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Estado de Minas

Pais de Yumi, uma das v�timas da trag�dia da Pousada Sankay, tentam superar a dor


postado em 01/03/2015 06:00 / atualizado em 01/03/2015 09:18

Geraldo e Sônia no cantinho dedicado à Yumi, morta no deslizamento: medalhas , troféus, instrumentos musicais, cinzas da menina e terra de Ilha Grande materializam a memória(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
Geraldo e S�nia no cantinho dedicado � Yumi, morta no deslizamento: medalhas , trof�us, instrumentos musicais, cinzas da menina e terra de Ilha Grande materializam a mem�ria (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )

Longe das montanhas de Minas e do mar de Angra dos Reis (RJ), duas grandes paix�es do casal, o deserto de Atacama, no Chile, foi o destino escolhido por Geraldo Fl�vio e Sonia, em outubro, para celebrar as bodas de prata. Numa altitude superior a 4 mil metros, os dois tinham um objetivo singelo: ficar mais perto do c�u e, portanto, da filha Yumi Imanishi Faraci, que, se estivesse viva, completaria 23 anos no m�s anterior. “O lugar guarda uma energia muito forte, foi bom estar ali”, revela Sonia, ao admirar da janela de casa, num condom�nio em Brumadinho, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, a natureza exuberante, e se recordar da filha �nica que morreu no r�veillon de 2009 em Ilha Grande. Estudante de arquitetura e apaixonada por esportes, sendo inclusive faixa preta em carat�, a jovem foi soterrada por lama e pedras deslizadas de uma montanha, enquanto dormia na Pousada Sankay, dos seus pais, na Enseada do Bananal. “Um dia voltaremos a Atacama. E, com certeza, a morar � beira-mar”, diz Geraldo, certo de que a experi�ncia trouxe for�a para superar a dor da perda e esperan�a para trilhar outros caminhos.


  Mais de cinco anos depois do epis�dio, ao qual Geraldo chama de “trag�dia” e Sonia, de “acidente”, o casal Faraci fala com tranquilidade dos tempos tenebrosos que passou. Na sala da resid�ncia constru�da com madeira e outros materiais vindos da Pousada Sankay, hoje em ru�nas, o casal reservou um canto para preservar a mem�ria da filha – arte e delicadeza se somam no espa�o, parecido com um altar. Na parede do fundo est� a foto da menina sorridente, e, nas laterais, registros de momentos em que ela tocava guitarra com a sua banda de garagem; encostados num m�vel, instrumentos como teclado, gaita e o primeiro viol�o; numa coluna, quadro de medalhas, entre elas as conquistadas em campeonatos de carat� e kobud�; e, em prateleiras, vela acesa, imagens de santos cat�licos e objetos pessoais. Nada chama tanto a aten��o, no entanto, como um pote sobre a mesa contendo parte das cinzas de Yumi. “Lan�amos um pouco no oceano, em Ilha Grande, numa cerim�nia debaixo d’�gua com a presen�a de 80 amigos, e um pouco do alto do Topo do Mundo, na Serra da Moeda”, conta a m�e.


Ilha Grande � a senha para que venha � tona a hist�ria que mudou a vida do belo-horizontino Geraldo e da carioca Sonia, que se mudou ainda crian�a para a capital mineira. Tudo come�ou na d�cada de 1990. Cheios de planos e com a filha pequena, os dois decidiram atender ao “chamado do mar” e iniciar vida nova em fam�lia, numa praia. “Meu pai, Akira, tinha um terreno no Bananal e nos ofereceu a propriedade. O lugar n�o tinha �gua encanada nem luz el�trica, s� t�nhamos gerador. Mesmo assim encaramos o desafio de erguer a Pousada Sankay”, conta Sonia, explicando que os ideogramas japoneses formadores da palavra significam montanha (san) e mar (kay).

Mergulhos

Estudante de arquitetura Yumi, de 18 anos. morreu na tragédia(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press/Reproducao)
Estudante de arquitetura Yumi, de 18 anos. morreu na trag�dia (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press/Reproducao)
Imposs�vel tra�ar a trajet�ria dessas duas vidas e do empreendimento em Ilha Grande sem falar de Yumi. “Sempre pensamos em dar a ela uma vida saud�vel, sem o estresse da cidade grande. Nossa filha foi criada no meio da natureza, nadava bem, era instrutora de mergulho. Foi alfabetizada por n�s, era fluente em ingl�s e japon�s. Tivemos o privil�gio de acompanhar as etapas do seu crescimento, comparecendo �s reuni�es na escola, mesmo quando a pousada estava lotada”, diz Sonia, com o semblante calmo de quem cumpriu bem a miss�o. Muitas lembran�as s�o citadas com alegria discreta e fazem parte das mem�rias familiares: “Certa vez, est�vamos na varanda e Yumi disse que o cadar�o do t�nis estava andando. Era nada mais nada menos que uma cobra coral”, recorda-se a m�e.


Tudo corria bem at� que chegou o r�veillon e os Faraci fizeram festa para desejar feliz 2010 a 54 convidados, incluindo sete amigos da filha chegados de BH. “Yumi pediu ao DJ para tocar, especialmente, Macarena, para fazer a coreografia, e Viva La Vida, da banda Coldplay, que ela amava. Dan�amos at� duas da madrugada. Nossa filha preferiu dormir com a turma, cedendo seu quarto para o av�. Quando eram 3h15, a terra da montanha, de 380 metros de altura, desceu trazendo pedras, lama e ra�zes”, conta Geraldo.

Portas Fechadas

A longa noite n�o terminaria t�o cedo – na verdade, duraria todo o ano seguinte. “Ao ouvir barulho e gritos, pulei da cama e consegui salvar Natasha, amiga de minha filha. Mas demorou muito para Yumi ser encontrada”, diz Geraldo, com a voz firme. Na manh� seguinte, chegou o resgate. “Na pousada, ocorreram estragos apenas no quarto de Yumi, mas, na regi�o do Bananal, n�o foram poucos: nove pessoas de uma fam�lia haviam morrido”, conta ele. A solidariedade de vizinhos falou mais alto e muitos donos de pousadas abrigaram os h�spedes. “Sem amigos n�o se faz nada na vida”, acredita Sonia.


Com a interdi��o da Sankay pela Defesa Civil, veio o inevit�vel colapso financeiro. A fam�lia retirou o que p�de, incluindo 68 portas, janelas, pisos, roupas de cama, eletrodom�sticos, m�veis e outros objetos. “N�o foi f�cil desfazer uma vida em apenas dois dias. Vendemos tudo, fizemos o acerto com os funcion�rios, devolvemos o sinal de pagamento aos h�spedes, embora alguns n�o tenham aceitado, e fechamos a empresa. Em Angra dos Reis, fiz um brech� em casa e vendi at� meus sapatos e roupas. Teve uma mulher que, para ajudar, comprou at� o que n�o precisava!”, conta Sonia.
Nesse torvelinho, o casal retornou a BH e foi morar com a m�e de Geraldo at� que, h� dois anos, se mudou para Brumadinho. Como os danos na pousada foram causados pela natureza, n�o houve pagamento de seguro. O que aliviou a barra foram os R$ 10 mil pagos por seguro da UFMG, espec�fico para estudantes.


Ao interagir com os vizinhos, Sonia conheceu ceramistas e viu que tinha jeito para essa arte. Acabou montando um ateli� e j� apresentou pe�as em exposi��es. Vivendo com o dinheiro da aposentadoria e o fruto de economias, os dois contam que o mundo virou de cabe�a para baixo, mas eles conseguiram entrar nos eixos. “Aprendi a praticar o desapego. Antes, tinha tudo sob controle, era pura matem�tica”, afirma Sonia, que trocou de mat�ria. Com um sorriso franco, revela que passou a valorizar a espiritualidade. (Veja mais fotos aqui)

Ver galeria . 23 Fotos Leandro Couri/EM/D.A Press
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )



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