
Segundo estado brasileiro com o maior n�mero de mortes e casos relacionados � pandemia de coronav�rus, o Rio de Janeiro luta agora para n�o ser tamb�m a segunda unidade da Federa��o – depois do Amazonas – a entrar em colapso por causa da doen�a. No estado, praticamente todos os leitos de UTI destinados ao tratamento de pessoas diagnosticadas com a doen�a est�o ocupados; o mesmo ocorre com a rede da capital fluminense. Enquanto isso, hospitais de campanha constru�dos na cidade do Rio justamente para ampliar o n�mero de vagas n�o est�o em opera��o. O motivo? Faltam m�o de obra e equipamentos.
Nesta reportagem, o Estado de Minas explica como est� a situa��o do estado, onde casos trazidos do exterior causaram rapidamente um boom de diagn�sticos positivos. O v�rus n�o poupou nem mesmo o governador Wilson Witzel (PSC) e a primeira-dama Helena Witzel.
O primeiro caso de COVID-19 foi registrado no estado foi em 5 de mar�o: uma mulher de 27 anos, moradora da cidade de Barra Mansa, que apresentou os sintomas ao voltar da Lombardia, regi�o da It�lia mais afetada pelo coronav�rus. At� ent�o, o v�rus ainda estava a 130 quil�metros da capital fluminense. No entanto, menos de 24 horas depois, a cidade do Rio j� tinha quatro casos confirmados e, 14 dias mais tarde, registrava sua primeira morte pela doen�a.
Desde ent�o, o crescimento de casos e mortes foi exponencial e as not�cias deixaram de ser apenas n�meros para se transformar em nomes e rostos de pessoas conhecidas. Para se ter uma ideia, em 26 de mar�o, 421 pessoas j� estavam diagnosticadas com a doen�a no estado e nove tinham morrido; ontem, um m�s depois, esses n�meros chegam a 7.111 e 645, respectivamente. Em compara��o, na mesma data, Minas tinha 153 casos confirmados e nenhum �bito; ontem eram 1.548 diagn�sticos positivos e 61 mortes.
O mesmo “boom” foi registrado na capital fluminense, onde em 1º de abril havia 697 casos e 24 mortes; hoje j� s�o 4.498 e 382, respectivamente.
Hoje, a cidade do Rio de Janeiro representa 63% do n�mero de casos e 59% das mortes em todo o estado. Do total de casos, 246 est�o na Barra da Tijuca e 230 em Copacabana, bairros que abrigam moradores de boa condi��o financeira. Em rela��o ao n�mero de mortes, Copacabana tamb�m est� em destaque, com 22 �bitos. No entanto, em segundo lugar, est� o Bairro Campo Grande, com 20 mortes e, em terceiro e quarto, a Tijuca e o Realengo, com 16 e 14 �bitos, respectivamente. Essas regi�es t�m valor de metro quadrado baixo em compara��o com os bairros da Zona Sul do Rio.
LOTA��O
A alta taxa de cont�gio na capital fez com que os hospitais do estado e, principalmente da cidade do Rio, ficassem lotados rapidamente. Conforme informado pela Secretaria de Estado de Sa�de (SES-RJ), na �ltima sexta-feira, todos os leitos destinados a pacientes com suspeita ou confirma��o de COVID-19 estavam ocupados. O �nico hospital que ainda tinha vagas na rede estadual era o Regional Zilda Arns, em Volta Redonda, a 137 quil�metros do Cristo Redentor – at� sexta, as taxas de ocupa��o da unidade de sa�de eram de 56% na enfermaria e 51% na UTI.
A SES-RJ ainda informou ao Estado de Minas que a taxa de ocupa��o em enfermarias da rede estadual na sexta era de 66% e de 80% em leitos de UTI – h� duas semanas, as taxas eram de 41% e 63%, respectivamente. Ao todo, 2.037 pacientes est�o internados na rede estadual; desses, 220 suspeitos ou confirmados de coronav�rus aguardavam transfer�ncia para UTIs, que podem ser reguladas para as diferentes redes, seja ela municipal, estadual ou federal.
O grande volume de pacientes extrapolou as previs�es da administra��o p�blica estadual, que criou 521 novos leitos exclusivos para o tratamento de pacientes suspeitos ou confirmados da COVID-19 e destinou outros 137 j� existentes para esse grupo. No entanto, s� na capital, 773 pacientes estavam internados na sexta-feira em unidades municipais, estaduais e federais, por suspeita ou confirma��o de coronav�rus, sendo 261 em UTIs. Conforme frisado pelas secretarias municipais e estaduais de Sa�de, esses n�meros variam diariamente, devido �s altas e �bitos de pacientes.
Na quarta-feira, a Justi�a acatou o pedido do Estado do Rio de Janeiro e deu at� 48 horas para que hospitais federais liberassem leitos livres para pacientes de outras unidades de sa�de. A magistrada � frente do caso chegou a estipular multa de R$ 1 mil por dia para aqueles diretores que n�o disponibilizarem os leitos. Por outro lado, os hospitais v�m ressaltando que n�o t�m condi��es de receber outros pacientes.

Novas estruturas fora de servi�o
Para evitar o colapso do sistema de sa�de em meio � pandemia, o estado e a cidade do Rio de Janeiro constru�ram hospitais de campanha direcionados a pacientes com suspeita ou confirma��o de COVID-19. No entanto, essas unidades ainda n�o est�o em funcionamento, j� que faltam aparelhos e profissionais de sa�de para atender os pacientes.
Ainda em mar�o, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos) anunciou um hospital de campanha no Riocentro – espa�o de conven��o, na capital. No entanto, mais de um m�s depois, o espa�o, que j� foi inaugurado, segue sem funcionar. Isso porque a administra��o municipal est� aguardando a chegada de 200 respiradores e 40 monitores da China. Ao todo, o hospital conta com 100 leitos de UTI e mais de 400 de cl�nica m�dica. A expectativa � de que o espa�o comece a receber pacientes em 1º de maio.
J� em rela��o a m�dicos e enfermeiros, Crivella diz que est� fazendo contatos com prefeitos de cidades e governadores de estados menos impactados pela doen�a para que ajudem a suprir a escassez de profissionais de sa�de. Na quarta-feira, a prefeitura abriu edital para contratar 3.922 profissionais que atuar�o na linha de frente do combate ao coronav�rus.
Al�m do Riocentro, foi inaugurado, no s�bado, um hospital de campanha no Bairro Leblon. A unidade � custeada pela iniciativa privada e conta com 200 leitos, sendo 100 de UTI. Outros 400 leitos ser�o destinados ao Maracan�, que tem previs�o de abertura nos primeiros dias de maio.
Por fim, a Secretaria de Estado informou que vai disponibilizar outros 1,8 mil leitos em 8 hospitais de campanha e um modular, que ser�o inaugurados de forma gradativa no m�s de maio em v�rias regi�es do estado, de acordo com a evolu��o da pandemia. Enquanto os hospitais n�o ficam prontos ou os aparelhos e m�dicos n�o chegam, a popula��o fluminense tem que torcer para n�o ser infectada pelo v�rus.
*Estagi�rio sob supervis�o da subeditora Rachel Botelho
Quatro perguntas para...

vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e diretor m�dico do hospital da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)*
A situa��o do Rio de Janeiro � preocupante. � poss�vel que o estado siga os passos do Amazonas?
Manaus � a situa��o mais cr�tica do Brasil atualmente, teve um colapso da rede. A gente v� o Rio de Janeiro e S�o Paulo como uma situa��o preocupante, mas S�o Paulo ainda tem uma rede hospitalar um pouco maior do que o Rio de Janeiro, mas tamb�m uma popula��o maior. Aqui no Rio de Janeiro ainda estamos com curva ascendente de casos com uma perspectiva de que o pico aconte�a nas pr�ximas duas semanas e, ainda em maio, uma manuten��o muito grande desse pico. A preocupa��o maior � se a gente vai conseguir abrir todos esses leitos que est�o sendo planejados. Se conseguirmos, vamos dar conta de atender, mas se n�o, certamente vamos entrar em colapso tamb�m.
Por que os hospitais de campanha n�o foram abertos at� hoje?
Eles n�o est�o operando justamente pela necessidade de profissionais de sa�de. H� uma dificuldade de conseguir funcion�rios de sa�de para trabalhar em hospitais, tanto nos de campanha, quanto nos que j� t�m contrata��o aberta. Nesse momento, a maior quest�o nem s�o os respiradores, apesar de isso poder ser um problema se a gente realmente conseguir abrir todos os leitos. Nesse momento, n�o s�o os respiradores que est�o afetando os hospitais. Voc� pode dizer que um ou outro hospital tem alguma dificuldade. A maior dificuldade para abrir leitos atualmente � a quest�o de profissionais de sa�de.
Como est� sendo o trabalho do senhor diariamente?
Trabalho no hospital universit�rio e a gente est� atuando no atendimento de leitos espec�ficos para COVID-19. Atualmente, estamos trabalhando para abrir mais vagas. Assim que tivermos mais profissionais de sa�de, queremos abrir 60 leitos de CTIs espec�ficos e pouco mais de 60 leitos de enfermaria. Hoje temos 21 leitos de enfermaria e em torno de 25 de CTI. Recebemos algumas doa��es de empres�rios e sociedade civil para estruturar esses leitos e estamos recebendo profissionais de sa�de entre o Minist�rio da Sa�de, a Prefeitura do Rio de Janeiro e a UFRJ. Os recursos s�o do Minist�rio da Sa�de e a contrata��o via Rio Sa�de.
Isolamento ou voltar � rotina?
Estamos em isolamento, apesar de vermos um relaxamento maior da popula��o. Aqui, a prefeitura ainda est� mantendo o distanciamento social, sabendo que as pr�ximas semanas ser�o cr�ticas e o isolamento � necess�rio. O governo do estado est� avaliando, mas provavelmente n�o deve abrir, porque estamos tendo um n�mero muito grande de casos aqui na cidade. Defendo o isolamento; n�o temos condi��es no momento de sair dele. Essa � a �nica medida que temos para conseguir atender adequadamente o n�mero de pessoas que est� chegando aos hospitais. Se o n�mero de casos aumentar abruptamente, vamos , com certeza o colapso, nos pr�ximos dias. (PL)
*Apesar de ser uma unidade de sa�de federal, o hospital da UFRJ n�o est� envolvido na a��o judicial movida pelo governo do Rio de Janeiro, j� que � ligado ao Minist�rio da Educa��o e n�o ao da Sa�de
O que � o coronav�rus?
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
Como se prevenir?
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Quais os sintomas do coronav�rus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas g�stricos
- Diarreia
Em casos graves, as v�timas apresentam:
- Pneumonia
- S�ndrome respirat�ria aguda severa
- Insufici�ncia renal
Mitos e verdades sobre o v�rus
Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o coronav�rus � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.
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