
� o caso de dona Maria Bezerra, que, mesmo 41 anos depois, ainda tem esperan�a de encontrar seu “menino”. Ela guarda uma importante pista de seu poss�vel paradeiro: uma folha de caderno, j� amarela e quase esfarelando, que carrega com a carteira de identidade. No papel est� o nome do sargento que carregou seu beb�, Jo�o Lima Filho, e 23-b-c, sigla do 23º Batalh�o de Ca�adores, nome do quartel onde ele servia em Fortaleza, capital do Cear�. O endere�o foi dado pelo pr�prio sargento e anotado nessa folha por um conhecido, pois dona Maria n�o sabe ler. “O sargento n�o era mateiro, era de posto alto”, lembra dona Maria. Segundo ela, Lima Filho trabalhava na base montada pelo Ex�rcito, na outra margem do Rio Araguaia, em Xambio�, no Tocantins. “Ele ficava l� com os coron�is e outros bich�o (sic) de colarinho branco, que a gente n�o sabia o que eles eram.” Foi o motorista do sargento Lima quem contou para dona Maria que seu patr�o tinha prometido para a filha solteirona, que tinha perdido a m�e recentemente, encontrar no Araguaia um menino para ela criar. Na �poca o sargento aparentava ter cerca de 50 anos, segundo as lembran�as de dona Maria.
Seis anos depois de Miraci ser levado, a fam�lia conseguiu juntar dinheiro para comprar a passagem para ir a Fortaleza atr�s do menino. A encarregada por dona Maria de buscar Miraci foi a filha mais velha, Maria Edileuza da Silva Rodrigues, 57 anos, hoje formada em pedagogia. Com a ajuda de amigos na capital cearense, Edileuza chegou ao quartel. N�o conseguiu passar da guarita da entrada. Depois de esperar do lado de fora foi informada pelo soldado que tomava conta da portaria que o sargento tinha sido transferido para Natal, no Rio Grande do Norte. Sem dinheiro para seguir adiante, voltou, arrasada, para S�o Geraldo. “Tinha muita esperan�a de encontrar o ‘pequeninho’”, conta chorando. Para ela, a fam�lia foi muito ing�nua quando resolveu viajar 1.350km, ainda durante a ditadura militar, com pouco dinheiro no bolso e menos informa��o ainda sobre o paradeiro do sargento Lima e de Miraci.
Em 2007, ainda esperan�osa de rever o filho, dona Maria soube de uma reuni�o de torturados da guerrilha que aconteceria na C�mara Municipal de S�o Domingos do Araguaia, cidade a 100km de S�o Geraldo, e foi para l�. Diante de deputados e representantes do governo, contou sua hist�ria em detalhes na esperan�a de que algum agente do Estado ajudasse a localizar o paradeiro do sargento Lima. At� hoje nada. Um processo de indeniza��o no Minist�rio da Justi�a foi aberto em janeiro de 2010 em nome de dona Maria e continua parado no setor de protocolo e dilig�ncia. Quatro par�grafos de um livro editado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos sobre a viol�ncia sofrida por crian�as e adolescentes durante o regime militar s�o dedicados � hist�ria de Maria Bezerra e o sumi�o de Miraci. Mas, segundo ela, ningu�m nunca foi atr�s das pistas que podem levar ao paradeiro dele.
Por meio de sua assessoria de comunica��o, o Ex�rcito disse que vai tentar confirmar a exist�ncia em seus quadros do sargento Jo�o Lima. No entanto, � preciso alguns dias, pois o banco de dados n�o � informatizado e � preciso acionar o setor administrativo da corpora��o no Cear�.
Saiba mais
A guerrilha
Araguaia � o nome do segundo maior rio do Brasil, que corta os estados do Par�, Tocantins, Goi�s e Mato Grosso. Ele tamb�m batiza o movimento de resist�ncia ao regime militar que se instalou na regi�o do rio, que marca a divisa entre Tocantins e Par�, conhecida como Bico do Papagaio, entre Xambio� (TO) e S�o Geraldo do Araguaia (PA). Os guerrilheiros, todos militantes do Partido Comunista, chegaram ao Araguaia em 1967 e passaram a viver embrenhados na mata ao lado de camponeses locais, treinando t�ticas de guerrilha e prestando servi�os para a comunidade. Em 1971, o foco de resist�ncia foi descoberto pelo Ex�rcito, que enviou 2,5 mil soldados � regi�o para ca�ar os militantes. A guerra, como os moradores se referem ao epis�dio, terminou no in�cio de 1975, quando os �ltimos l�deres do movimento foram mortos.