A aprova��o da CoronaVac (Sinovac/Instituto Butantan) e da CoviShield (FioCruz/Universidade de Oxford/AstraZeneca) representou um enorme avan�o para conter a pandemia de covid-19, que j� vitimou quase 210 mil brasileiros.
Em meio a tanta expectativa e planejamento, a popula��o brasileira est� cheia de d�vidas e perguntas a respeito dos produtos e, claro, de como vai acontecer a campanha nacional de imuniza��o contra a covid-19.
Prova disso � um levantamento feito pelo Google, ao qual a BBC News Brasil teve acesso com exclusividade.
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Confira abaixo as quest�es mais comuns e as respostas para elas.
1. O que significa uso emergencial da vacina?
O uso emergencial � uma aprova��o que as ag�ncias regulat�rias, como a Anvisa no Brasil e a FDA nos Estados Unidos, d�o a determinados produtos em car�ter provis�rio e por um tempo determinado.
Essa libera��o se baseia nas an�lises preliminares dos testes cl�nicos. Esses estudos acompanham milhares de volunt�rios e geralmente demoram alguns anos para serem finalizados.
O problema � que, durante uma pandemia que afeta milh�es de pessoas em todos os continentes, � imposs�vel esperar tanto tempo para encontrar uma solu��o.
Para acelerar um pouco esse processo, os cientistas determinam um n�mero m�nimo de eventos. Em outras palavras, isso significa uma quantidade de participantes do estudo que pegam covid-19.
A partir da�, � poss�vel fazer compara��es e c�lculos para determinar uma taxa de efic�cia do imunizante e saber se ele � seguro e n�o provoca efeitos colaterais graves.
A CoronaVac e a CoviShield passaram por todo esse processo nos �ltimos meses e mostraram capacidade para conter a infec��o pelo coronav�rus. Por isso, foram aprovadas para uso emergencial no Brasil.
� importante mencionar que isso n�o significa que os estudos acabaram: eles continuar�o pelos pr�ximos meses para garantir que essas observa��es iniciais se mant�m ao longo do tempo.
A partir dos dados completos, ser� poss�vel pedir a autoriza��o definitiva dos produtos num futuro pr�ximo.
2. O que � imunogenicidade?
A imunogenicidade � a capacidade que uma vacina tem de gerar uma resposta imune e fazer com que uma pessoa fique protegida contra determinada doen�a.
"A partir do momento em que aplicamos as doses, o imunizante vai induzir uma produ��o de anticorpos que v�o nos resguardar contra determinado v�rus ou bact�ria", explica o m�dico Fabiano Ramos, coordenador do Servi�o de Infectologia do Hospital S�o Lucas da Pontif�cia Universidade Cat�lica do Rio Grande do Sul.
Pelos estudos feitos at� o momento, a CoronaVac e a CoviShield tem uma boa imunogenicidade. O que ainda n�o se sabe � quanto tempo essa prote��o dura — ser� preciso acompanhar os volunt�rios por mais tempo para obter essa resposta.
Pode ser que essas vacinas precisem de doses de refor�o a cada seis, 12 ou 24 meses (como acontece com as vacinas contra a gripe).
Outra possibilidade � que o efeito delas na imunidade seja duradouro (como no caso dos imunizantes que resguardam contra a febre amarela e o sarampo, por exemplo).
3. Quando come�a a vacina��o?
As primeiras doses j� foram aplicadas ontem mesmo, logo ap�s a aprova��o pela Anvisa. A primeira brasileira a receber a CoronaVac foi a enfermeira M�nica Calazans, de 54 anos, que trabalha no Instituto de Infectologia Em�lio Ribas, em S�o Paulo.
A CoviShield ainda deve demorar um pouco para ficar dispon�vel. Os primeiros frascos do produto ser�o importados e a previs�o � que cheguem ao pa�s nas pr�ximas duas semanas. A FioCruz, que vai produzir essa vacina em territ�rio nacional, aguarda a chegada de insumos para iniciar a fabrica��o.
De acordo com o site Our World in Data, at� o momento 112 brasileiros foram vacinados. A expectativa � que esse n�mero aumente bastante nos pr�ximos dias.
Os lotes da CoronaVac j� come�aram a ser distribu�dos e chegaram em algumas localidades, como Distrito Federal, Piau�, Santa Catarina e Goi�s.
4. O que � vacina placebo?
Esse termo "vacina placebo", na verdade, est� errado. Uma coisa � vacina e outra completamente diferente � o placebo.
Acontece que, durante os testes cl�nicos antes da aprova��o, os cientistas precisam saber se o imunizante � seguro e eficaz.
Para isso, os volunt�rios s�o divididos em dois grupos. O primeiro toma doses do produto ativo, que vai gerar aquela imunogenicidade que explicamos um pouco mais acima.
J� o segundo recebe doses de placebo, uma subst�ncia sem nenhum efeito no corpo.
A expectativa � que, na compara��o dos resultados, o grupo que foi vacinado esteja mais protegido contra determinada doen�a infecciosa em rela��o �queles que receberam placebo.
5. Quantas vacinas o Brasil comprou?
Por enquanto, est�o autorizadas no Brasil a CoronaVac (Instituto Butantan/Sinovac) e a CoviShield (FioCruz/Universidade de Oxford/AstraZeneca).
No momento, 6 milh�es de doses da CoronaVac s�o distribu�das pelos Estados. O Instituto Butantan calcula que tem capacidade de produzir 46 milh�es de doses at� abril.
Cerca de 2 milh�es de doses da CoviShield devem chegar ao pa�s nas pr�ximas duas semanas. A FioCruz promete entregar 100 milh�es de doses desta vacina durante o primeiro semestre de 2021.
Algumas concorrentes j� possuem acordos com governos estaduais. � o caso da Sputnik V (Instituto Gamaleya de Pesquisa), que tem inten��o de compra no Paran� e na Bahia. Mas sua distribui��o depende do aval da Anvisa — recentemente, a ag�ncia pediu mais dados sobre os estudos deste imunizante para poder tomar a decis�o.
H� concorrentes j� aprovados em outros pa�ses, como aqueles produzidos por Pfizer/BioNTech e Moderna, mas eles n�o t�m previs�o de chegada ao Brasil.
6. O que fazer quando se perde a carteira de vacina��o?
Para a campanha de imuniza��o contra a covid-19, isso n�o ser� um problema. "Os postos de vacina��o v�o estar preparados para fornecer algum tipo de comprovante, mesmo que o cidad�o n�o tenha a carteirinha antiga", prev� Ramos, que foi o coordenador das pesquisas com a CoronaVac em Porto Alegre.
Ainda n�o h� orienta��es espec�ficas, mas espera-se que na hora da vacina��o contra a covid-19 as pessoas levem algum tipo de documento de identifica��o, apresentem o Cart�o Nacional de Sa�de ou informem o n�mero do CPF.
Em alguns casos, ser� necess�rio comprovar de alguma maneira que voc� faz parte dos grupos priorit�rios (falaremos mais sobre esses grupos na pr�xima pergunta).
No entanto, � essencial que todos guardem sua carteirinha de vacina��o com muito cuidado. Ali est�o informa��es important�ssimas de sa�de.
Muitas vezes, se o indiv�duo n�o sabe se tomou determinado imunizante e perdeu esse documento, ele precisa repetir todo o esquema vacinal contra uma doen�a ou outra.
� importante tamb�m que todos atualizem sua carteirinha de tempos em tempos. H� vacinas que precisam ser tomadas na inf�ncia, na adolesc�ncia, na fase adulta e ap�s os 60 anos.
A Sociedade Brasileira de Imuniza��es possui um site com o calend�rio atualizado com recomenda��es de vacina��o para todas as faixas et�rias e situa��es espec�ficas.
7. Como ser� a vacina��o no Brasil?
O Minist�rio da Sa�de lan�ou um plano nacional de imuniza��o contra a covid-19 no final de dezembro de 2020.
Nesse documento, foram definidos os grupos priorit�rios e algumas etapas do processo. Em resumo, o esquema e o p�blico-alvo foram definidos da seguinte forma:
- Primeira fase: trabalhadores da �rea da sa�de, ind�genas, indiv�duos com mais de 75 anos e pessoas com mais de 60 anos que vivem em asilos e hospitais;
- Segunda fase: idosos de 60 a 74 anos;
- Terceira fase: pessoas com comorbidades, como diabetes, hipertens�o grave, doen�a pulmonar obstrutiva cr�nica, doen�a renal, doen�as cardiovasculares e cerebrovasculares, indiv�duos transplantados, com anemia falciforme, c�ncer, obesidade grau III ou defici�ncia permanente severa;
- Quarta fase: trabalhadores da educa��o, popula��o em situa��o de rua, membros das for�as de seguran�a e salvamento, trabalhadores do transporte coletivo e transportadores rodovi�rios de carga, funcion�rios do sistema prisional e popula��o carcer�ria.
Esse planejamento pode ser acelerado ou sofrer atrasos, a depender da chegada das doses das vacinas.
Ainda n�o h� um calend�rio de como esses grupos ser�o atendidos ou quando cada um deles deve procurar um posto de sa�de.
Uma estrat�gia sugerida por especialistas � refor�ar a vacina��o nos locais onde a situa��o da covid-19 est� mais grave.
Isso poderia trazer al�vio ao sistema de sa�de e garantir uma melhora mais r�pida no panorama da pandemia.
8. Onde vai come�ar a vacina��o contra o coronav�rus?
O Minist�rio da Sa�de afirma que as doses das vacinas ser�o distribu�das por todo o pa�s de forma igualit�ria, de acordo com a popula��o de cada local.
Os Estados j� est�o come�ando a receber os seus lotes e devem aplicar as vacinas nos profissionais da sa�de durante os pr�ximos dias - alguns j� iniciaram na segunda-feira, como Goi�s e Rio Grande do Norte.
9. Quem ser�o os primeiros a serem vacinados?
Os primeiros vacinados contra a covid-19 ser�o os profissionais da sa�de. Na sequ�ncia, a prioridade ser� de ind�genas e idosos. Mas qual a raz�o dessa prioridade?
"Em primeiro lugar, isso tem a ver com a exposi��o ao v�rus. M�dicos, enfermeiros e outros trabalhadores da linha de frente est�o sob grande risco e precisamos proteger logo essas pessoas", justifica Ramos.
J� idosos e ind�genas s�o popula��es vulner�veis, que correm mais risco de sofrer com o agravamento e morte por covid-19.
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10. Como cadastrar para a vacina��o para a covid-19 pelo SUS?
No momento, n�o h� orienta��es para fazer cadastro em nenhum site ou aplicativo. "� prov�vel que as secretarias municipais e estaduais de Sa�de de cada lugar se organizem de formas diferentes", diz Ramos.
O governo de S�o Paulo, por exemplo, lan�ou o site Vacina J�, para que os paulistas tenham informa��es sobre os locais de aplica��o das doses e fa�am um pr�-cadastro.
Por enquanto, somente trabalhadores da �rea de sa�de e ind�genas devem preencher as informa��es por l�.
Nesse momento � bom tomar cuidado com fraudes e pegadinhas: o Minist�rio da Sa�de diz que n�o vai realizar agendamentos e nem envia c�digos pelo celular para usu�rios do Sistema �nico de Sa�de (SUS).
A melhor coisa a se fazer por ora � aguardar novas orienta��es que ser�o dadas pelas autoridades de sa�de em breve.
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