Uma tabela com nome de eleitores e dados de se��es de vota��o n�o indica a exist�ncia de fragilidade nas urnas eletr�nicas brasileiras. Os dados, compartilhados milhares de vezes nas redes sociais desde 14 de novembro de 2022, s�o p�blicos e podem ser acessados por qualquer cidad�o no site da Justi�a Eleitoral.
'Sabe o que isso significa, que abriram a caixa preta do TSE, conseguiram decodificar o sistema intranspon�vel. Agora temos em m�os os nomes e votos de 100% dos eleitores. Amigos o caix�o foi aberto e a quest�o n�o � se vamos vencer, j� vencemos! Volta pra casa Xand�o!', escreveram usu�rios ao compartilhar a tabela no Twitter e Facebook.
Conte�do semelhante tamb�m foi encaminhado ao WhatsApp do AFP Checamos, para onde os usu�rios podem enviar conte�dos vistos em redes sociais, caso duvidem de sua veracidade.

A mensagem circula junto a uma tabela que atestaria a fragilidade do sistema eletr�nico de vota��o no Brasil por exibir informa��es dos eleitores, como, nome completo, unidade da federa��o, zona e se��o eleitoral.
Segundo algumas das publica��es, isso significaria que o voto n�o � realmente secreto, como determinado na Constitui��o brasileira.
A origem da tabela
A tabela foi compartilhada originalmente por Fernando Cerimedo, respons�vel pelo site argentino La Derecha Diario, que se define nas redes sociais como um canal de not�cias 'com um ponto de vista de direita'.
No in�cio de novembro, o canal argentino fez uma live para divulgar um relat�rio que supostamente provaria que houve fraude nas elei��es brasileiras de outubro, nas quais Luiz In�cio Lula da Silva (PT) venceu o mandat�rio, e candidato � reelei��o, Jair Bolsonaro (PL). O AFP Checamos mostrou que o conte�do era baseado em premissas falsas.
Em entrevista concedida em outubro de 2022, Cerimedo afirmou ser amigo do deputado federal e filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e que atua como consultor pol�tico do atual mandat�rio.
Quais s�o os dados?
Em entrevista � AFP, Marcos Simplicio, professor de Engenharia da Computa��o na Universidade de S�o Paulo (USP), apontou que as informa��es vistas na tabela foram retiradas de logs das urnas eletr�nicas.
Esses arquivos, como j� explicou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) � AFP, funcionam como um instrumento de auditoria, reunindo os registros cronol�gicos de todas as opera��es realizadas em uma urna.
No passado, os logs eram fornecidos �s entidades que participavam dos procedimentos de fiscaliza��o das elei��es, mas, em 2022, o TSE tornou p�blicos os arquivos.
De fato, o Checamos fez uma busca por alguns dos dados que podem ser vistos na tabela no site da Justi�a Eleitoral e chegou aos mesmos resultados. Por exemplo, filtrando pelo munic�pio de Juazeiro (em destaque na imagem), na Bahia (BA), 'zona 48', "se��o 60' e no setor 'log de urna', chegou-se ao nome do mesmo eleitor visto na planilha.

O mesmo aconteceu ao analisar o log da cidade de Porto Calvo, em Alagoas - o primeiro que aparece na tabela. Uma consulta pela 'se��o 54' e 'zona 14' no primeiro turno das elei��es de 2022 exibiu igualmente as informa��es contidas na imagem viral.

Mas, apesar de exibir as atividades que aconteceram nas urnas, os logs n�o mostram a rela��o entre o eleitor e o candidato escolhido, como sugerem as publica��es virais.
'Qualquer pessoa pode abrir o arquivo, abrir a mesma informa��o. � exatamente o que est� no log. O que o autor da publica��o descobriu � que a urna autentica o usu�rio, o que � bom', afirmou Simplicio.
Em entrevista anterior � AFP, Lucas Lago, mestre em Engenharia da Computa��o, deu uma explica��o semelhante.
'Em nenhum momento a urna [eletr�nica] salva a rela��o entre voto e eleitor. Isso nos testes p�blicos de seguran�a fica muito bem visto. Mesmo que algu�m tivesse acesso a todas as bases de dados. Porque n�o existe no registro digital do voto a liga��o entre o eleitor e o voto".
Tecnicamente, explica Simplicio, a urna poderia salvar a rela��o entre determinado eleitor e seus candidatos, mas nunca foi identificado 'esse salvamento de usu�rio e voto correspondente' para preservar o sigilo de voto.
O Checamos j� verificou diversas alega��es que questionam a seguran�a das urnas eletr�nicas (1, 2, 3).