Angra dos Reis (RJ) e Brumadinho (MG) – Os cord�es de isolamento s�o samambaias, cip�s e ra�zes grossas que, de cara, desencorajam os mais desavisados a seguir pela trilha interditada. No meio da mata, h� colch�es tragados pelos arbustos, um espelho quebrado no canto da janela e peda�os de uma antiga cadeira marcada pela lama seca, al�m de montes de entulhos de demoli��o. O cen�rio desolador e sinistro � parte das ru�nas da Pousada Sankay, em funcionamento at� a passagem de 2009 para 2010, na deslumbrante Enseada do Bananal, na Ilha Grande, em Angra dos Reis (RJ). Nas primeiras horas daquele ano novo, um deslizamento de pedras e lama vindas do alto de uma montanha p�s fim ao empreendimento e matou a estudante de arquitetura Yumi, de 18 anos, filha dos propriet�rios, os mineiros Geraldo Fl�vio e Sonia Imanishi Faraci. Dois amigos de Yumi tamb�m morreram no local.
Com madeira de portas, janelas e piso da Sankay, Geraldo e Sonia, aposentados, constru�ram uma casa num condom�nio em Brumadinho, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. Sonia tomou gosto pela cer�mica e tem trabalhado muito na produ��o de jarros, pratos e outros objetos decorativos. Transformou o barro das ang�stias na arte da supera��o. Depois de viver duas d�cadas na ilha e cinco distante dela, eles alimentam o sonho de voltar a viver perto do mar e, nem por um segundo, deixam de cultuar a mem�ria de Yumi, nome que, em japon�s, significa “caminho bonito de luz”.
Depoimento - Leandro Couri, rep�rter Fotogr�fico do EM
Decifrando signos do santu�rio
“Ao chegar a Ilha Grande para passar f�rias com a fam�lia, n�o me toquei, de imediato, que estava na regi�o onde o acidente ocorrera no r�veillon de 2009/2010. Mas, como fot�grafo eternamente apaixonado e jornalista por heran�a, senti a adrenalina e a certeza de que n�o tinha outro objetivo a n�o ser ir l� ver as ru�nas da Sankay. Durante tr�s dias, entrei na mata, onde antes era a pousada, e, aos poucos, fui decifrando alguns signos daquele santu�rio. Mesmo agora, ap�s a a��o do tempo, fica claro que tudo era tratado com amor, arte e cuidado. Os ladrilhos, como se estivesse faltando alguma escrita, me remeteram ao nome que � a jun��o das palavras japonesas ‘san” e ‘kay’; cada detalhe mostra que havia cuidado e harmonia. Nas ru�nas, est�o signos de uma estrutura constru�da em estilo r�stico, no meio da floresta tropical, e que, ap�s o acidente, est� em parte submerso e em parte emergindo na mata, deixando expostos os objetos deixados pela fam�lia Faraci ou h�spedes e at� mesmo pelos saqueadores. “Tir�vamos o que pod�amos de dia e o ladr�o roubava de noite”, conta Sonia Imanishi Faraci. (Veja mais fotos aqui)
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