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Estado de Minas CHECAMOS

Relat�rios virais sobre elei��es de 2022 usam premissas falsas, portanto n�o comprovam fraude

Conte�do compartilhado mais de 100 mil vezes desde 4 de novembro defende que apenas o modelo de 2020 seria confi�vel por ter sido o �nico testado


07/11/2022 20:21 - atualizado 08/11/2022 07:48

Relat�rios divulgados por um site argentino se baseiam em premissas falsas para sugerir supostas anomalias nas urnas eletr�nicas usadas nas elei��es de 2022.

No conte�do, compartilhado mais de 100 mil vezes desde 4 de novembro, defende-se que apenas o modelo de 2020 seria confi�vel por ter sido o �nico testado.

Mas todos os modelos de urna usados passaram por testes, e foram utilizados nas elei��es de 2018, segundo o TSE.

Em seguida, supondo interfer�ncia nos equipamentos, confunde-se os logs, que registram as atividades da urna, com o software, o programa respons�vel pelo sistema de vota��o.

'Resumo do 'relat�rio argentino': foi uma AN�LISE DEMOLIDORAMENTE CIENT�FICA, mas, baseada em auditoria privada, lembrou o analista. Todos os dados, entretanto, s�o da base do TSE, ponto. O que a pesquisa mostrou, cientificamente falando, foi o seguinte:', diz um usu�rio no Twitter, que continua: 'urnas modernas respeitaram a vontade do eleitor. Urnas antigas, manifestaram vontade pr�pria'.

Os dados a que se refere constam em um relat�rio divulgado nas redes sociais e tamb�m em uma live do canal argentino La Derecha Diario, que foi retirada do ar por decis�o do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Alega��es similares, que ainda est�o dispon�veis em contas da p�gina nas redes sociais, circulam no Facebook, no TikTok, no Kwai e no Instagram.

A grava��o da live tamb�m foi encaminhada ao WhatsApp do AFP Checamos, para onde os usu�rios podem enviar conte�dos vistos em redes sociais, caso duvidem de sua veracidade.
Captura de tela feita em 7 de novembro de 2022 de uma publicação no Twitter
Captura de tela feita em 7 de novembro de 2022 de uma publica��o no Twitter ( .)

Os dois relat�rios, um sobre o primeiro e outro sobre o segundo turno das elei��es de 2022, circulam nas redes sociais e em sites ao menos desde 4 de novembro, quando foi anunciada uma transmiss�o ao vivo do canal La Derecha Diario para divulgar os supostos achados. A conta � conhecida por apoiar o mandat�rio Jair Bolsonaro (PL) e criticar o presidente eleito Luiz In�cio Lula da Silva (PT).

O documento que tem mais alega��es � o referente ao primeiro turno, realizado em 2 de outubro, quando Lula obteve 48,43% dos votos v�lidos e Bolsonaro, 43,20%. A disputa presidencial seguiu e, em 30 de outubro, o petista venceu, com 50,90% dos votos v�lidos, contra 49,10% de seu oponente.

O relat�rio indica 'ind�cios cruciais que tornam improv�vel a completa lisura do processo eleitoral de 2022', mas, para isso, se pauta em premissas falsas.

Testes em diferentes modelos de urna


O primeiro e principal ponto abordado no relat�rio � a suposta diferen�a entre o modelo de urna de 2020 e modelos de anos anteriores, como 2015, 2013, 2011, 2010 e 2009. Isso se daria, segundo o documento, por um processo de auditoria pelo qual o modelo mais recente teria passado, ao contr�rio dos outros.

Para Lucas Lago, engenheiro da computa��o e desenvolvedor do Projeto 7c0, o que o relat�rio chama de auditoria � a rotina de testes realizada antes das elei��es. Tanto o modelo de urna de 2020 quanto de anos anteriores passaram por esses testes de seguran�a.

Os modelos de urna de 2009, 2013 e 2015 (1, 2, 3) passaram pelo Teste P�blico de Seguran�a (TPS), evento fixo no calend�rio eleitoral, quando 'qualquer brasileiro pode apresentar um plano de ataque aos sistemas eleitorais envolvidos na gera��o de m�dias, vota��o, apura��o, transmiss�o e recebimento de arquivos', afirma o TSE.

Ainda segundo o Tribunal, as urnas eletr�nicas do modelo de 2020 que n�o estavam prontas no per�odo de realiza��o do TPS 2021 foram testadas pelo Laborat�rio de Arquitetura e Redes de Computadores (Larc) da Escola Polit�cnica da USP, al�m de ter o conjunto de softwares avaliado tamb�m pela Unicamp e pela UFPE. 'Nas tr�s avalia��es, n�o foi encontrada nenhuma fragilidade ou mesmo ind�cio de vulnerabilidade', acrescenta o �rg�o.

H� ainda os testes de integridade e de autenticidade, realizados durante a elei��o, ressalta o professor Avelino Zorzo, coordenador do grupo de confiabilidade e seguran�a de sistemas da PUCRS. Ele explica:

'As se��es que passam por teste de integridade e autenticidade s�o sorteadas na v�spera das elei��es e qualquer modelo de urna � sorteado e depois conferido para ver se elas est�o funcionando conforme a legisla��o vigente. Nem nesta, nem em outras elei��es, qualquer erro foi encontrado no funcionamento das urnas'.

No primeiro turno, por exemplo, o teste de integridade teve uma amostragem com 641 urnas, na qual 'todos os votos dados na urna conferiram com os votos em papel', disse o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, em nota do �rg�o.

Em comunicado enviado � AFP em 6 de novembro de 2022, o TSE afirma que os equipamentos antigos j� est�o em uso desde 2010 (para as urnas modelo 2009 e 2010) e que todos foram utilizados nas Elei��es 2018.
Urna eletrônica no segundo turno das eleições em uma seção eleitoral em Brasília, em 30 de outubro de 2022
Urna eletr�nica no segundo turno das elei��es em uma se��o eleitoral em Bras�lia, em 30 de outubro de 2022 (foto: AFP / Evaristo S�)

Software e arquivos de log


O segundo apontamento feito no relat�rio viralizado diz respeito ao software usado nas urnas — o programa respons�vel pelo sistema eletr�nico de vota��o — e aos arquivos de log, que t�m o registro de todas as atividades que aconteceram nas urnas.

A p�gina 66 do relat�rio sobre o primeiro turno, que concentra a maior parte das teorias sobre a suposta fraude, mostra dois logs diferentes de um mesmo modelo de urna, e com isso, conclui que haveria dois softwares (chamados tamb�m de c�digos-fonte) distintos. Mas essa � outra premissa falha, apontaram os especialistas consultados pela AFP.

'� completamente normal que um mesmo software tenha logs diferentes', diz Lago, detalhando que os logs usados no relat�rio foram realizados em momentos de intera��o de usu�rios com as m�quinas, e que comportamentos diferentes podem gerar logs diferentes.

Zorzo concorda, explicando como se d� a prepara��o das urnas, uma das intera��es que pode gerar logs diferentes: um operador carrega as urnas com informa��es das se��es eleitorais, depois s�o feitos testes para verificar se a carga est� correta.

Se estiver tudo certo, a urna � lacrada e preparada para o dia de vota��o. Mas se durante essa verifica��o algum problema for identificado, o software tem que ser carregado em outra urna. 'Esse processo fica registrado na nova urna e a que apresentou problema � retirada', conclui.

� falso, portanto, que as imagens apresentadas no documento comprovem a exist�ncia de duas vers�es de softwares, destacam os pesquisadores.

Outros problemas


Zorzo aponta que os dados apresentados no relat�rio n�o seguem 'qualquer padr�o cient�fico' e s�o escolhidos 'de forma a tentar mostrar uma linha de pensamento que se deseja'.

Apesar disso, h� falhas nas explica��es dadas para al�m dos pontos-chave. Em sua conta no Twitter, o cientista de dados Marcelo Oliveira destacou a compara��o divulgada no documento entre como seria a vota��o apenas se utilizado o modelo de urna de 2020 e se fossem utilizados modelos de anos anteriores. 'Mesmo se fosse 'roubado', Lula ainda tem maior % nas duas, ia ganhar do mesmo jeito', comentou Oliveira.
Captura de tela feita em 6 de novembro de 2022 da página 6 do relatório viral do primeiro turno, indicando o percentual de votos que seria obtido por Lula e Bolsonaro com o modelo de 2020 (E) e os demais modelos
Captura de tela feita em 6 de novembro de 2022 da p�gina 6 do relat�rio viral do primeiro turno, indicando o percentual de votos que seria obtido por Lula e Bolsonaro com o modelo de 2020 (E) e os demais modelos ( . / .)

Outro problema apontado � o fato de Bolsonaro n�o ter tido nenhum voto em algumas se��es onde urnas de modelos anteriores a 2015 foram utilizadas. As p�ginas 49 a 64 do relat�rio sobre o primeiro turno s�o dedicadas a exemplificar se��es com urnas 'afetadas' por 'resultados improv�veis' pelo fato de o presidente n�o ter sido votado como supostamente deveria.

Uma das se��es citadas � a 158 do munic�pio de Confresa, no Mato Grosso. Ali, de fato, Bolsonaro n�o teve nenhum voto. O relat�rio n�o mostra, contudo, que essa se��o fica em uma comunidade ind�gena e que todos os eleitores e eleitoras da se��o s�o ind�genas. '� comum neste tipo de localidade, bem como em �reas quilombolas, que haja converg�ncia nos votos', afirma uma nota do TSE.

Assim, mesmo que fique pr�xima a outras se��es que tiveram vota��o favor�vel ao presidente, a tend�ncia n�o necessariamente se confirma.

O AFP Checamos j� verificou diversas narrativas que questionam o funcionamento das urnas eletr�nicas (1, 2, 3).


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