
Segundo a pasta, “as doses iniciais oferecidas ao Brasil seriam mais uma conquista de marketing” para os produtores da vacina e “causaria frustra��o em todos os brasileiros, pois ter�amos, com poucas doses, que escolher, num pa�s continental com mais de 212 milh�es de habitantes, quem seriam os eleitos a receberem a vacina”.
Pelo que informou o Minist�rio, a Pfizer/BioNTech entregariam 2 milh�es de doses no primeiro trimestre de 2021, sendo dois lotes inicais de 500 mil unidades e um terceiro com um milh�o de vacinas, “com possibilidade de atraso na entrega”.
A nota diz, ainda, que “as cl�usulas leoninas e abusivas que foram estabelecidas pelo laborat�rio criam uma barreira de negocia��o e compra”.
Cr�ticas de cientistas
A manifesta��o do Minist�rio rendeu cr�ticas. Especialistas afirmaram que, para um pa�s que acumula 216 mil mortes causadas pela COVID-19, com um total de 8,8 milh�es de casos confirmados da doen�a, qualquer a��o para disponibilizar mais vacinas seria bem vinda.
O bi�logo e pesquisador �tila Iamarino, p�s doutor em microbiologia pela Universidade de S�o Paulo e pela Yale University, fez duras cr�ticas � estrat�gia governamental brasileira nas negocia��es com a Pfizer.
“‘Recebemos sim essa oferta de 70 milh�es de doses de vacinas que poderiam cobrir quase todos grupos priorit�rios em grandes cidades, mas escolhemos em nome dos brasileiros que eles preferem morrer de asfixia’; 70 milh�es de doses de vacinas da Pfizer n�o acabariam com a COVID no Brasil, al�m de serem dif�ceis de transportar e aplicar fora de grandes metr�poles. Mas poderiam salvar dezenas ou centenas de milhares de pessoas se aplicadas em grupos priorit�rios nos grandes centros”, declarou o cientista pelo Twitter.
Sabe aquela hist�ria da vacina no mercado particular, que 5 milh�es de doses seriam complementares � vacina��o p�blica?
%u2014 Atila Iamarino (@oatila) January 24, 2021
Se isso � prioridade, pq jogamos 70 milh�es de doses de vacinas %u2013 as primeiras aprovadas no mundo %u2013 no ralo? https://t.co/MzUykR7RMi
M�rcio Sommer Bittencourt, doutor em cardiologia pela Universidade de S�o Paulo, tamb�m reprovou a manifesta��o do Governo Federal e as contradi��es entre a nota e as declara��es da Pfizer.
“S� faltou mencionar que Bolsonaro disse que n�o comprou porque ningu�m veio vender. A carta deixa claro que a Pfizer veio tentar vender, tr�s vezes quem n�o quis foi o governo (...) Segundo o general pezadello n�o dava para comprar vacina porque a Pfizer n�o ia entregar o diluente. N�o compramos a vacina porque a Pfizer n�o entregou soro fisiol�gico junto? Log�stica a especialidade dele, certo?”, disse em uma s�rie de posts na rede social.
Segundo o general pezadello n�o dava para comprar vacina porque a Pfizer n�o ia entregar o diluente.
%u2014 Marcio S Bittencourt (@MBittencourtMD) January 24, 2021
N�o compramos a vacina porque a Pfizer n�o entregou soro fisiol�gico junto?
Log�stica a especialidade dele, certo? https://t.co/I20TVYj2Va
J� Thomas Conti, cientista de dados e doutor em economia pela Universidade Estadual de Campinas, foi ainda mais incisivo na reprova��o e destrinchou “ponto a ponto as mentiras, erros l�gicos, falta de bom senso, omiss�es e crimes dessa grande farsa dessa nota.”
Conti classifica a alega��o de que a Pfizer ofereceu poucas doses como “uma hipocrisia sem igual” e afirma que “sem acordo, teremos ainda menos doses”.
Governo Federal @govbr emitiu uma nota oficial "explicando" por que n�o fizeram acordo com a Pfizer. Segue ponto a ponto as mentiras, erros l�gicos, falta de bom senso, omiss�es e crimes dessa grande FARSA dessa nota. Segue o fio%uD83D%uDC47
%u2014 Thomas Conti #TodosPelasVacinas (@ThomasVConti) January 24, 2021
Ele rebate o tom nacionalista e o argumento do Minist�rio de que o laborat�rio teria exigido “que o Brasil renuncie � soberania de seus ativos nos exterior (sic) em benef�cio da Pfizer como garantia de pagamento, bem como constitua um fundo garantidor com valores depositados em uma conta no exterior”.
Estrat�gias como essa t�m sido usadas em diversos pa�ses. Membros da Uni�o Europeia adquiriram 200 milh�es de doses da vacina da Pfizer e, para isso, celebraram um acordo de financiamento de d�vida no valor de 100 milh�es de euros, permitindo que a empresa expandisse sua capacidade de fabrica��o.
Um dos argumentos utilizados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para amedrontar a popula��o e desincentivar a vacina��o s�o as cl�usulas contratuais eximindo os laborat�rios de culpa por efeitos colaterais dos medicamentos.
“L� no contrato da Pfizer, est� bem claro: n�s n�o nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se voc� virar um chimp… um jacar�, � problema seu. Se voc� virar Super-Homem, se nascer barba em alguma mulher a�, ou algum homem come�ar a falar fino, eles n�o t�m nada a ver isso. E, o que � pior, mexer no sistema imunol�gico das pessoas”, declarou Bolsonaro em 19 de dezembro durante um evento na Bahia.
Fora o fato de que nenhum dos vacinados com o imunizante da Pfizer pelo mundo n�o apresentou ind�cios de transmuta��o em s�mio ou r�ptil, � importante destacar que previs�es contratuais desse tipo n�o s�o novidade na ind�stria farmac�utica. S�o aplicadas desde a d�cada de 1980.
Em artigo publicado neste m�s, Thomas Conti explica que rea��es adversas s�o poss�veis, mas rar�ssimas. “Mesmo admitindo algumas repara��es por casos raros sem rela��o de causa e efeito com as vacinas, entre 2006 e 2018 foram apenas 7.565 indeniza��es – um n�mero irris�rio diante das 3.761.744.351 (3,7 bilh�es) doses de vacinas administradas nos Estados Unidos no mesmo per�odo”, diz.
Conti segue, dizendo que “talvez a parte mais mentirosa” da nota seja a alega��o do Minist�rio de que “n�o fez acordo com a Pfizer-BioNTech porque j� tinha acordo com Butantan”. Ele recha�a essa alega��o afirmando que, em junho, o Governo Federal ainda n�o havia celebrado acordo com o Instituto Butantan para aquisi��o da CoronaVac. E completa citando o fato de o Planalto ainda n�o ter pago o instituto paulista pelas doses adquiridas.
Outra cr�tica � sobre exig�ncias pouco razo�veis feitas pelo governo brasileiro ao laborat�rio. Para Conti, a “cereja do bolo”.
“Governo Federal elenca entre os motivos para n�o fazerem acordo com a Pfizer-BioNTech eles n�o terem se responsabilizado o diluente da vacina. Fui verificar no manual da vacina e o diluente da vacina � soro fisiol�gico comum! Na mesma toada de n�o comprar vacina porque n�o quer fornecer soro fisiol�gico, governo tamb�m coloca como impedimento a reposi��o de gelo seco. Pfizer-BioNTech inventam vacina para v�rus novo em 6 meses e voc�s n�o conseguem fazer gelo seco em 12 meses. Enfia a cara num buraco”, dispara o pesquisador.
Fim da fila
O site Our World in Data (Nosso Mundo em Dados, em tradu��o livre), desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Oxford acompanha o progresso das campanhas de vacina��o ao redor do mundo.
De acordo com a organiza��o, o Brasil ocupa uma das �ltimas posi��es na fila das 54 na��es que j� iniciaram a vacina��o, considerando a quantidade de doses aplicadas.
Israel encabe�a a fila, com 3.534.943 doses aplicadas, o que equivale a 39,7% de sua popula��o. Em seguida vem os Emirados �rabes (16,18%), Ilhas Seychelles (13,39%), Reino Unido (8,34%), Bahrein (6,18%) e Estados Unidos (6,04%).
Considerando que os EUA t�m uma popula��o de 328,2 milh�es de pessoas, esse percentual significa que 19,8 milh�es de americanos j� receberam a vacina.

Cr�ticas de pol�ticos
A nota do Minist�rio da Sa�de tamb�m foi criticada no meio pol�tico, sobretudo por advers�rios de Bolsonaro, que aproveitaram para engrossar o coro dos pedidos de impeachment do presidente da Rep�blica.
O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), disse que a “nota vergonhosa do desgoverno Bolsonaro � a confiss�o de um crime: a sabotagem da vacina��o no Brasil”. Pelo Twitter, ele disse que “a nossa agonia com a falta de doses suficientes � resultado de uma escolha pol�tica para atrapalhar a imuniza��o. Escolha que est� matando”.
Essa nota vergonhosa do desgoverno Bolsonaro � a confiss�o de um crime: a sabotagem da vacina��o no Brasil. A nossa agonia com a falta de doses suficientes � resultado de uma ESCOLHA POL�TICA p/ atrapalhar a imuniza��o. Escolha que est� MATANDO. Impeachment j�! https://t.co/mUdSHDu3h6
%u2014 Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) January 24, 2021
Fernando Haddad, candidato derrotado por Bolsonaro nas elei��es presidenciais de 2018 tamb�m se manifestou pela rede social. “Isso da� que ocupa a presid�ncia da Rep�blica n�o respondeu a uma carta do presidente da Pfizer oferecendo vacinas. Isso da� tem que deixar de ocupar o cargo. Isso da� jamais foi e jamais ser� um presidente. Isso da� � um fim de linha que mata nossos compatriotas. Fora isso da�”, atacou.
Isso da� que ocupa a presid�ncia da Rep�blica n�o respondeu a uma carta do presidente da Pfizer oferecendo vacinas. Isso da� tem que deixar de ocupar o cargo. Isso da� jamais foi e jamais ser� um presidente. Isso da� � um fim de linha que mata nossos compatriotas. Fora isso da�. https://t.co/kVoJbq32iA
%u2014 Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) January 24, 2021
Ciro Gomes, outro que concorreu ao pleito de 2018, disse que “assim vai se comprovando como Jair Bolsonaro e Pazuello s�o dois assassinos” e pediu o impeachment do presidente da Rep�blica.
E assim vai se comprovando como Jair Bolsonaro e Pazuello s�o dois assassinos ! #ImpeachmentDeBolsonaroUrgentehttps://t.co/wyffhrPy1j
%u2014 Ciro Gomes (@cirogomes) January 24, 2021
A m�dica e deputada federal Jandira Feghali disse que “Bolsonaro precisa cair”. Tamb�m pelo Twitter, ela se posicionou: “Esse homem negou acordo com a Pfizer enquanto brasileiros morriam em centenas por COVID-19! E ainda mente em nota oficial! N�o tinha acordo com ningu�m metade do ano passado, nem com Butantan. N�o tinha expectativa de vacina alguma!”
%uD83D%uDEA8 BOLSONARO PRECISA CAIR!
%u2014 Jandira Feghali %uD83C%uDDE7%uD83C%uDDF7%uD83D%uDEA9 (@jandira_feghali) January 24, 2021
%uD83D%uDD25 ESSE HOMEM NEGOU ACORDO COM A PFIZER ENQUANTO BRASILEIROS MORRIAM EM CENTENAS POR COVID-19!!!
E AINDA MENTE EM NOTA OFICIAL! N�o tinha acordo com ningu�m metade do ano passado, nem com Butantan. N tinha expectativa de vacina alguma!