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Estado de Minas 'MEUS FILHOS N�O S�O CACHORRO"

Sargento do Ex�rcito teria pressionado m�e de menino raptado para entregar filho


postado em 22/09/2013 06:00 / atualizado em 23/09/2013 13:58

D. Maria mostra a única pista que tem do militar que levou Miraci: o nome e a sigla do 23º Batalhão (foto: Alessandra Mello/EM/D.A Press)
D. Maria mostra a �nica pista que tem do militar que levou Miraci: o nome e a sigla do 23� Batalh�o (foto: Alessandra Mello/EM/D.A Press)

Maria Bezerra conta que o sargento Lima “botou o olho” no Miraci pela primeira vez quando foi levar um m�dico para tratar de um de seus cinco filhos que estava doente. Para conquistar a simpatia dos moradores e quem sabe alguma pista sobre os “terroristas”, que era como os militares definiam os guerrilheiros, o Ex�rcito tinha m�dicos para tratar dos camponeses.

Passados alguns dias, segundo ela, o sargento voltou e dessa vez perguntou se ela n�o dava o “pequeninho” para ele. “‘Dona Maria, esse menino, a senhora tem coragem de dar ele?’. Falei: ‘Tenho n�o. Meus filhos n�o s�o cachorro nem gato que se d�’. A� ele come�ou a me pressionar para eu entregar o ‘frangotinho’ para ele. Vinha l� em casa sempre e dizia que eu n�o tinha condi��o de criar ele direito, que eu n�o tinha o que dar de comer para ele. Eu n�o tinha mesmo, mas eu n�o criei os outros? Ele come�ou a me torturar para eu dar o menino para ele, n�o foi de peia (surra) n�o, foi de medo”, conta dona Maria, que hoje vive em uma casa simples, mas pr�pria e muito arrumada, na zona urbana de S�o Geraldo.

Al�m da press�o, dona Maria, como todos os outros moradores da regi�o, foi proibida pelo Ex�rcito de entrar na mata. E era de l� que ela tirava o sustento da fam�lia quebrando coco de baba�u para vender e plantando feij�o e mandioca para o sustento. At� para chegar beira do Araguaia para lavar roupas e panelas tinha de pedir autoriza��o dos militares, relata. Dona Maria acabou entregando o filho, que foi levado de helic�ptero de Xambio�, nos bra�os do sargento Lima, que, do c�u , segundo ela, balan�ou o menino para a m�e ver de longe. “Esse povo tem a cara dura, eles n�o falam com a gente alegre n�o, por isso eu acabei entregando o frangotinho. Eu tinha medo que eles fizessem arte comigo e que meus filhos ficassem sem m�e, porque pai eles j� n�o tinham. E era muito medo. Cansei de ver eles pegar (sic) um rev�lver e botar na minha cara para eu dizer onde estava o Osvald�o. N�o tinha um palmo entre a boca da arma e a minha cara. E com o dedo no gatilho. ‘Meu pai n�o me criou mentindo’, dizia para eles. ‘Se tivesse visto, j� tinha contado. Se quiser me matar me mate, mas vou pela verdade’”, relata dona Maria. Osvaldo Orlando da Costa, ou Osvald�o, um dos principais e mais procurados guerrilheiros do Araguaia, morto em 1974. Um filho que o guerrilheiro teve com uma moradora local tamb�m foi levado.

Dona Maria n�o se esquece do barulho das rajadas de metralhadora, segundo ela da marca Fal (de uso exclusivo do Ex�rcito), e do tamanho das c�psulas das balas, que a popula��o catava no ch�o, no dia seguinte �s batalhas entre militares e guerrilheiros. “Dava quase um dedo de bala.” Para ela, o “tempo da guerra” foi um horror. Suas lembran�as s�o de pessoas sendo “judiadas”, “tomando peia” do Ex�rcito e impedidas de sair de casa e de entrar na mata at� mesmo para pegar alguma coisa para comer. “Eu vi baterem no finado Silvano, vi o Jo�o Medina todo maltratado por eles, vi o Jairo preso em um buraco, amarrado e judiado. Por que eu n�o ia ter medo de eles me matar? As outras tinham marido. Eu s� tinha Deus para punir por mim.”

Apesar da esperan�a de um dia encontrar Miraci, ela acha que o filho n�o ter� por ela “amor de m�e”. Mas sonha em conhecer o rosto dele, saber se est� bem e se os olhos do menino ficaram azuis ou escureceram como os dela. “Eu tentei ficar com meu frangotinho, que era bem alvinho mesmo, mas n�o consegui. N�o tinha intelig�ncia para saber como eu podia reagir �s coisas. Hoje seria diferente, porque sou formada, n�o escriturada, mas na vida. Essa � a minha hist�ria verdadeira. Se fosse no tempo de agora, seria outra.”


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