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Estado de Minas CHECAMOS

Amostras 'pequenas' e resultados 'errados': argumentos que enganam ao questionar pesquisas eleitorais

Diferentemente de enquetes, metodologias amostrais usadas por institutos de pesquisa permitem realizar infer�ncias estat�sticas para toda a popula��o


18/05/2022 23:59 - atualizado 19/05/2022 09:44

Com a aproxima��o das elei��es de 2022, eleitores questionam a credibilidade de pesquisas eleitorais, seja pelo tamanho e alcance de suas amostras, seja por sua suposta incapacidade de prever resultados de pleitos.

Mas, diferentemente de enquetes, as metodologias amostrais usadas por institutos de pesquisa permitem a realiza��o de infer�ncias estat�sticas para toda a popula��o de eleitores brasileiros.

Especialistas tamb�m apontam que resultados de pesquisas s�o diferentes de progn�sticos, e que servem, na verdade, para descrever como est� a opini�o p�blica em determinado momento.

'Nova pesquisa? No, tks. Essas amostras de 1000 pessoas com metodologia question�vel n�o me convencem. Prefiro essa pesquisa aqui, com mais de 2 milh�es de votos, um IP v�lido por voto, e por todo Brasil', diz um tu�te compartilhado mais de 10 mil vezes, acompanhado por um link que leva � enquete do portal 'Elei��es ao vivo'.

Usu�rios tamb�m questionam o fato de nunca terem sido entrevistados por institutos de pesquisa, divulgam o termo 'DataPovo' ao afirmar que as ruas 'fazem o retrato da verdade' e apontam supostos erros quando pesquisas indicaram vantagem moment�nea para candidatos que n�o foram eleitos.

Compilado de capturas de tela, feito em 13 de maio de 2022, de publicações no Twitter, Facebook, Instagram e YouTube
Compilado de capturas de tela, feito em 13 de maio de 2022, de publica��es no Twitter, Facebook, Instagram e YouTube ( . / )

Mas alega��es como essas n�o levam em considera��o que h� uma metodologia a ser seguida por institutos de pesquisa para garantir que suas amostras permitam fazer infer�ncias para o resto da popula��o, explicaram ao Checamos especialistas em ci�ncia pol�tica e estat�stica.

Tamanho versus qualidade

Um argumento comumente usado em publica��es que desacreditam pesquisas eleitorais � que suas amostras s�o pequenas em compara��o ao tamanho do eleitorado, de 147 milh�es de brasileiros. De acordo com usu�rios (1, 2), amostras de 'apenas' mil ou 2 mil pessoas n�o seriam, portanto, confi�veis.

Isso � um mito, aponta a se��o 'Escopo e metodologia das pesquisas' do site do Governo Federal.

Ao inv�s de consultar todos os eleitores, institutos de pesquisa usam amostras, subconjuntos da popula��o, com as quais se procura fazer 'certas afirma��es quantitativas a respeito da popula��o', define Raphael Nishimura, diretor de amostragem do Survey Research Center, da Universidade de Michigan.

O c�lculo do tamanho da amostra � feito a partir de uma f�rmula, que indica 'o n�vel de precis�o que voc� quer ter com aquela pesquisa', diz Felipe Nunes, professor de ci�ncia pol�tica na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretor do instituto de pesquisa Quaest.

Ele acrescenta que, a partir de um determinado tamanho de popula��o, o tamanho da amostra torna-se irrelevante. Nishimura, concorda, e aclara: 

'Amostras maiores v�o apenas diminuir a margem de erro'.

Glauco Peres, coordenador do Grupo de Estudos Eleitorais do N�cleo de Estudos Comparados e Internacionais da Universidade de S�o Paulo (NECI-USP), explica que usar um subgrupo da popula��o para analisar sua totalidade � como o ato de experimentar uma por��o de uma refei��o para avaliar seu sabor: 'Vou provar um pouquinho para saber como est� o todo'.

Outro relato frequente � o de pessoas questionando o fato de nunca terem sido entrevistadas em levantamentos eleitorais (1, 2).

Mas a probabilidade de sele��o � realmente baixa.'Pensa que uma amostra foi desenhada para 2 mil pessoas serem selecionadas. [Em um universo de 147 milh�es] a chance de participa��o � muito pequena', explica Alinne Veiga, pesquisadora da Escola Nacional de Ci�ncias Estat�sticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).

Nesse sentido, Peres ressalta que � muito mais prov�vel que um eleitor n�o seja entrevistado do que o contr�rio.
Distribuição de panfletos em 1º de outubro de 2006, no Rio de Janeiro
Distribui��o de panfletos em 1� de outubro de 2006, no Rio de Janeiro (foto: AFP / Antonio Scorza)

Sele��o da amostra

Existem m�todos probabil�sticos e n�o-probabil�sticos de sele��o. Na primeira defini��o, 'todo mundo, todo elemento da popula��o tem uma probabilidade de sele��o n�o nula e voc� conhece essa probabilidade', explica Nishimura.

Nesse caso, utilizam-se sorteios para garantir a aleatoriedade e oferecer maior confiabilidade, comenta Felipe Borba, cientista pol�tico e coordenador do Grupo de Investiga��o Eleitoral (Giel) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

Ele explica que as pesquisas eleitorais no Brasil usam, em grande parte, o m�todo n�o-probabil�stico por cotas, quando a popula��o � dividida em grupos - por sexo, faixa et�ria e escolaridade - e, na sequ�ncia, � determinada uma cota proporcional ao tamanho de cada grupo, mas sem que para isso sejam feitos sorteios.

Isso n�o significa, contudo, que as pesquisas n�o sejam confi�veis. 'Essas cotas s�o aquelas que procuram representar a popula��o na amostra', indica Borba.

Pesquisas totalmente probabil�sticas s�o mais caras e demoradas, concordam os especialistas. Por isso, institutos brasileiros n�o conseguem aplic�-las integralmente. Mas buscam se aproximar ao m�ximo, descreve o diretor da Quaest.

'Elas s�o feitas [de forma probabil�stica] at� o �ltimo est�gio, ou seja, o sorteio do munic�pio � probabil�stico, o sorteio do setor censit�rio � probabil�stico, o sorteio do domic�lio � probabil�stico. A pessoa que voc� vai entrevistar no domic�lio n�o � sorteada [m�todo n�o-probabil�stico por cotas]. Voc� vai preencher uma cota naquele lugar', exemplifica Nunes.

Outro quesito importante para diminuir vieses � a pondera��o de dados, que se refere a como uma amostra ser� ajustada ap�s a coleta dos dados. Nishimura aclara que isso serve para amenizar vieses n�o s� da sele��o, mas tamb�m n�o amostrais.

Isso inclui, por exemplo, a 'n�o resposta', quando algu�m se recusa a participar de uma pesquisa, ou, no caso de pesquisas telef�nicas, a cobertura, que 'corresponde ao fato de que nem todo mundo tem acesso ao telefone', diz o diretor de amostragem do Survey Research Center.

M�todos de sele��o de amostra e pondera��o de dados garantem 'que o resultado final seja fidedigno em rela��o a esse par�metro da inten��o de voto', afirma Nunes, da Quaest.

'A verdadeira pesquisa'

Publica��es virais tamb�m alegam que grandes enquetes e manifesta��es nas ruas s�o m�todos que 'fazem o retrato da verdade' (1, 2). Muitas usam ironias ao descrev�-las, chamando-as de 'DataPovo', em refer�ncia ao instituto de pesquisa Datafolha.

Mas o tamanho n�o � o fator determinante para definir se um levantamento tem ou n�o credibilidade. Isso � estabelecido por meio da metodologia usada tanto na sele��o da amostral quanto na pondera��o dos dados. Peres explica:

'A maneira como um instituto [de pesquisa] chega at� as pessoas � o que faz uma pesquisa eleitoral ser v�lida, porque tem essa preocupa��o e tem t�cnicas, m�todos de fazer, de abordar as pessoas'.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) define enquete como o 'levantamento de opini�o sem plano amostral (...) que n�o utiliza m�todo cient�fico para a sua realiza��o'.

Assim, por maiores que sejam, enquetes produzem amostras enviesadas. 'Nem todo mundo tem acesso � internet, nem todo mundo tem conhecimento, sabe dessas enquetes, e mesmo aqueles que t�m s�o, em geral, pessoas mais engajadas, principalmente para um ou outro tipo de candidato', afirma Nishimura.

Al�m disso, para evitar vieses, a metodologia da sele��o amostral impede que uma pessoa possa se voluntariar para ser entrevistada, 'ainda que esteja encaixado nas cotas', explicou Renata Nunes, estat�stica do Datafolha, em evento da Associa��o Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), em 2 de maio de 2022.

Coment�rios sobre as supostas verdadeiras pesquisas tamb�m incluem fotos e v�deos de manifesta��es nas ruas, que comprovariam inten��es de voto.

Mas a premissa tampouco � v�lida. 'Ali tem muita gente igual, n�o tem uma amostra da popula��o, n�?', questiona Nunes, apontando que a l�gica da amostra � justamente ter um retrato dos v�rios segmentos da sociedade: 'Mais pobres, mais ricos, que mora aqui, outros moram l�, homens, mulheres, mais jovens, mais velhos'.

Felipe Borba, da Unirio, concorda: 'Quem est� na rua [em uma manifesta��o] � diferente de quem n�o est�. � uma pessoa muito mais motivada, muito mais politicamente interessada'.

Pesquisa eleitoral versus progn�stico

Tamb�m � comum a narrativa de que pesquisas n�o t�m credibilidade pois erram resultados eleitorais. 'Nenhuma pesquisa acertou em 2018 e n�o � hora que vai acertar tamb�m', dizem publica��es.

Contudo, resultados de pesquisas s�o diferentes de progn�sticos, explicou Antonio Lavareda, cientista pol�tico vinculado ao instituto Ipespe, em evento da Abep, em 3 de maio de 2022.

'As primeiras concernem a opini�es, a prefer�ncias por candidatos, ou seja, a atitudes, ao passo que os progn�sticos dizem respeito a antecipa��es sobre as probabilidades dos diversos candidatos ganharem a elei��o e com que desempenho nas urnas, ou seja, versam sobre o comportamento dos eleitores', disse ele.

Absten��es, votos brancos e nulos, decis�o de voto tardia e o voto estrat�gico tamb�m explicam por que pesquisas n�o devem ser interpretadas como progn�sticos eleitorais, segundo Lavareda.

Al�m disso, os inqu�ritos populacionais feitos nessas pesquisas servem para fazer infer�ncias para uma popula��o delimitada 'tanto no sentido f�sico - quais s�o os elementos da popula��o - mas tamb�m no sentido de tempo', aponta Nishimura.

Entrevistados respondem em quem votariam se as elei��es fossem naquele dia. Portanto, completa Nishimura, seus resultados s�o v�lidos para aquele momento espec�fico.

O objetivo de pesquisas eleitorais, portanto, n�o � acertar resultados de elei��es, pondera Nunes:

'Pesquisa serve para descrever como a opini�o p�blica est� naquele momento, para que a gente possa entender, do ponto de vista probabil�stico, para que lado as coisas est�o caminhando'.


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