O primeiro dia do julgamento dos acusados por 73 das 111 mortes no Complexo do Carandiru, em outubro de 1992, come�ou nessa segunda-feira, 29, com o ex-chefe da Rota coronel Salvador Madia e seu superior na a��o, coronel Valter Alves Mendon�a, sentados lado a lado, nas duas primeiras cadeiras dos 23 assentos reservados aos r�us. Ao todo, ser�o julgados 26 policiais, mas tr�s n�o compareceram.
Os dois PMs mais graduados na invas�o ao 2.º andar do Pavilh�o 9 do Carandiru, assim como o resto de sua tropa, permaneceram calados a maior parte da sess�o, que come�ou com duas horas de atraso, depois da escolha dos sete jurados - todos homens, com idade m�dia acima dos 35 anos.
Reservados, os PMs tiveram apenas uma rea��o de indigna��o no depoimento da �nica testemunha de acusa��o ouvida diante dos jurados, o perito Osvaldo Negrini Neto, que vistoriou o local do crime e concluiu que n�o houve confronto. “N�o tive not�cias de policiais feridos”, disse o perito, no que imediatamente os PMs se mostraram revoltados e a advogada de defesa, Ieda Ribeiro de Souza, se levantou para acalm�-los.
Ela tamb�m pediu que a testemunha n�o respondesse a pergunta da promotoria, se o que havia visto nas celas tinha sido “um massacre”. O juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo considerou a pergunta subjetiva e a rejeitou. Fora do f�rum, a testemunha se expressou: “O que houve foi um mortic�dio”.
O perito ainda destacou que as c�psulas das balas foram removidas do 2.º andar. “Embora eu tenha visto celas com marcas de bala, n�o vi vest�gios de estojo ou proj�til”, disse Negrini. A partir da an�lise dos rastros do tiroteio, o perito concluiu que os disparos partiram dos PMs para dentro das celas. “Foi poss�vel comprovar que n�o havia disparos no sentido contr�rio. N�o havia buracos de tiros no corredor. A maioria estava dentro das celas.”
Laudo
A defesa tentou desconstruir o laudo t�cnico de Negrini. A advogada dos PMs questionou sobre o m�todo usado para garantir que os 73 detentos foram mortos nas celas onde foram encontrados. Negrini disse que a quantidade de vest�gios de disparos equivalia ao n�mero de presos da cela. Em seu depoimento, ele ainda descreveu o ambiente do massacre como um “mar de cad�veres”, em que havia v�rios objetos queimados e sangue escorria pelas escadas. Apesar do relato das cenas, os r�us n�o esbo�aram rea��o.
Eles se mantiveram sentados e s� conversaram nos intervalos, quando se cumprimentavam e abra�avam as poucas pessoas da plateia, como um dos 23 PMs condenados no j�ri anterior, em abril deste ano, a 156 anos de pris�o. Os r�us se sentaram do lado da plateia, para assistir aos v�deos das testemunhas reprisados do j�ri anterior. Foram programadas tr�s grava��es: de dois ex-detentos que sobreviveram ao massacre, Ant�nio Carlos Dias e Marco Ant�nio de Moura, e do diretor de disciplina do Carandiru em 1992, Moacir dos Santos. “Fomos brutalmente espancados”, contou Dias no v�deo.
Para evitar problemas, desta vez os jurados tiveram de passar por um exame de sa�de - dois acabaram dispensados. O primeiro julgamento, em abril, chegou a ser suspenso depois que um dos jurados passou mal.
