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Estado de Minas PANDEMIA

COVID: mesmo em evid�ncia, cientistas penam para manter pesquisas no Brasil

Produ��o de vacinas em tempo recorde mostra resposta que investimentos em pesquisa cient�fica e inova��o podem dar � sociedade


03/01/2021 10:05

(foto: Marc O'Sullivan / POOL / AFP)
(foto: Marc O'Sullivan / POOL / AFP)
A crise gerada pela pandemia evidenciou a import�ncia do papel da ci�ncia na sociedade. M�dicos, cientistas e pesquisadores trabalharam dia e noite para descobrir as peculiaridades do v�rus que mudou a vida do mundo todo. E foi gra�as � ci�ncia que uma vacina, mesmo que em car�ter emergencial, p�de ser utilizada em tempo recorde, ainda no mesmo ano da descoberta da COVID-19.

O Brasil, apesar de estar inclu�do no restrito grupo de pa�ses que mais publicaram estudos sobre a doen�a, ainda � considerado emergente quando se fala do desenvolvimento cient�fico, segundo profissionais da �rea. Por�m, h� espa�o para melhorar, e o caminho passa pelo investimento e pela educa��o.

“N�s temos �reas em que o Brasil tem uma contribui��o significativa, como no setor agr�cola, no qual temos uma ci�ncia das mais representativas do mundo. Por�m, em v�rias outras �reas em que o espa�o para avan�ar � muito grande”, afirma o diretor cient�fico da Funda��o de Amparo � Pesquisa do Estado de S�o Paulo (Fapesp), Luiz Eug�nio Mello.

Apesar de n�o estar na vanguarda, o pa�s teve mobiliza��o muito elogiada no trabalho contra a covid-19. Levantamento feito pela Ag�ncia USP de Gest�o da Informa��o Acad�mica apontou o pa�s em 11º lugar no ranking de pa�ses que mais t�m publica��es cient�ficas sobre a doen�a, � frente de na��es como Holanda, Su��a e Jap�o. At� 17 de outubro, em todo o mundo, houve 168.546 publica��es cient�ficas sobre a covid, das quais, 4.029 do Brasil.

“Imunologistas, cardiologistas, epidemiologistas de tidas as �reas passaram a se dedicar ao estudo da doen�a. Isso mostra que a sociedade s� tem a ganhar ao apoiar a ci�ncia”, afirma Luiz Eug�nio. “Em dezembro, j� havia pa�ses onde o uso de vacinas j� estava aprovado. A gente tem vacinas sendo produzidas por empresas nos Estados Unidos, na Inglaterra, na R�ssia e na China”, celebra o pesquisador.

O Brasil, por�m, n�o tem nenhuma vacina com tecnologia nacional, apesar de ter dois grandes institutos que produzir�o os imunizantes no pa�s: a Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Butantan. Isso ocorre “porque o investimento em ci�ncia e tecnologia vem sendo deixado de lado”, critica Luiz Eug�nio.

O imunologista e pesquisador da Universidade de S�o Paulo (USP) Gustavo Cabral trabalha diretamente com o desenvolvimento de vacinas e acredita que o maior problema � a falta de estabilidade no investimento cient�fico. “Nos pa�ses desenvolvidos, os recursos para pesquisa s�o est�veis. N�o importa a mudan�a de governo, ou altera��o pol�tica, o investimento em ci�ncia, tecnologia e inova��o � sempre o mesmo. Por isso, a produ��o � cont�nua e deixa uma base de estabilidade para dar uma resposta a uma poss�vel pandemia de forma diferente”, explica.

No Brasil, a regra � a instabilidade. “Muitas vezes a gente desenvolve um trabalho e, quando estamos pr�ximos de chegar a conclus�es, h� corte de verbas, perdemos estudantes, estrutura, e vai tudo por �gua abaixo. Temos que come�ar a remar novamente. Isso nos destr�i cientificamente”, avalia Cabral.

Projeto

Luiz Eug�nio, da Fapesp, acredita que o Projeto de Lei Complementar (PLC) nº 135/2020, que veda a limita��o de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Cient�fico e Tecnol�gico (FNDCT), ajudar� na manuten��o dos investimentos na ci�ncia. O projeto, de autoria do senador Izalci Lucas (PSDB-DF), foi aprovado pelo Senado e pela C�mara dos Deputados e, agora, depende de san��o presidencial. Segundo a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ci�ncia (SBPC), em 2020, dos R$ 5,4 bilh�es arrecadados pelo fundo, R$ 4,8 bilh�es, quase 90%, deixaram de ser aplicados na �rea porque ficaram bloqueados na reserva de conting�ncia pelo governo.

Cabral conta que testemunhou os benef�cios da estabilidade dos investimentos em ci�ncia no per�odo que passou no Instituto Jenner, da Universidade de Oxford, exatamente onde surgiu a vacina desenvolvida pela universidade inglesa com o laborat�rio sueco Astra Zeneca. Ele foi para a Inglaterra em 2014, em um programa de p�s-doutorado que tamb�m passou pela Universidade de Berna, na Su��a, e s� voltou para o Brasil no fim de 2019.

“Em 2020, antes de come�ar a trabalhar com novas tecnologias para vacinas , imaginei que iria tirar tr�s meses de f�rias, mas a pandemia chegou e mudou os planos”, conta. Com isso, teve que adaptar o projeto, que tinha como alvo o desenvolvimento de imunizantes para a chikungunya e o zika v�rus, e incluir a covid-19.

Quatro perguntas/ Ester Sabino

Pesquisadora que coordenou o primeiro sequenciamento do genoma do novo coronav�rus no Brasil, imunologista da Faculdade de Medicina da USP fala sobre as condi��es de trabalho dos cientistas no Brasil

Mesmo com interfer�ncia pol�ticas e ideol�gicas, a ci�ncia conseguiu se sobrepor?
A ci�ncia � feita por pessoas com vis�es ideol�gicas de todos os grupos. O que � importante para se fazer uma ci�ncia � a t�cnica. Isso � essencial na �rea de ci�ncia. Seguramente a resposta do Brasil, a um n�vel federal, n�o foi uma resposta baseada em ci�ncia. Essa foi a primeira vez que eu vi o Brasil n�o seguindo nenhuma das regras de tudo o que foi um esfor�o de anos. Todas as epidemias que j� existiram foram muito mais bem pautadas pelo conhecimento cient�fico do que essa.

Concorda que o Brasil e o mundo “avan�aram uma d�cada em um ano”?
Com certeza. A rapidez no desenvolvimento das vacinas contra a covid-19 � fruto desse esfor�o. Isso vai mudar muita coisa, como a nossa capacidade de fazer vacina. A Vacina da Pfizer, por exemplo, � muito interessante, porque � baseada na tecnologia de RNA. � muito mais f�cil de produzir, d� uma seguran�a a outras ag�ncias de que a gente tamb�m consiga.

Essa nova tecnologia pode nos dar respostas positivas contra outros v�rus, outras doen�as?
Exatamente. O que vai mudar � que vai ser mais f�cil fazer vacina para outros agentes. Ou mesmo se a gente mudar, acontecerem muta��es muito importantes, fica mais f�cil fazer uma segunda vers�o da vacina.

� importante, ent�o, incorporar esse tipo de tecnologia? Isso � uma necessidade no Brasil, para al�m da compra da vacina?
O Brasil precisa p�r recurso em ci�ncia e em educa��o. N�o se formam a cadeia de produ��o, de desenvolvimento, sem esses fatores. Precisamos nos esfor�ar para ter essa capacidade instalada aqui: para o diagn�stico, para vacina, para poder responder � epidemia. N�o se pode admitir queda de investimento nessa �rea no Brasil. Temos de combater esses grupos antivacinas, porque s� vamos conseguir controlar a epidemia se muita gente tomar a vacina.


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