(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas PANDEMIA

Fisioterapeuta: 'Ningu�m mais se lembra de quem est� na linha de frente'

Neste primeiro ano de pandemia, ela atendeu centenas de doentes, viu o n�mero de mortos subir, foi contaminada e presenciou a morte de quatro colegas


01/03/2021 08:03 - atualizado 01/03/2021 09:11

(foto: JALAA MAREY / AFP)
(foto: JALAA MAREY / AFP)
Fisioterapeuta hospitalar do SUS h� dez anos, Graziella Xavier de Barros, de 38 anos, � uma das milhares de profissionais de sa�de que est�o na linha de frente de assist�ncia aos pacientes graves com COVID-19 desde os primeiros casos da doen�a no Pa�s.

Neste primeiro ano de pandemia, ela atendeu centenas de doentes, viu a frequ�ncia de �bitos subir nas UTIs, foi contaminada pelo v�rus e presenciou a morte de quatro colegas pela doen�a. Funcion�ria do Instituto de Infectologia Em�lio Ribas, refer�ncia no tratamento da COVID, e do Hospital Estadual Padre Bento, em Guarulhos, ela dedica 60 horas da sua semana ao atendimento de pacientes com coronav�rus.

A sobrecarga de trabalho e o sofrimento de tantos pacientes e fam�lias a fizeram intensificar as sess�es de terapia e procurar um psiquiatra, que a diagnosticou com depress�o.

Muitas pessoas exaltam o trabalho de m�dicos e enfermeiros, mas nem todos lembram do fisioterapeuta na assist�ncia a pacientes com covid. Qual � a import�ncia da fisioterapia para um paciente grave com a doen�a?

Essa � uma pergunta que escuto muito. A fisioterapia respirat�ria � pouco conhecida, mas no hospital a gente faz muito isso. O fisioterapeuta do hospital preconiza a reabilita��o como um todo, ent�o trabalha para verticalizar (colocar sentado ou em p�) o paciente o mais r�pido poss�vel porque as fun��es org�nicas se d�o de maneira melhor quando o paciente verticaliza. Junto � equipe m�dica e de enfermagem, a gente tenta tra�ar um plano para acordar esse paciente o mais cedo poss�vel, caso ele esteja sedado e entubado, para voltar a dar as fun��es dele de sentar, comer, se levantar. E a gente foca bastante tamb�m na reabilita��o cardiorrespirat�ria. A fisioterapeuta se utiliza de algumas manobras que fazem com que o pulm�o fique livre de secre��es para evitar que o paciente desenvolva uma pneumonia.

Qual foi o momento mais dif�cil nesses 12 meses?

Tive dois momentos muito dif�ceis, em que sentei e chorei. O primeiro foi quando o Brasil estava batendo a marca de 5 mil mortos e a gente estava tendo alguns pronunciamentos dos nossos governantes. Me lembro que, naquele dia, houve uma declara��o muito grosseira do presidente (Jair Bolsonaro, questionado sobre os �bitos, disse 'E da�?'). Um outro momento muito marcante foi o �bito de uma das nossas m�dicas. Foram quatro colegas que morreram de covid no Em�lio Ribas. Essa m�dica era uma pessoa muito querida e foi entubada no meu plant�o.

E com tantas perdas pr�ximas, como voc� lidou com o medo de se contaminar?

Na semana seguinte � morte da m�dica, eu peguei COVID. Tive a forma leve, fiquei isolada em casa por 21 dias sozinha, sempre tensa com a possibilidade de piorar. Tenho o privil�gio de ter acompanhamento psicol�gico h� anos. Tive de intensificar minha terapia e iniciar tamb�m um tratamento com psiquiatra para tomar antidepressivo, porque comecei a me sentir muito ansiosa, muito triste, com muito medo e p�nico.

Qual � a parte mais cansativa dessa rotina de estar na linha de frente h� um ano?

� essa quest�o de lidar com uma �nica doen�a. � impressionante como a doen�a tomou conta de todos os leitos. Voc� trata alguns pacientes, eles se recuperam e chegam mais e mais. Eu sinto um certo abandono por parte da popula��o. No in�cio, ela estava bem empenhada a tentar ficar em casa e se preservar. Eu entendo que a sa�de mental de todos foi colocada em teste, mas a empatia com o pessoal da sa�de foi diminuindo, foi sendo esquecida, parece que as pessoas n�o est�o mais nem a� mesmo, ningu�m lembra da gente. No come�o, tinha homenagens. Agora, estamos esquecidos. Parece que ningu�m est� se lembrando de quem est� na linha de frente.

Qual � o maior aprendizado que fica e o que voc� gostaria de dizer para a popula��o que hoje esquece dos profissionais da linha de frente?

Uma coisa boa que ficou de aprendizado foi que a uni�o faz a for�a. A equipe precisou ficar unida no aprendizado sobre a doen�a, no cuidado com os pacientes e com os colegas que adoeceram. Deixaria uma mensagem � popula��o com um pedido de ajuda. J� estou me preparando para uma terceira onda por causa das festas clandestinas de carnaval. Pe�o que recuperem aquela energia do come�o da pandemia para ficar em casa. A gente j� est� h� um ano nisso e n�o est� f�cil.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)