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Estado de Minas COVID-19

Coronav�rus: imunidade coletiva pode ser alcan�ada com at� 20% de infectados

Estudo publicado na plataforma medRxiv ainda est� sem revis�o


25/07/2020 14:29 - atualizado 25/07/2020 16:19

(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Um estudo publicado em 24 de julho na plataforma medRxiv, ainda sem revis�o por pares, estima que o limiar de imunidade coletiva ao novo coronav�rus (SARS-CoV-2) - tamb�m conhecida como imunidade de rebanho - pode ser alcan�ado em uma determinada regi�o se algo entre 10% e 20% da popula��o for infectada.

Caso a proje��o se confirme na pr�tica, os desdobramentos tendem a ser positivos em dois aspectos. Primeiro porque significa que � pequeno o risco de ocorrer uma segunda onda avassaladora da pandemia nos pa�ses que adotaram medidas para conter a dissemina��o da COVID-19 e hoje j� registram queda no n�mero de novos casos.

Em segundo lugar porque indica ser poss�vel para uma cidade, um estado ou um pa�s alcan�ar o limiar de imunidade coletiva mesmo tendo adotado medidas de distanciamento social que ajudam a evitar o colapso do sistema de sa�de e a minimizar o n�mero de mortes.

"Nosso modelo mostra que n�o � preciso sacrificar a popula��o deixando-a circular livremente para que a imunidade coletiva se desenvolva. Por outro lado, sugere que tamb�m n�o h� necessidade de manter as pessoas em casa durante muitos e muitos meses, at� que se aprove uma vacina", afirma � Ag�ncia FAPESP a biomatem�tica portuguesa Gabriela Gomes, atualmente na University of Strathclyde, no Reino Unido.

O modelo matem�tico ao qual a pesquisadora se refere foi desenvolvido em colabora��o com cientistas do Brasil, Portugal e Reino Unido. Entre os coautores do artigo est�o o professor do Instituto de Ci�ncias Biom�dicas da Universidade de S�o Paulo (ICB-USP) Marcelo Urbano Ferreira e seu aluno de doutorado Rodrigo Corder.

"Temos trabalhado juntos com Gabriela Gomes h� alguns anos usando essa abordagem para descrever a din�mica de transmiss�o da mal�ria na Amaz�nia brasileira, com apoio da FAPESP (Funda��o de Amparo � Pesquisa do Estado de S�o Paulo). Ela tamb�m j� havia feito alguns estudos sobre tuberculose. O modelo que usamos � diferente dos demais, pois leva em conta o fato de que o risco de contrair uma determinada doen�a varia de pessoa para pessoa", conta Ferreira.

Como explica Gomes, os fatores que influenciam o risco de um indiv�duo contrair a COVID-19, por exemplo, podem ser divididos em duas categorias. Em uma delas est�o os de ordem biol�gica, como a gen�tica, a nutri��o e a imunidade. Na outra se inserem os fatores comportamentais, que determinam o n�vel de contato com outras pessoas que cada um de n�s tem no cotidiano.

"Isso tem rela��o com o tipo de ocupa��o, o local de moradia, os meios de deslocamento e at� o perfil de personalidade. Uma pessoa que prefere ficar em casa lendo um livro tem um risco menor de se expor ao v�rus do que quem sai com muita frequ�ncia e se relaciona com muitas pessoas", diz a pesquisadora.

De acordo com Gomes, os modelos que estimaram o limiar de imunidade ao SARS-CoV-2 variando entre 50% e 70% consideram que o risco de infec��o � o mesmo para todos os indiv�duos.

"Temos visto que, no caso da COVID-19, quanto maior � o grau de heterogeneidade da popula��o, mais baixo se torna o limiar da imunidade de grupo", afirma Gomes.

M�todos

Medir em cada indiv�duo de uma popula��o cada um dos fatores que influenciam a suscetibilidade de contrair o novo coronav�rus para ent�o calcular qual seria o chamado "coeficiente de varia��o" - par�metro-chave do modelo descrito no artigo - seria algo invi�vel. Por esse motivo, os pesquisadores optaram por fazer o caminho de tr�s pra frente.
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

"Sabemos que se alterarmos o coeficiente de varia��o h� um impacto na curva epid�mica projetada pelo modelo. Decidimos ent�o fazer o reverso: usamos a curva epid�mica de pa�ses em que a epidemia j� estava em fase avan�ada para calcular o coeficiente de varia��o", explica Gomes.

A vers�o mais recente do trabalho se baseia em dados de incid�ncia (n�mero de novos casos di�rios) da B�lgica, Inglaterra, Espanha e Portugal. "Pretendemos em breve estudar os dados do Brasil e Estados Unidos, onde a epidemia ainda est� em evolu��o", diz a pesquisadora.

Segundo os autores, embora o coeficiente de varia��o seja diferente em cada pa�s, de forma geral, o limiar de imunidade coletiva tende a ficar sempre entre 10% e 20% e isso � extremamente relevante para a formula��o de pol�ticas p�blicas.

"Em locais onde o limiar de imunidade coletiva j� foi alcan�ado, a tend�ncia � que o n�mero de novos casos continue a cair mesmo se a economia for reaberta. Mas, caso as medidas de distanciamento sejam relaxadas antes de a imunidade coletiva ser alcan�ada, os casos provavelmente voltar�o a subir e os gestores devem estar atentos", afirma Corder. "Conceitualmente, ap�s atingir a imunidade coletiva, a transmiss�o tende a se prolongar caso as medidas de controle sejam retiradas rapidamente", alerta.

Segundo o relato de Gomes, em Portugal � poss�vel observar duas situa��es distintas. A regi�o norte, por onde o v�rus entrou no pa�s, foi bem mais impactada no in�cio da pandemia e agora, mesmo com a economia reaberta, o n�mero de casos novos permanece em queda. J� no sul, onde se localiza a capital Lisboa, os casos seguem tend�ncia de alta.

"Por enquanto s�o surtos localizados, em bairros de Lisboa, que est�o sendo localmente contidos por meio de testagem e isolamento de infectados. As pessoas s� foram liberadas para voltar ao trabalho em Portugal ap�s fazerem testes", conta a pesquisadora.

Situa��o parcialmente semelhante ocorre no Brasil. A regi�o de Manaus (AM), no Norte, aparentemente atingiu o pico da curva epid�mica em maio, quando houve o colapso do sistema de sa�de. Depois disso, o n�mero de novos casos tem ca�do mesmo com a economia aberta e as escolas retomando as atividades presenciais. Estudos sorol�gicos indicaram que em cidades como Manaus e Bel�m, no Par�, mais de 10% da popula��o j� tem anticorpos contra o novo coronav�rus.

J� a regi�o Sul, que registrou um pequeno n�mero de infec��es no in�cio da epidemia e onde o �ndice de soropreval�ncia na popula��o estava em torno de 1% em maio, tem registrado um aumento no n�mero de casos novos � medida que as atividades est�o sendo retomadas. Diferentemente de Portugal, o investimento em testagem e rastreamento de infectados no Brasil ainda permanece aqu�m do considerado ideal.

Como ressaltam os autores do artigo, o fato de o limiar de imunidade coletiva ser menor que o inicialmente previsto n�o diminui a import�ncia das medidas de sa�de p�blica para conter a dissemina��o do v�rus e reduzir o n�mero de mortes.

"Se algum gestor defende a imunidade coletiva como pol�tica p�blica ele est� equivocado. As medidas de controle s�o importantes para n�o sobrecarregar o sistema de sa�de. Mas o novo entendimento da din�mica de transmiss�o da COVID-19 que nosso modelo traz aponta para um cen�rio mais otimista", diz Corder.

Na avalia��o de Gomes, a ades�o �s medidas de isolamento tende a ser maior se as pessoas souberem que o sacrif�cio ser� necess�rio por um per�odo mais curto. "Quando dizemos que a epidemia s� ser� superada quando a vacina chegar, as pessoas come�am a pensar em desrespeitar as normas, pois j� n�o aguentam uma vida t�o pouco soci�vel, com tantas restri��es", diz.

Pr�ximos passos. Alimentar o modelo com dados do mundo real � a melhor forma de tornar suas simula��es e estimativas mais realistas. Com esse objetivo, Ferreira pretende testar em um estudo de campo no Acre dois pressupostos usados nos c�lculos do grupo: o �ndice de detec��o da doen�a (a diferen�a entre o n�mero real de infectados e o n�mero de casos diagnosticados) e o tempo de dura��o da imunidade contra o SARS-CoV-2.

"No trabalho, consideramos que em torno de 10% dos casos reais s�o detectados pelos servi�os de sa�de e que a imunidade contra o v�rus dura ao menos por um ano. Vamos ver se isso se confirma em uma popula��o que acompanhamos j� h� alguns anos na cidade de M�ncio Lima", conta o pesquisador.

O grupo do ICB-USP tem realizado a cada seis meses inqu�ritos domiciliares com uma amostra da popula��o da cidade acriana situada na fronteira com o Peru. Al�m de aplicar question�rios, os pesquisadores coletam amostras de sangue. A ideia � acompanhar como evolui a soropreval�ncia ao SARS-CoV-2 nessa popula��o ao longo do pr�ximo ano e observar por quanto tempo os anticorpos podem ser detectados no sangue. O trabalho conta com apoio da Fapesp.


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