A tend�ncia de se culpar as v�timas de homic�dio no Brasil � um dos grandes entraves ao combate � viol�ncia e � redu��o de casos que envolvem jovens braseileiros, informou o autor do Mapa da Viol�ncia 2013: Homic�dios e Juventude no Brasil, divulgado nesta quinta-feira, pelo Centro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), Julio Jacobo Waiselfisz. Para ele, essa invers�o de mentalidade entre quem � v�tima e quem � culpado gera a escassez de recursos e de medidas com o objetivo de efetivamente solucionar casos relacionados a essas pessoas, na maior parte negras.
No Mapa da Viol�ncia 2013, observa-se a tend�ncia de redu��o, em n�meros absolutos, dos casos de homic�dios de pessoas brancas, e o aumento de v�timas negras. Essa din�mica se observa em rela��o � popula��o em geral e entre os jovens.
Dos 467,7 mil homic�dios contabilizados entre 2002 e 2010, 307, 6 mil (65,8%) foram de negros. Nesse per�odo, houve decr�scimo de 26,4% nos casos de homic�dios de brancos e acr�scimo de 30,6% dos de negros. Nesses mesmos oito anos, foram mais de 231 mil homic�dios de jovens, dos quais 122,5 mil eram negros (53,1%). O decr�scimo dos casos de pessoas brancas foi de 39,8% no per�odo, enquanto, entre negros, houve acr�scimo de 18,4%.
As informa��es do estudo confirmam dados do Instituto Nacional de Geografia e Estat�stica (IBGE), de que a popula��o branca tem, em m�dia, rendimentos entre 60% e 70% superiores ao da popula��o negra e sugerem que essa realidade tem rela��o direta com o atual perfil da viol�ncia no Brasil.
De acordo com Julio Jacobo Waiselfisz, um processo de privatiza��o da seguran�a teve inicio no Brasil nos �ltimos 20 anos, com a terceiriza��o de servi�os e o surgimento de empresas especializadas, assim como j� ocorria com outros tipos de servi�os p�blicos, dos quais destacam-se a sa�de, a educa��o e a cobertura previd�nci�ria.
“O Estado fornece um n�vel de servi�o para toda a popula��o. �s vezes, esse patamar � t�o m�nimo que n�o se oferece praticamente nada. A� a l�gica que prevalece � a de que quem pode, paga a diferen�a”, disse, ao explicar o porqu� de o n�vel de seguran�a ser mais elevado em �reas com popula��o de renda mais alta e majoritariamente branca.
A partir da� ainda ocorre um outro paradoxo. Em �reas em que h� mais circula��o de renda e, consequentemente, interesses econ�micos, h� a tend�ncia de se chamar mais aten��o quando ocorrem atos de viol�ncia - tanto em rela��o � m�dia, quanto em rela��o � press�o exercida sobre o poder p�blico. Da�, a seguran�a p�blica atua de forma mais incisiva nesses locais, que, devido � pr�pria renda, podem arcar com os custos de uma seguran�a privada.
“Seguran�a p�blica tamb�m � pol�tica, o que refor�a que haja mais atua��o em bairros abastados e tur�sticos, por exemplo, do que em favelas. Assim, os abastados t�m as duas - seguran�a p�blica e privada -, e as favelas, nenhuma”, explicou Waiselfisz.
A conclus�o do estudo � a de que a viol�ncia na sociedade brasileira, especialmente entre os jovens, � o resultado de um modelo pol�tico, econ�mico e social. “Essas pessoas [jovens entre 15 e 24 anos] s�o os algozes, mas tamb�m as v�timas da viol�ncia estrutural da nossa sociedade”, finalizou o autor.