
Luana*, de 13 anos, � uma das jovens assistidas pelo Conselho Tutelar da regi�o do Cabo. Aos 11, ela fugiu de casa pela primeira vez. Sem mala ou documentos, mudou-se para Porto de Galinhas com o marido da irm�, um homem de 28 anos, traficante e usu�rio de drogas. “Dormia com um rev�lver do lado do travesseiro para proteger a boca de fumo. Eu usava droga tamb�m, em troca, dormia com ele. Depois, ele cansou e eu tamb�m. Eu tinha 12 anos.” O nome masculino tatuado no bra�o da menina n�o a deixa esquecer que foi tratada como objeto e propriedade. Seduzida, ela deixou que o traficante a marcasse como gado. As feridas invis�veis, por�m, superam as cicatrizes externas. “Era crian�a quando ele me levou. Arrependi de ter gostado dele”, confessa. Luana � dependente qu�mica, sai com os homens da cidade em troca de uma por��o de crack ou de maconha. Em dezembro, foi estuprada por dois homens e os denunciou � Justi�a. Desde ent�o, � amea�ada de morte pelos algozes, que est�o soltos.
H� meses, Luana frequenta uma igreja evang�lica, levada pela m�e, e tenta encontrar felicidade. Planeja estudar e arrumar emprego para iniciar tratamento dent�rio. Ela nunca foi ao dentista, tamb�m n�o frequenta a escola. “N�o gosto de sonhar alto, porque chega bem ali na frente e n�o acontece. Ent�o, � melhor nem sonhar muito”, afirma, com a voz e o pensamento endurecidos.
F�RIAS A antecipa��o de f�rias por conta da Copa do Mundo pode agravar as viola��es dos direitos da inf�ncia durante o evento. “No Mundial, todas as crian�as estar�o fora da escola e n�s sabemos que muitos pais n�o t�m com quem deixar seus filhos. Dessa forma, elas ficar�o ainda mais expostas, esse � um fator de risco”, diz a coordenadora de programas da Childhood Brasil, Anna Flora Werneck.
No Porto de Salvador, onde j� � grande a circula��o de crian�as e adolescentes, o problema deve se agravar. Kelly*, de 13 aos, Marta*, de 16, e Joana*, de 17, deixaram as casas onde moravam com suas fam�lias para viver na rua. “� melhor suportar a rua do que a minha casa, com meu padrasto bebendo e infernizando a minha vida”, justificou Marta. Das tr�s, Kelly � a �nica que ainda mant�m rela��es com a fam�lia. As outras duas garotas est�o sempre juntas, para tentar se proteger da viol�ncia. Joana � filha de traficantes. N�o tem casa desde os 5 anos. Acostumou-se a receber ofertas sexuais em troca de R$ 5. Ser mulher precocemente nas ruas de Salvador exige manobras pela sobreviv�ncia. Meninas raspam os cabelos e tentam esconder os seios, para se passar por garotos. “Assim a gente fica mais de boa. At� os policiais mexem com a gente, tia”, conta Gabriela*, de 12.
Os nomes de jovens usados na s�rie s�o fict�cios, em respeito ao Estatuto da Crian�a e do Adolescente