(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas Morte no Carrefour

Governo endossa clima favor�vel � morte de Jo�o Alberto, dizem escritores

O Estado de Minas entrevistou Jeferson Ten�rio e Paulo Scott, autores de romances que se passam em Porto Alegre em que a viol�ncia contra negros faz parte do cotidiano


20/11/2020 11:20 - atualizado 20/11/2020 18:19

Jeferson Tenório e Paulo Scott(foto: Aldeia/Renato Parada/Montagem EM)
Jeferson Ten�rio e Paulo Scott (foto: Aldeia/Renato Parada/Montagem EM)

Dois escritores que descortinam o racismo nas respectivas obras liter�rias apresentam Porto Alegre como cen�rio de viola��es cotidianas aos negros. O Estado de Minas entrevistou Jeferson Ten�rio, autor de O avesso da pele (Cia.das Letras) e Paulo Scott, de Marrom e amarelo (Alfaguara) sobre o assassinato brutal de Jo�o Alberto em uma loja do Carrefour de Porto Alegre, nesta quinta-feira (19), v�speras do Dia da Consci�ncia Negra, depois de espancado por seguran�a e com anu�ncia de um policial. As imagens que viralizaram chocam tamanha a brutalidade e viol�ncia contra o homem negro, que n�o teve qualquer chance de reagir.

Jeferson n�o conseguiu assistir ao v�deo at� o fim. "A cena � muito brutal. A gente acaba se acostumando a ver isso, mas, toda vez que a gente se depara com isso, parece ser a primeira vez". Nascido no Rio de Janeiro, Jeferson se mudou para Porto Alegre, onde vive a fam�lia. Quando tinha 13 anos e, ao longo de 30 anos na cidade, por ser negro, foi abordado 13 vezes pela pol�cia em fun��o de sua cor.

Com o livro O avesso da pele reconhecido como um dos livros mais importantes produzidos em 2020, Jeferson destaca que, na atualidade, os brasileiros passaram a dominar a gram�tica antirracista, mas as a��es de combate ao crime n�o s�o colocadas em pr�tica.

"A gram�tica antirracista se popularizou. As pessoas t�m falado sobre isso, mas o que estou percebendo � que, na pr�tica tem tido pouco efeito. Tem que haver mais a��es de cria��o de leis, dar mais oportunidade para que pessoas negras possam ocupar determinados espa�os e que n�o seja visto como favor ou vitimismo." 

No livro, Jeferson contra a hist�ria do professor Henrique que � assassinado numa desastrosa abordagem policial. O escritor tamb�m passou por situa��es de racismo em Porto Alegre. "H� um trajeto percorrido para que a morte de pessoas negras acabe se materializando."
 
"As in�meras abordagens que sofri ao longo de anos sempre foram abordagens do que eu estava fazendo ali - essa ideia de que pessoas negras n�o podem caminhar em determinados espa�os e s�o tidos como uma amea�a." 

Postura antiracista � combater os pares racistas

Jeferson destaca que o estado do Rio Grande do Sul se orgulha das origens europ�ias e n�o reconhece a cultura negra. "H� toda uma hist�ria por tr�s para que Porto Alegre seja uma capital racista". Ele lembra que a Revolu��o Farroupilha (1835-1845), motivo de orgulho para o Estado, terminou com a morte dos lanceiros negros a quem havia sido garantida a liberdade caso lutassem pela causa. Mas, os negros n�o s� n�o foram libertos, como foram mortos.
 
Ele lembra que ter uma postura antirracista � tamb�m combater os pares que sejam racistas. "Dizer para a pessoa est� cometendo racismo. � necess�rio uni�o de for�as entre brancos e negros, mas ainda vejo que estamos muito no discuro e com pouca pr�tica"

Paulo Scott destaca que Porto Alegre n�o � diferente de outras cidades do Brasil. "Temos no Brasil inteiro uma l�gica de opress�o racial expl�cita. O racismo no Brasil n�o � velado. Ele � encampado pelas for�as p�blicas. Ele � aceito, n�o enfrentado e n�o combatido, explicitamente pelas pol�ticas p�blicas", diz. Em Marrom e amarelo, Paulo narra a hist�ria de dois irm�os miscigenados que � marcada pela discrimina��o racial.
 
O escritor chama aten��o para as falas do presidente Jair Bolsonaro. "Quando voc� tem uma lideran�a nacional que nas suas falas, no discurso, n�o enfrenta essa urg�ncia nacional, na cabe�a de muita gente � est�mulo para o aumento, manuten��o e perman�ncia dessa viol�ncia sist�mica no Brasil. Tenho certeza que, neste momento, h� um avan�o no pensamento na pol�tica e nos espa�os sociais diversos de um entendimento que a viol�ncia contra as pessoas pobres, a repress�o contra as pessoas pobres, contra as pessoas de pele escura � a solu��o da civiliza��o brasileira neste momento. Tem o endosso de boa parcela da pol�tica, do Judici�rio, boa parcela do Minist�rio P�blico, boa parcela da pol�cia".

O racismo em Porto Alegre 

O combate ao racismo apareceu pouco no debate nas �ltimas elei��es de Porto Alegre. Pela primeira vez, vereadores negros formam uma bancada na C�mara Municipal, mas um candidato � prefeitura lamentou a vit�ria de candidatos negros. "Isso demonstra o quanto h� um olhar racista e preconceituoso quando pessoas negras ocupam esses espa�os. O escritor defende a��es para que n�o seja mais "um corpo negro que vire estat�stica".
 
No entanto, Paulo Scott defende que olhar Porto Alegre como um caso isolado � um erro. "Tem uma estrat�gia clara de aposta na viol�ncia, na segrega��o, no sectarismo, na nega��o expl�cita de direitos fundamentais. Isso coloca Brasil na trag�dia. L� na ponta, um seguran�a, um homem armado, enfim se acha no direito de violentar o outro". Natural de Porto Alegre, Paulo mora em S�o Paulo e destaca que l� na cidade tamb�m s�o constantes as viola��es da pol�cia em rela��o �s pessoas negras. 
 
  


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)