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Estado de Minas Queimadas

Chamas castigam �reas de cerrado e mata atl�ntica em Minas

Estado enfrentou 1.670 inc�ndios neste m�s, aumento de 44,5% na compara��o com os registros verificados em agosto, atingindo tamb�m partes de caatinga


15/09/2020 06:00 - atualizado 15/09/2020 09:01

Focos ativos na Serra da Moeda são exemplo da preocupação na Grande BH e em cidades como Uberlândia, Uberaba e Brasilândia de Minas(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Focos ativos na Serra da Moeda s�o exemplo da preocupa��o na Grande BH e em cidades como Uberl�ndia, Uberaba e Brasil�ndia de Minas (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

No �ltimo s�bado, uma verdadeira opera��o de guerra come�ou a ser montada pelo Corpo de Bombeiros na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte para tentar conter as chamas que, desde ent�o, v�m destruindo trecho da Serra da Moeda. At� ontem, 4.200 hectares j� haviam sido consumidos pelo fogo, sendo 1 mil  dentro do Parque Monumento Natural Serra da Moeda, que corresponde a 50% da �rea total do maci�o. Al�m dos militares, brigadistas e volunt�rios trabalham para conter o inc�ndio na regi�o.

Um posto de comando foi montado na BR-040, em Itabirito, para auxiliar as equipes em campo, que tiveram o refor�o de um helic�ptero da Pol�cia Militar e apoio do Instituto Estadual de Florestas e da Cruz Vermelha, entre outras organiza��es. Junto a 49 profissionais envolvidos na opera��o, havia, tamb�m, volunt�rios de fazendas pr�ximas realizando pequenos combates locais ao fogo.

A combina��o de tempo seco com temperaturas altas, associadas ao vento, contribui efetivamente para a prolifera��o de queimadas. Apesar das caracter�sticas marcantes de setembro, um dos principais motivadores de inc�ndios � o pr�prio homem. Em Minas Gerais, de acordo com dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registrados 1.670 focos de calor somente de 1º de setembro at� ontem. 

O n�mero � 44,5% maior que o registrado em todo o m�s de agosto, quando o Inpe detectou 1.155 focos de inc�ndio pelo estado. Por outro lado, se comparado com os primeiros 14 dias de setembro do ano passado, o �ndice teve queda de apenas 2,45%, uma vez que em 2019 foram registrados 1.712 focos de calor no mesmo per�odo. A menor estat�stica dos �ltimos cinco anos (2016 a 2020) foi aferida em 2016, quando 1.002 focos foram flagrados pelo sat�lite do �rg�o federal, chegando ao �pice em 2018, quando 1.860 ocorr�ncias foram registradas.

Neste ano, dos 1.670 focos de inc�ndio registrados pelo Inpe nos primeiros 14 dias de setembro, 1.020 deles (61,1%) ocorreram em �reas de cerrado, bioma predominante em Minas. Outros 644 (38,6%) afetaram a mata atl�ntica. Apenas seis se deram na caatinga.

Na Serra da Moeda, uma das propriedades atingidas pelas chamas foi o Condom�nio Santu�rio, localizado no pr�prio maci�o florestal. V�deos enviados ao Estado de Minas mostram como as chamas se aproximaram de resid�ncias. Em um dos im�veis estava a administradora Ana Carolina Queiroga. Ela contou que, apesar de as queimadas ocorrerem nesta �poca do ano, nunca havia visto um inc�ndio de propor��es t�o grandes quanto no fim de semana. Na noite de s�bado, o fogo chegou perto da casa dela. Pouco antes, Ana, o marido e a sogra, de 82 anos, tentaram deixar o local, mas foram surpreendidos com a estrada bloqueada pelas labaredas.

“� muito ruim, porque voc� fica impotente diante daquela situa��o. Eu fiquei t�o desesperada no sentido de tentar ajudar, que peguei balde para molhar em volta da casa. � claro que ajuda, mas eu falo assim, � uma impot�ncia de uma tristeza que voc� v�”, disse Ana Carolina, ao falar sobre a rea��o ao ver as chamas pr�ximas de sua casa.

12.640 foram as ocorr�ncias de inc�ndios florestais em Minas de janeiro a agosto

Como os bombeiros n�o haviam conseguido chegar ao local das chamas naquele instante, brigadistas do pr�prio condom�nio conseguiram aliviar a gravidade da situa��o pr�ximo � casa de Ana Carolina. O trabalho de combate foi refor�ado, de acordo com a moradora do local, com dois caminh�es-pipa enviados pela Prefeitura de Moeda.

Naquele instante, a energia el�trica da regi�o havia sido desligada, uma vez que o fogo poderia alcan�ar a rede ligada � casa. O fornecimento de �gua tamb�m foi interrompido, j� que o fogo comprometeu os canos que garantiam a capta��o e distribui��o do insumo. O controle das chamas, contudo, n�o apaga a mem�ria dos momentos dif�ceis que a fam�lia enfrentou

“Eu fiquei em estado de choque de s�bado para domingo. Fiquei meio ‘abobada’. Na noite passada, ao fechar os olhos eu me lembrava apenas das chamas na minha frente”, afirmou. Al�m do susto, ficou a tristeza. Durante a conversa com a reportagem, Ana Carolina se emocionou ao falar da situa��o da natureza na regi�o, completamente levada pelas chamas. A administradora citou animais que costumam habitar a regi�o como lobo-guar�, veados e cobras. Ana n�o chegou a ver nenhum deles sem vida. Por outro lado, ela constatou a morte de p�ssaros.

Setembro quente


Entre os munic�pios que mais registraram focos de inc�ndio nos primeiros 14 dias deste m�s, est�o Uberaba e Uberl�ndia, no Tri�ngulo Mineiro, com 83 e 41 notifica��es, respectivamente. Brasil�ndia de Minas, no Noroeste do estado, aparece em terceiro lugar, com 40 ocorr�ncias.

Os meses compreendidos entre maio e agosto s�o os mais prop�cios para queimadas, uma vez que se trata de um per�odo seco, sobretudo a partir de agosto, quando as temperaturas voltam a subir na reta final do inverno. Somente no m�s passado, os bombeiros registraram 3.899 ocorr�ncias de inc�ndios florestais em Minas, sendo 513 deles na Regi�o Metropolitana da capital.

Ano passado, em todo o estado, no mesmo per�odo, foram 3.177 notifica��es, o que significa aumento de 23% neste ano. J� em rela��o aos n�meros da Grande BH, em 2019 foram 607 chamados envolvendo inc�ndios, ou seja, queda de 15%. No acumulado de 2020, entre janeiro a agosto, foram 12.640 chamados a ocorr�ncias envolvendo inc�ndios florestais, sendo 1.723 na RMBH.

Nuvens de fuma�a sobre a Zona da Mata


Na Zona da Mata mineira, os primeiros 13 dias de setembro deram mostra do quanto � preocupante o cen�rio dos inc�ndios florestais. Em 2019, foram 74 ocorr�ncias relacionadas a queimadas atendidas pelo 4º Batalh�o de Bombeiros Militar (4º BBM), sendo 43 delas na regi�o da 1ª Companhia e 31 casos na �rea da 2ª Cia. Neste ano, o n�mero subiu para 175 casos, eleva��o de 136%. Foram 135 boletins registrados na �rea de cobertura da 1ª Cia, que atende Juiz de Fora, Al�m Para�ba, Cataguases, Leopoldina e outros 34 munic�pios pr�ximos, e 40 casos nos limites da 2ª companhia, respons�vel por Ub�, Muria�, Vi�osa e cidades do entorno.

Em Par� de Minas, no Centro-Oeste do estado, uma nuvem de fuma�a pode ser vista de diversos pontos da cidade, principalmente nas �reas rurais. De acordo com levantamento realizado pelo Corpo de Bombeiros local, os registros de inc�ndio cresceram 79% neste ano. Em 2019,  foram 114 focos registrados no munic�pio, enquanto em pouco mais de oito meses de 2020, o n�mero de queimadas j� chega a 150.

O comandante da corpora��o, capit�o Lucas Ribeiro Maia, j� havia uma expectativa em rela��o ao aumento das queimadas neste ano. “Tivemos mais chuvas no ano passado, que fizeram com que a vegeta��o aumentasse muito e, somado a isso, temos agora no m�s de setembro as altas temperaturas e incid�ncia de ventos muito intensos. Temos tamb�m, �s vezes, pessoas que ateiam fogo de forma proposital”, afirmou.

1.723 foi o n�mero de focos de queimadas na Grande BH nos primeiros oito meses de 2020

Na Zona da Mata, a tenente Vanessa Leandro Filippo, do 4º BBM, ressalta o percentual muito baixo de queimadas e inc�ndios decorrentes de causas naturais. “A maioria dos casos s�o provocados pela a��o do homem, que tem a falsa ilus�o de ter controle da situa��o. A pessoa acha que, com ela, n�o vai acontecer, mas acontece, porque � muito f�cil o fogo se espalhar, com as altas temperaturas que estamos enfrentando, associado � baixa umidade relativa do ar, vegeta��o seca e aos ventos fortes”, afirma.

Como uma das principais medidas de preven��o contra as queimadas e inc�ndios, a ser adotadas por toda a popula��o, ela destaca a destina��o correta do lixo. “Isso � um ponto b�sico de respeito � sua vida e � do pr�ximo, bem como � fauna e flora. Jogar guimbas de cigarro pela janela do carro ou sacos de lixo deixados em local incorreto, com o sol e calor, abafados s�o focos de inc�ndio”, diz.

Ao fazer a capina dos lotes vagos, nunca se deve atear fogo aos restos de vegeta��o e folhas recolhidos, por menor que seja o res�duo. Em terrenos maiores, � necess�rio fazer os aceiros, faixas onde a vegeta��o foi retirada por completo da superf�cie do solo. A finalidade � prevenir a passagem do fogo para �rea de vegeta��o, para evitar queimadas ou inc�ndios. Ao fazerr fogueira em acampamentos, � importante fazer uma prote��o com pedras no entorno e retirar as folhas secas.

No in�cio do ano, devido �s chuvas fortes que assolaram a Zona da Mata mineira, as ocorr�ncias haviam diminu�do bastante. Em Juiz de Fora, no m�s de janeiro, foram 40 ocorr�ncias no ano passado ante apenas tr�s no mesmo m�s, deste ano. Em fevereiro, 47 focos ocorreram em 2019 e somente um caso, em 2020. H� um ano, o destaque, nesses dois meses, eram as queimadas em pastos e produ��es agr�colas, bem como em lotes vagos. “No in�cio do ano, as precipita��es alagaram o solo e a vegeta��o estava bastante �mida. Al�m disso, a estiagem s� come�ou mesmo em abril. De agora at� o fim do ano, a previs�o clim�tica desenha um desafio pela frente e todos t�m de fazer sua parte”, refor�a a tenente.

Frente fria � esperada no s�bado


O clima de deserto que predomina sobre a Grande Belo Horizonte e boa parte de Minas deve persistir pelo menos at� sexta-feira. A umidade relativa do ar deve chegar aos �ndices cr�ticos de 15% a 20% em praticamente todo o estado. Na capital, a m�nima, ontem, foi de 14,4°C e a m�xima passou dos 30°C. Uma frente fria deve alcan�ar o estado no fim de semana.

Os baixos �ndices de umidade relativa do ar podem ser comparados a de desertos como Atacama e Saara. “A previs�o � de que siga assim at� sexta-feira devido � atua��o de uma massa de ar continental. C�u claro, sem nebulosidade, causando tempo seco e altas temperaturas”, explica Cleber Souza, meteorologista do 5º Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

A exce��o nas previs�es est� na faixa Leste do estado, incluindo a  Zona da Mata e os vales do Jequitinhonha, Rio Doce e Mucuri, onde h� maior nebulosidade em virtude de umidade vinda do oceano e chances de chuviscos ocasionais na divisa com o Esp�rito Santo. Nas demais regi�es, haver� tempo seco e altas temperaturas.

O tempo seco favorece o avan�o de inc�ndios em vegeta��es, o que vem sendo recorrente durante este per�odo de estiagem em Minas Gerais. Tamb�m ao longo desta semana, um ciclone de grande propor��o que atua sobre o oceano dever� provocar rajadas de vento de at� 50 quil�metros por hora no Sul de Minas e na Zona da Mata e deve ser capaz de movimentar �rvores de grande porte. “Como o ciclone est� atuando bem longe, no oceano, a influ�ncia � pouca, apenas na velocidade dos ventos mesmo”, esclarece Cleber.

O ciclone est� na retaguarda de uma frente fria que j� come�ou a atuar sobre o litoral do Sudeste. Ela deve chegar a Minas Gerais no fim de semana, sem provocar quedas bruscas na temperatura, mas capaz de aumentar a umidade e melhorar a qualidade do ar.

"O primeiro impacto da frente fria ser� um aumento na temperatura, que deve ser registrado no s�bado em BH, com m�xima prevista de 35°C. Isso porque ela separa o ar quente do ar frio e devemos sentir o quente. Depois, com o aumento da nebulosidade, a sensa��o de calor diminui e a qualidade do ar melhora", observa o meteorologista. *Estagi�rio sob supervis�o da subeditora Marta Vieira


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