Al�m dos crimes de tortura seguida de morte e de oculta��o de cad�ver, os dez policiais militares da Unidade de Pol�cia Pacificadora (UPP) da Rocinha acusados de envolvimento no sumi�o do pedreiro Amarildo de Souza ser�o denunciados pelo Minist�rio P�blico por fraude processual, acusados de tentarem confundir a investiga��o. Segundo o relat�rio da Pol�cia Civil, que pede a pris�o preventiva dos dez PMs indiciados, a tortura de moradores era costumeira nos cont�ineres da sede da UPP, no topo da favela.
A mulher de Amarildo, Elisabete Gomes da Silva, comemorou a conclus�o policial. “Todos na comunidade sabiam que meu marido sumiu na m�o dos PMs. Amarildo foi nascido e criado na Rocinha, era muito querido, n�o tinha motivo para ser morto pelos traficantes. Essa hist�ria foi inventada numa tentativa de inocentar os PMs. Agora que a verdade veio � tona, s� me resta lutar para que eles sejam condenados e torcer para que o corpo apare�a. Ele merece ter um enterro digno.”
Entre os PMs que v�o responder pelos tr�s crimes h� dois oficiais: um tenente e o major Edson Santos, que comandava a UPP quando ocorreu o sumi�o, em 14 de julho. Se condenados, as penas individuais podem chegar a 30 anos. Todos negam as acusa��es. Eles afirmam que Amarildo foi ouvido e liberado em seguida. O advogado Marcos Esp�nola, que defende quatro dos dez PMs, afirmou que as provas contra os acusados s�o fr�geis. “A pol�cia quis dar uma satisfa��o � opini�o p�blica. Tenho certeza de que a fragilidade das provas resultar� na absolvi��o dos policiais pela Justi�a.”
O inqu�rito, presidido por Rivaldo Barbosa, titular da Divis�o de Homic�dios, tem 2 mil p�ginas e o relat�rio final, 180. Al�m dos depoimentos de 50 testemunhas, escutas telef�nicas foram usadas. “A den�ncia deve ser distribu�da no m�ximo at� sexta (amanh�) pelos crimes de tortura seguida de morte, oculta��o de cad�ver e fraude processual”, disse o promotor Homero das Neves Freitas Filho. Ele avalia a conduta de cada um dos acusados, mas deve concordar com os pedidos de pris�o.
Amarildo desapareceu depois de ter sido levado � sede da UPP supostamente para averigua��o. Segundo o relat�rio, a PM deteve o pedreiro em busca de informa��es sobre traficantes. Os PMs teriam torturado Amarildo para tentar obter informa��es sobre um paiol de armas do tr�fico.
O relat�rio sustenta que Amarildo n�o era associado ao tr�fico, mas tinha conhecimento do que acontecia por morar ao lado de uma boca de fumo e atuar como churrasqueiro de traficantes. No in�cio da investiga��o, o delegado Ruchester Marreiros, ent�o adjunto da 15.ª DP, tentou associar Amarildo � quadrilha e relatou que ele teria sido morto por traficantes.
Tortura
“N�o existe prova direta da tortura do Amarildo. H� provas indici�rias e depoimentos de testemunhas que dizem que era h�bito a pr�tica de tortura na UPP, com choque, saco na cabe�a, pancadaria. Sup�e-se que ele tenha morrido no parque onde fica a sede da UPP, em resultado de tortura, mas as circunst�ncias exatas n�o vamos saber, a n�o ser que um deles (PMs) resolva falar. Com certeza, segundo o relat�rio, todos (os dez PMs) concorreram para o resultado final”, disse o promotor. “Todos cometeram o mesmo crime. At� porque, se o major deu alguma ordem, ordem ilegal n�o se cumpre.”
A sa�da de Amarildo n�o foi registrada pelas c�meras de seguran�a da unidade - a c�mera da sede n�o estava funcionando. A pol�cia analisou as imagens de 80 c�meras. Ontem, o delegado disse que “h� um conjunto de provas testemunhais e de intelig�ncia que levou � convic��o” da participa��o dos dez PMs. Indagado sobre o conte�do do relat�rio, esquivou-se. “Em respeito ao MP e ao Poder Judici�rio, que ainda est�o apreciando o inqu�rito, preferimos n�o falar”, disse. Ele afirmou que n�o foram encontrados vest�gios de sangue dentro da UPP.