
O desfile do estilista mineiro Ronaldo Fraga ontem, na Semana de Moda de S�o Paulo, provocou pol�mica nas redes sociais, por adornar com palha de a�o a cabe�a das modelos brancas. A ideia era fazer uma refer�ncia ao cabelo dos negros, ao mostrar cole��o inspirada no futebol brasileiro dos anos 1930. A proposta, por�m, n�o foi entendida desse jeito. Ativistas da causa n�o aprovaram a peruca que imitava um suposto cabelo “ruim”, o que consideraram desrespeitoso. O estilista, no entanto, se defende com o argumento de que houve um mal-entendido.
Segundo Fraga, o cabelo de palha de a�o n�o era uma homenagem aos negros, como foi divulgado, mas uma cr�tica sutil ao preconceito da elite branca da �poca. “N�o queria colocar na passarela modelos com seus cabelos loiros e lisos para ironizar esse preconceito”, justificou o estilista. Em conversa com a reportagem, ele lamentou o epis�dio. “Fiquei surpreso, mas toda discuss�o � v�lida. Estamos vivendo em uma �poca em que n�o se pode criticar nada”, considerou.
No Twitter, internautas reclamaram do desfile. Disseram que se sentiram ofendidos e que o estilista apenas refor�ou o preconceito. A ouvidora da Secretaria Especial de Promo��o da Igualdade Racial do Distrito Federal (Sepir-DF), Jacira Silva, reconheceu a inten��o do estilista de lembrar o dia contra a discrimina��o racial, mas considerou a representa��o incoerente. “A pr�tica n�o ajuda na conscientiza��o da popula��o brasileira, por usar um estere�tipo negativo”, destaca.
Sylvany Eucl�nio, secret�ria de Comunidades Tradicionais da Secretaria de Pol�ticas de Promo��o da Igualdade Racial (Seppir), conta que, por causa desse preconceito, j� teve que incentivar crian�as a tocar no cabelo crespo para sentir que n�o � palha de a�o. “Essa associa��o � feita com algo �spero, desagrad�vel.” O coordenador do N�cleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade de Bras�lia (UnB), Nelson Inoc�ncio, considerou a imagem usada pelo estilista uma representa��o jocosa e caricata. “� uma atitude que, se n�o foi ing�nua, foi c�nica. � dif�cil que algu�m n�o entenda, depois de tanto tempo, o que representa mostrar uma pessoa com peruca de bombril ‘representando’ o cabelo dos negros. Essas pr�ticas est�o desgastadas e reiteram que o Brasil precisa avan�ar muito”, ressalta.
O cabeleireiro e maquiador Marcos Costa, que assinou a beleza do desfile de Ronaldo, definiu a peruca de a�o como uma “escultura”. “A ideia para o look do desfile era ressaltar a beleza de cabelos que podem ser moldados como esculturas, n�o importando o fato de serem crespos. Foi tamb�m uma forma de subverter um preconceito enraizado na cultura brasileira. Por que o negro tem de alisar seus fios? Eles s�o lindos”, disse em um comunicado postado no Facebook.
Lena Fraga, irm� do estilista, tamb�m saiu em sua defesa na rede social: “Quando vi o desfile e vi as perucas me lembrei dela (da av� Ana, que era negra) no ato, e me emocionei. Agora v�m uns e outros se fazendo de rogados (…), acusando a doce homenagem do estilista de racismo”.
