(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Constru��o da Ferrovia do A�o deixou estrada de filhos sem pai

S�rie de reportagens vai contar a hist�ria dos filhos, das fam�lias e dos impactos gerados pela obra, que teve a constru��o anunciada h� 40 anos e virou sin�nimo de desperd�cio de dinheiro p�blico e mau planejamento.


postado em 07/04/2013 06:00 / atualizado em 07/04/2013 09:36

Daniele de Almeida, na janela, ainda sonha conhecer o pai. Sua mãe, Sônia, conta que sofreu muito com o estigma de mãe solteira.(foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)
Daniele de Almeida, na janela, ainda sonha conhecer o pai. Sua m�e, S�nia, conta que sofreu muito com o estigma de m�e solteira. (foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)
Passa Vinte e Coronel Xavier Chaves – Toda vez que Daniele de Paula Almeida escuta o barulho do trem passando ao lado da sua casa pensa no pai, que ela nunca conheceu. N�o � � toa. O pai dela trabalhou na constru��o da Ferrovia do A�o, em Passa Vinte, no Sul de Minas, e assim como outros tantos oper�rios participou da obra da fara�nica ferrovia, namorou as mo�as das pequenas cidades mineiras e deixou filhos pelo caminho. O Estado de Minas percorreu oito cidades de Minas Gerais e do Rio de Janeiro e conta a hist�ria dos filhos, das fam�lias formadas e dos impactos gerados pela obra, que teve a constru��o anunciada h� 40 anos e virou sin�nimo de desperd�cio de dinheiro p�blico e mau planejamento.

 “Nem imagino como ele �”, afirma Daniele, de 30 anos, sobre o pai. Ela � agente de sa�de na pequena cidade localizada na divisa com o estado do Rio de Janeiro e estuda Ci�ncias Cont�beis na vizinha Barra Mansa (RJ). Daniele diz n�o ter raiva do pai, que abandonou sua m�e quando soube que ela estava gr�vida, e deseja conhec�-lo. Bem-humorada, ela brinca: “Mas eu quero um pai legal”.

Renata Aparecida da Silva, de 31 anos, tamb�m n�o guarda m�goa do pai, que abandonou a fam�lia para nunca mais aparecer quando ela tinha 8 anos e a m�e, V�nia Aparecida da Silva, hoje com 49 anos, estava gr�vida do terceiro filho. “Tem 22 anos que ele sumiu, mas eu tenho vontade de encontr�-lo. N�o tenho raiva. Ele � meu pai”, afirma a moradora de Coronel Xavier Chaves, no Campo das Vertentes.

O pai de Renata, Jos� Expedito da Silva, de Ouricuri, em Pernambuco, chegou a Coronel Xavier Chaves no final da d�cada de 1970. Namorou V�nia, ent�o com 16 anos, e os dois se casaram. “Quando os pe�es vieram, minha m�e n�o deixava eu nem sair de casa. S� podia ir para a rua com ela”, recorda V�nia. Por�m, a aproxima��o com o futuro marido foi inevit�vel. “O conheci ele no dia do enterro de um pe�o”, lembra V�nia. A av� de Renata aproveitou a movimenta��o dos trabalhadores para ganhar dinheiro e lavava roupas para v�rios, o que facilitou o contato com os forasteiros.

Para se ter ideia do impacto gerado pelas obras da ferrovia, a cidade de Coronel Xavier Chaves n�o tinha mais que 900 moradores na �rea urbana no final da d�cada de 1970. “Em 1975 eu tinha um armaz�m e havia tarde que chegavam mais de 1 mil homens de uma vez. Era uma multid�o”, lembra Jo�o Batista de Resende, que foi prefeito de Coronel Xavier Chaves entre 1977 e 1983. Ele calcula que cerca de 3 mil trabalhadores se alojaram na cidade, a maior parte em acampamentos.

A cidade, assim como os outros pequenos munic�pios pr�ximos � Ferrovia do A�o, n�o ficou marcada apenas pelas m�es solteiras. � �poca as ruas da cidade n�o eram cal�adas e a movimenta��o dos caminh�es para a constru��o levantavam muita poeira. “Tinham coisas boas tamb�m. Quando precis�vamos de um caminh�o de areia ou brita para uma obra da prefeitura a companhia que fazia a obra ajudava”, destaca o ex-prefeito.

Se em Coronel Xavier Chaves, que tem 3,3 mil habitantes atualmente, o impacto foi imenso, em Passa Vinte, com 2 mil moradores, n�o foi diferente. Jos� Irineu de Almeida, de 85 anos, trabalhou por 34 anos na Rede Ferrovi�ria Federal S.A. (RFFSA) e n�o esquece os anos em que a cidade teve o cotidiano totalmente modificado. “Era gente demais e, principalmente, muitos homens”, pontua. Para que o ass�dio �s mo�as de Passa-Vinte fosse menos intenso foram criadas duas casas de prostitui��o em um distrito da cidade. Jos� Irineu recorda que mesmo com essa estrat�gia foi inevit�vel que as mo�as da cidade se relacionassem com os trabalhadores forasteiros.

Maria S�nia de Almeida, de 47 anos, a m�e de Daniele, lembra das festas e da imensa movimenta��o de trabalhadores na cidade. “Nunca poderia imaginar um movimento daqueles”, afirma. O que Maria tamb�m n�o esquece � o estigma que carregou por muito tempo por ter engravidado, aos 16 anos, e o pai da crian�a abandonado a cidade. “Aqui (Passa Vinte) � muito pequeno e as pessoas s�o conservadoras. Todo mundo ficava apontando o dedo. Era dif�cil at� sair de casa”, recorda Maria, que, por sua vez, n�o deseja encontrar o pai de sua filha.

“Quando engravidei descobri que ele namorava outras mo�as tamb�m”, lamenta. Logo ap�s ter ficado gr�vida ela soube que, para algumas, ele dizia ter outro nome. Maria s� teve certeza do nome verdadeiro quando, ap�s ficar gr�vida, uma irm� dela foi at� o escrit�rio da Andrade Gutierrez, onde ele trabalhava, e confirmou a identidade. A saber: o pai de Daniele se chama Jo�o Batista Vieira e � natural de Belo Horizonte.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)