Dezenas de usu�rios e ve�culos de m�dia compartilham desde 25 de fevereiro de 2022 nas redes sociais e na internet a not�cia da morte de 13 soldados ucranianos na Ilha das Serpentes, ap�s recusarem se render �s tropas russas.
Mas, dias depois, tanto as autoridades ucranianas quanto o ex�rcito russo informaram que os soldados estavam vivos. Alguns usu�rios e meios de comunica��o, entretanto, n�o corrigiram suas reportagens.
“V�o-se f**** ". Soldados ucranianos respondem a navio russo antes de morrer Treze guardas ucranianos, que defendiam uma pequena ilha no Mar Negro, a Ilha das Serpentes, morreram �s m�os das for�as russas, depois de terem recusado a rendi��o”, dizem publica��es no Facebook.
A hist�ria tamb�m tem sido compartilhada no Twitter e em sites na internet. Conte�do semelhante circulou em espanhol e franc�s.

Nos dias seguintes, no entanto, a informa��o sobre as 13 mortes foi negada tanto pelo lado russo, quanto pelo lado ucraniano: os militares ucranianos foram aprisionados pelas tropas russas que chegaram � ilha.
Do lado ucraniano, rumores sobre as mortes

Nos dias seguintes, no entanto, a informa��o sobre as 13 mortes foi negada tanto pelo lado russo, quanto pelo lado ucraniano: os militares ucranianos foram aprisionados pelas tropas russas que chegaram � ilha.
Do lado ucraniano, rumores sobre as mortes
Em 24 de fevereiro de 2022, o primeiro dia da ofensiva russa na Ucr�nia, os guardas da fronteira ucraniana anunciaram que a Ilha das Serpentes, no Mar Negro, estava amea�ada por navios russos que se aproximavam da costa. A publica��o foi acompanhada por uma mensagem de �udio do “agressor” russo, pedindo que as pessoas na ilha se rendessem.A Ilha das Serpentes, chamada tamb�m de Fidonisi ou Zmiinyi, fica a cerca de 50 quil�metros das costas romena e ucraniana. Ela j� foi objeto de disputa entre Bucareste e Kiev perante o Tribunal Internacional de Justi�a de Haia, que atribuiu sua propriedade � Ucr�nia em 2009. Um artigo publicado em agosto de 2021 pelo instituto de pesquisa americano Atlantic Council questionou se a ilha poderia se tornar um ponto-chave “no caso da guerra de Vladimir Putin na Ucr�nia”, devido a essa posi��o estrat�gica.
Em 24 de fevereiro, os guardas da fronteira da Ucr�nia relataram no Facebook (1, 2) como estava indo o ataque russo � ilha. Em seguida, eles anunciaram que ela havia sido “tomada” pelo ex�rcito russo.
No mesmo dia, Anton Herashchenko, conselheiro do Minist�rio do Interior ucraniano, publicou uma mensagem no Telegram e no Facebook dizendo que “13 guardas de fronteira” de seu pa�s foram mortos tentando defender a ilha.
Al�m disso, ele vinculou uma grava��o que come�ava a se tornar viral nas redes sociais com as �ltimas palavras que os soldados teriam dito antes de serem atacados, conforme consta neste artigo de verifica��o franc�s.
Em 25 de fevereiro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, falou do evento em uma mensagem aos cidad�os de seu pa�s e descreveu os supostamente falecidos como “her�is”. “Todos os guardas de fronteira de nossa ilha Zmiinyi morreram heroicamente defendendo-a at� o fim. Eles n�o desistiram. Todos receber�o, postumamente, o t�tulo de Her�is da Ucr�nia”, declarou.
A partir de ent�o, as informa��es e homenagens aos 13 militares come�aram a circular na m�dia e nas publica��es de usu�rios nas redes sociais.
Do lado russo, informa��es contradit�rias
Na manh� de 25 de fevereiro, o porta-voz do minist�rio da Defesa russo, Igor Konashenkov, anunciou, segundo a ag�ncia de imprensa russa Tass, que “82 soldados da Ilha das Serpentes no Mar Negro se renderam voluntariamente �s for�as armadas russas”, sem mencionar que houve qualquer morte dos militares ucranianos.Os guardas de fronteira ucranianos postaram uma declara��o no Facebook no dia seguinte expressando “forte esperan�a” de que todos os soldados que pensavam estar mortos estavam finalmente “vivos”.
Enquanto isso, v�rias redes de televis�o russas transmitiram imagens que, segundo eles, mostravam os 82 prisioneiros ucranianos em Sebastopol. Em uma reportagem veiculada em 26 de fevereiro pela principal rede de televis�o russa (cujo acesso no YouTube est� bloqueado para usu�rios europeus), um jornalista afirma que os prisioneiros ucranianos da Ilha das Serpentes, que “entregaram suas armas”, deveriam ser levados “com suas fam�lias”.
De acordo com a reportagem, as autoridades ucranianas “enterraram seus mortos” prematuramente e rotularam os homens vivos como her�is p�stumos, chamando isso de “propaganda horr�vel”.
O ex�rcito ucraniano confirma que eles est�o vivos
Em 28 de fevereiro, o ex�rcito ucraniano publicou um comunicado no Facebook, no qual afirmava que os soldados da Ilha da Serpentes estavam vivos, embora detidos pelo ex�rcito russo. “Em rela��o aos marinheiros e guardas de fronteira feitos prisioneiros pelos invasores russos na ilha das Serpentes, estamos muito felizes em saber que nossos irm�os est�o vivos e bem”, diz o texto.Todos esses eventos ilustram “a confus�o informacional devido � guerra” e o “desejo de propaganda” dos dois lados, analisou pela AFP Arnaud Mercier, professor de Comunica��o da Universidade Paris-II Panth�on-Assas e autor da an�lise “Armas de comunica��o de massa”, sobre informa��es de guerra no Iraque.

“A velocidade com que o governo ucraniano se apropriou da hist�ria desses soldados mostra acima de tudo a fluidez da situa��o, e como o que � verdadeiro muda em um instante e pode deixar de ser em seguida, em uma zona de guerra”, acrescentou Stephanie Lamy, especialista em opera��es sem�nticas e autora de “Agora T�xica”, no qual desvenda mecanismos de desinforma��o pol�tica que visam enfraquecer as democracias.
“Com esta guerra, � a primeira vez que os civis t�m � sua disposi��o recursos estatais na guerra da informa��o, incluindo a conectividade, garantida pelo Estado, e a coordena��o de campanhas nas redes sociais”, o que pode favorecer o surgimento de hist�rias de coragem e hero�smo, de acordo com Lamy.
Cria��o de hero�smo
A hist�ria dos soldados na Ilha das Serpentes � “um epis�dio em que todos perdem” na luta pela informa��o, considerou Arnaud Mercier.Do lado ucraniano, as supostas �ltimas palavras dos soldados s�o apresentadas como um “ato considerado her�ico” e permitem “mostrar que o povo ucraniano d� provas de sua coragem”. Segundo o especialista, “as autoridades ucranianas preferiram interpretar em excesso a esperar por confirma��es, para mostrar hero�smo na guerra”.
Do lado russo, o ex�rcito “apressou-se a usar o assunto alegando que o ex�rcito ucraniano estava a fazer falsa propaganda, tentando fazer desta hist�ria um s�mbolo para mostrar que o resto dos exemplos de hero�smo ucraniano ser�o mentiras”, disse o especialista franc�s.

No entanto, este primeiro confronto comunicativo entre R�ssia e Ucr�nia no in�cio da invas�o n�o ter� um impacto negativo na confian�a dos ucranianos em seu governo, segundo Mercier. “As autoridades ucranianas encontraram uma sa�da honrosa ao reconhecer que est�o felizes que os homens da Ilha da Cobra ainda estejam vivos: isso provavelmente n�o diminui a credibilidade das autoridades ucranianas aos olhos dos cidad�os. E, inversamente, a comunica��o russa confirma a desconfian�a anti-ucraniana”, resumiu o pesquisador.
Por seu lado, Lamy lembra aos usu�rios das redes sociais, especialmente aqueles que n�o est�o no local da guerra, que fa�am “um exerc�cio de modera��o” e “fiquem longe deste tipo de conte�do, que s�o comoventes”, e assim “evitem compartilhar” publica��es cujas informa��es s�o chamativas, para limitar a “desinforma��o”.