimento” .
Walter Kohan destaca que a atua��o de Freire nos projetos de alfabetiza��o de adultos ocorria, sobretudo, no n�vel de coordena��o, tanto no Brasil quanto nos pa�ses em que atuou, como Guin�-Bissau, Tanz�nia, Nicar�gua, Cabo Verde. Kohan afirma que:
“Paulo Freire de fato n�o alfabetizava. Ele era coordenador dos cursos, dos programas, fazia alguma interven��o ou outra. Por exemplo, naquele primeiro curso de Angicos [munic�pio no Rio Grande do Norte] de 1963, n�o era Paulo Freire quem alfabetizava, eram estudantes formados por ele”.
Em 1964, seu projeto “alfabetizaria 6 milh�es de pessoas em um ano. Isso significava 6 milh�es de novos votantes, porque os analfabetos n�o votavam. Imagina o efeito pol�tico disso” , aponta Kohan.
“O compromisso, a dedica��o de Paulo Freire � alfabetiza��o de jovens adultos, essa sua milit�ncia tem a ver tamb�m com seu compromisso com a inf�ncia, mas n�o a inf�ncia como uma idade, a inf�ncia como um tempo. De certo modo, Paulo Freire era um grande apaixonado pela inf�ncia e por isso a sua dedica��o com a educa��o tem a ver com recuperar a inf�ncia” , diz ele.
Conte�do semelhante foi checado pelo G1 e Aos Fatos .