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Estado de Minas INF�NCIA ESQUECIDA

Portos das cidades-sede da Copa exp�em explora��o sexual, trabalho infantil e o uso disseminado de drogas

O governo modernizou a estrutura das regi�es portu�rias, mas n�o conseguiu acabar com a viola��o dos direitos das crian�as nessas �reas


postado em 13/04/2014 07:00 / atualizado em 13/04/2014 08:03

Em Manaus (esq.), homens transportam meninas em jet skis para levá-las a pontos de exploração sexual. Na capital baiana, meninos disputam as moedas atiradas por turistas estrangeiros(foto: Monique Rene / CB / DA Press)
Em Manaus (esq.), homens transportam meninas em jet skis para lev�-las a pontos de explora��o sexual. Na capital baiana, meninos disputam as moedas atiradas por turistas estrangeiros (foto: Monique Rene / CB / DA Press)

Ao desembarcar de transatl�nticos para assistir aos jogos da Copa do Mundo, os turistas v�o se deparar com o abandono da inf�ncia brasileira. Nos portos das cidades-sede do Mundial de futebol, meninas seminuas vendem os corpos em troca de um prato de comida. Garotos franzinos carregam malas e vendem bugingangas para sobreviver. Jovens moradores de rua fumam crack � beira-mar para tentar fugir da rotina de desamparo e de desespero. O governo modernizou a estrutura das regi�es portu�rias, mas n�o conseguiu acabar com a viola��o dos direitos das crian�as nessas �reas. Os terminais mar�timos e fluviais de todo o Brasil s�o pontos para a explora��o sexual de adolescentes, o trabalho infantil e o uso de drogas.


A equipe do Estado de Minas viajou 8 mil quil�metros e visitou quatro capitais para conhecer a realidade de quem vive em �reas onde o crescimento econ�mico nem sempre � sin�nimo de avan�o social. A partir de hoje, o EM publica a s�rie de reportagens Cais do abandono, que mostrar� os principais abusos sofridos por crian�as e adolescentes em regi�es portu�rias.

O governo federal estima em R$ 33 bilh�es os investimentos em infraestrutura realizados para a Copa do Mundo em todas as cidades-sede. J� o repasse para o combate � explora��o sexual infantil no ano passado ficou em R$ 1,3 milh�o – o equivalente a 0,03% da despesa total em obras. Do total de gastos em infraestrutura, R$ 499 milh�es foram reservados para a reforma e a constru��o de terminais portu�rios.

Em Manaus, nos fins de semana, casas de palafitas vizinhas ao porto transformam-se em bares, onde garotas consomem drogas e vendem sexo a R$ 10. Homens buscam meninas em jet skis para lev�-las aos pontos de explora��o. Barcos proibidos de circular por falta de documenta��o s�o usados como mot�is, para onde s�o levadas as meninas aliciadas. "Por conta da Copa do Mundo, a fiscaliza��o fluvial intensificou-se. Tem dezenas de barcos ancorados, sem poder navegar, mas em vez de resolver o problema, os donos transformaram em motel, cobrando R$ 40 por hora", afirma Clodoaldo Santos, conselheiro tutelar de Manaus.

A desigualdade � n�tida tamb�m no Porto de Salvador. O centro hist�rico, vizinho ao terminal de embarque e desembarque, � a primeira parada dos turistas. Crian�as espalham-se pela �rea do Mercado Modelo para atrair a aten��o dos visitantes endinheirados. Nadam no mar, pr�ximo � entrada do com�rcio, � espera de estrangeiros dispostos a atirar moedas. Instru�dos por guias ou conquistados por gritos que pedem money, do alto da rampa, turistas se divertem com a disputa dos meninos pela esmola lan�ada ao mar. A postos, garotos usam fr�geis m�scaras de mergulho para enxergar as moedas no fundo da �gua. N�o raramente, crian�as cortam-se nas h�lices dos barcos aportados. "Venho desde os 5 anos. Se a gente junta cinco d�lares, os comerciantes pagam at� R$ 14", relata Duro, de 16 anos, que ganhou esse apelido por ser valente. O dinheiro catado no mar se transforma em crack.

REA��O TARDIA
Entidades de defesa dos direitos da inf�ncia chamam a aten��o para o abismo entre os valores destinados a obras e os alocados para a prote��o de meninos e meninas expostos a diversas viola��es. "Problemas graves como a explora��o existem no Brasil, sem a Copa do Mundo. Megaeventos, por�m, aumentam os fatores de vulnerabilidade e exp�em as crian�as e adolescentes a novos riscos", explica a coordenadora de programas da Childhood Brasil, Anna Flora Werneck.

A soci�loga e especialista em pol�ticas p�blicas para a inf�ncia Gra�a Gadelha percorreu todas as cidades-sede da Copa e conhece de perto a realidade dessas regi�es. Reconhece que existe um esfor�o do governo para combater a explora��o sexual, mas critica a demora para o in�cio das a��es. "O pa�s foi escolhido como sede da Copa em 2007, mas somente em 2012 o governo come�ou a elaborar a agenda de converg�ncia. Foi uma decis�o tardia, mas pelo menos representa um esfor�o para criar um m�nimo de planejamento", comenta a especialista.

 

Estrat�gia para grandes eventos

Cerca de 600 mil turistas estrangeiros e 3 milh�es de viajantes nacionais devem circular pelas cidades-sede durante a Copa, de acordo com a Embratur. Mais do que lembran�as dos jogos e da cultura local, parte dos visitantes pretende levar para casa vest�gios da dignidade de crian�as e adolescentes, que se oferecem como artigo de divers�o ou for�a de trabalho em troca de algum dinheiro.

No governo federal, a mobiliza��o para implantar uma rede de prote��o � inf�ncia durante os megaeventos come�ou em agosto de 2012, com a cria��o do Comit� Nacional para a Prote��o dos Direitos da Crian�a e do Adolescente nos Grandes Eventos. O colegiado re�ne representantes da sociedade civil, de organismos internacionais, de empresas e do governo. Tamb�m sa�ram do papel os comit�s locais, para diagnosticar as viola��es mais recorrentes e a situa��o da rede montada para combat�-las. O combate ao trabalho infantil e � explora��o sexual s�o alguns dos principais focos.

A secret�ria Nacional de Promo��o dos Direitos da Crian�a e do Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos da Presid�ncia da Rep�blica, Ang�lica Goulart, explica que a estrat�gia para os grandes eventos inclui a realiza��o de plant�es de equipes com profissionais de v�rias �reas, cria��o de espa�os tempor�rios de acolhimento e a forma��o de equipes itinerantes. "Os conselhos tutelares est�o sendo fortalecidos nas cidades-sedes, com melhoria da estrutura. Tamb�m teremos a��es complementares, como o fortalecimento do Disque 100", comenta Ang�lica. Em todos os voos internacionais que pousarem no Brasil durante a Copa, o comandante ler� uma mensagem aos passageiros alertando para o fato de que a explora��o sexual de crian�as e adolescentes � crime. (HM e LM)


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