
Dois dos 14 jovens moradores da zona sul do Rio de Janeiro detidos no fim da noite desta segunda-feira, 3, no Aterro do Flamengo, na zona sul, sob acusa��o de tentar agredir dois rapazes de Cosmos, na zona oeste, confirmaram em depoimento ter marcado um encontro pelo Facebook para “patrulhar o Aterro em busca de potenciais autores de delitos” na regi�o, de acordo com a Pol�cia Civil.
Na sexta-feira, 31, um adolescente negro de 15 anos foi espancado e preso sem roupa pelo pesco�o, com uma tranca de bicicleta, a um poste da Avenida Rui Barbosa, no Flamengo. “Os dois casos podem ter rela��o porque o modus operandi � parecido e s�o todos garotos de classe m�dia, mas precisamos de provas”, disse a delegada da 9ª Delegacia de Pol�cia (DP), Monique Vidal, respons�vel pelas duas investiga��es.
O caso chocante do jovem preso ao poste pelo pesco�o foi revelado neste s�bado, 1, pela coordenadora da organiza��o n�o governamental (ONG) Projeto Uer�, Yvonne Bezerra de Mello. Na ocasi�o, Yvonne afirmou que ele “quase foi assassinado pelos ‘justiceiros’.” O adolescente foi socorrido por bombeiros e levado para o Hospital Souza Aguiar. A Secretaria Municipal da Sa�de afirmou que ele foi atendido por volta de meia-noite, mas “deixou o hospital � revelia” no in�cio da madrugada. Monique pediu aos pr�dios da regi�o que encaminhem imagens de c�meras de seguran�a para tentar identificar os respons�veis pelo crime.
‘Pega, vamos matar’
Os 14 detidos nesta segunda-feira por policiais militares, por volta das 23 horas, t�m idade entre 15 e 28 anos e moram em seis bairros da zona sul, segundo os boletins de ocorr�ncia. “Pega, vamos matar, s�o ladr�es”, teria dito um deles, conforme o depoimento de uma das v�timas. Na semana passada, teve grande repercuss�o o assalto sofrido no Aterro pelo ciclista Ricardo Monte, que foi esfaqueado e teve a bicicleta, o telefone celular a carteira e a mochila roubados por tr�s jovens.
Assaltos
Crimes tornaram-se recorrentes na regi�o - n�o h� dados espec�ficos para o Parque do Flamengo, mas na �rea da 9ª DP houve aumento de 60% dos assaltos a pedestres na compara��o dos dez primeiros meses de 2013, �ltimo dado dispon�vel, com o mesmo per�odo de 2012. “O Estado e a sociedade carioca n�o podem tolerar a forma��o de grupos de vigilantes privados, sob o risco de aumentar a viol�ncia e alimentar uma ‘cultura do exterm�nio’ que atinge, majoritariamente, jovens pobres e quase sempre negros”, disse nesta ter�a-feira o diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil, �tila Roque.
“Como morador do bairro do Catete e usu�rio constante do Parque do Flamengo, tamb�m me preocupo com a inseguran�a e o estado de abandono em que a regi�o se encontra. Mas isso requer uma a��o combinada de seguran�a p�blica e assist�ncia social � popula��o de adultos, jovens e crian�as que vivem naquela �rea.”
De acordo com Roque, a cena do menino negro, desnudo, preso pelo pesco�o a um poste, � “mais um alerta do quanto ainda podemos afundar como sociedade quando as institui��es p�blicas n�o conseguem responder ao estado de emerg�ncia social em que vivemos”.