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Estado de Minas GERAL

Com 4,9 mi sem aula, escolas 'ca�am' alunos at� de canoa

Para evitar o abandono escolar, estrat�gias de aproxima��o entre professores e estudantes na pandemia v�o desde a canoa do Amazonas ao TikTok em S�o Paulo


20/12/2020 16:00 - atualizado 20/12/2020 17:32

As estratégias das escolas são para ensino aos garantir aos alunos (foto: Rodrigo Nunes/Esp.CB)
As estrat�gias das escolas s�o para ensino aos garantir aos alunos (foto: Rodrigo Nunes/Esp.CB)

Bem cedinho, para n�o pegar o sol a pino, canoas e lanchas voadeiras riscam o rio. Com a barra da cal�a erguida at� os joelhos, homens e mulheres, professores, completam o trajeto lamacento a p� ou a cavalo.

O destino � a casa de crian�as que vivem em regi�es remotas e ficaram sem aulas no munic�pio de Itacoatiara, a 270 km de Manaus. Em v�rias cidades do interior do Amazonas � assim que a escola tem chegado at� os alunos.

Para evitar o abandono escolar, estrat�gias de aproxima��o entre professores e estudantes na pandemia v�o desde a canoa do Amazonas ao TikTok em S�o Paulo, rede social que virou febre entre jovens urbanos.

Em um ano marcado pela falta de articula��o do Minist�rio da Educa��o (MEC), o desafio das redes de ensino de Norte a Sul � resgatar alunos que perderam o v�nculo com os estudos e dar �queles que n�o t�m acesso uma chance de aprender. Dados do IBGE de outubro indicam que 4,9 milh�es de estudantes do ensino fundamental e m�dio n�o tiveram atividades escolares. As taxas s�o piores nas Regi�es Norte e Nordeste.

"Usamos o meio de transporte que a gente puder", diz Vanessa Miglioranza, coordenadora adjunta pedag�gica de Itacoatiara. Sem recursos federais, iniciativas de munic�pios, escolas e at� a��es organizadas pelos professores ganham forma. "O importante � que a comunica��o seja estabelecida com o aluno e ele seja acolhido."

No munic�pio, � beira do Amazonas, � o rio, em suas cheias e vazantes, quem imp�e limites. E at� os pais dos estudantes fazem o papel de motoristas dos professores, em canoas, para que eles levem planos de estudos impressos �s casas dos alunos.

O risco de abandono se agrava diante do fechamento prolongado das salas de aula no Brasil - que, diferentemente de pa�ses europeus, n�o priorizou a reabertura de escolas na flexibiliza��o do isolamento. Aulas remotas funcionam pouco para aqueles que mal t�m sinal de celular. "Os trabalhos online n�o conseguiam atingir nem 50% dos alunos", calcula Sidney Figueiredo, professor de Geografia em uma escola estadual em Careiro da V�rzea, uma ilha no meio do Rio Amazonas. Com a ida dos professores at� as casas, diz, a ades�o chegou a 90%.

Professores em Vigia, a 77 km de Bel�m, no Par�, tamb�m se desdobram. Por l�, os "volantes", carros com equipamentos de som, passam pelas ruas avisando as fam�lias sobre como retirar cadernos de atividades impressos.

Professores saem em busca dos alunos que n�o devolveram nenhum material - vale at� bicicleta para chegar mais r�pido �s casas, algumas delas em palafitas. "Tinha alunos que deixaram de estudar para pescar com os pais, alguns tiveram de ajudar apanhando a�a�", diz Juciland Diego Campos, professor de Educa��o F�sica em uma escola municipal de Vigia.

A press�o para o trabalho � o que mais interrompe os sonhos dos jovens, mas at� mudan�as de endere�o s�o entraves. "Quando a aluna nos viu, come�ou a chorar", diz Campos, sobre o dia em que localizaram uma estudante do nono ano que havia se mudado para longe da escola e, por isso, n�o tinha buscado cadernos de atividades. "Ela estava preocupada, disse que n�o queria desistir e que nunca repetiu de ano. Quer ser advogada."

Rural

A mais de 3 mil quil�metros dali, a professora Selma Caldas tamb�m notava dificuldades de acesso �s aulas pela internet. Na escola rural onde trabalha, em Pinh�o, no interior

do Paran�, a maioria dos estudantes s� consegue fazer atividades impressas, mas muitos n�o iam ao col�gio para pegar os materiais porque o transporte escolar foi suspenso.

Selma usou o pr�prio carro e chegou a percorrer 50 quil�metros em um s� dia na estrada de terra para visitar os alunos. Depois, conseguiu um ve�culo da prefeitura. Mesmo quem tem um celular nem sempre sabe mexer no aparelho. Quando encontrou por acaso um aluno que passava pela estrada, deu ali mesmo a "assist�ncia t�cnica". Em uma das viagens, a Kombi emprestada nem subiu o morro. "Muitas vezes o carro n�o chega at� a casa do aluno e temos de fazer o trajeto a p�."

O dia de buscas � cansativo, diz, mas a vista, verde de mata, e o contato com os alunos compensam. "Muitos viram a import�ncia de estudar porque sentem que a gente est� preocupada." Apesar das tentativas, nem todos retornam. O trabalho no campo � uma for�a contr�ria. "Eles acharam uma forma de ganhar um dinheiro e agora n�o querem voltar", lamenta.

Outras situa��es, como a gravidez precoce, dificultam. Nas pracinhas de Ituverava (SP), Renata Pontes, diretora de um col�gio estadual, reencontrou alunas adolescentes com beb�s nos bra�os - nascidos na pandemia. Docentes e diretores da escola, fechada na pandemia, nem tiveram not�cia da gesta��o. As jovens chegavam �s pracinhas atra�das por um carro de som, que anunciava: "Aten��o, alunos, estamos na pra�a do seu bairro". Um professor, experiente na linguagem de r�dio, emprestou a voz ao an�ncio.

A ideia de levar a escola para as pra�as da cidade come�ou t�mida. "Ser� que vamos passar vergonha?", indagava-se Renata. Depois de rodar o bairro anunciando o "plant�o escolar", era preciso pedir tomada emprestada a um vizinho para ligar a caixa de som na pra�a. Ali mesmo, nos bancos, os alunos tiravam d�vidas sobre as mat�rias ou pediam ajuda com o aplicativo de aulas remotas. Se o professor do tema mais dif�cil n�o estivesse presente, a diretora telefonava. At� as m�es iam � pra�a para entender melhor como ficariam os estudos.

Segundo Renata, n�o foi simples conseguir a ades�o dos professores. O medo da contamina��o pelo coronav�rus � uma barreira, que a diretora tentou superar equipando os profissionais e entregando m�scaras tamb�m aos alunos. Para os estudantes que n�o apareceram, a escola agora faz o trabalho de porta em porta, mas a diretora teme o abandono. "Uma vez que o jovem se desvencilha da escola, � muito dif�cil voltar."

Engajamento

Na rede paulista, 500 mil alunos n�o entregaram atividade at� semana passada. Esses s�o os que mais correm risco de abandonar os estudos. Em uma rede com mais de 3,5 milh�es de estudantes, o governo usa estrat�gias diferentes para chegar � maior parte. Neste m�s, lan�ou campanha com influenciadores digitais, que passaram a publicar v�deos curtos no TikTok sobre como acessar a plataforma de aulas remotas durante a pandemia. At� o KondZilla, produtor de clipes de funk, entrou na campanha.

Para �talo Dutra, chefe de Educa��o do Unicef no Brasil, a quest�o � urgente. "S� em 2018, quase 1 milh�o de crian�as e adolescentes abandonou a escola. Com a pandemia ficamos mais preocupados ainda", diz. "N�o podemos deixar ningu�m para tr�s e � preciso ir atr�s j�, mesmo com escolas fechadas."

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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