
“Chegamos ao in�cio dela (a megaepidemia). Costumo dividir espirais de crescimento de casos em ter�os. Estamos na metade do ter�o inicial; ainda n�o subimos o que vamos subir. Vamos ter uma epidemia paralela em praticamente todas as regi�es. Todos os estados est�o com o copo cheio. O transbordar do copo � o pr�ximo cap�tulo. O Sul transbordou o copo: ontem, em Santa Catarina, houve mortes de pessoas que aguardavam com a fam�lia no carro, mas morreram por n�o ter onde entrar. Isso � desassist�ncia, e em um dos estados mais ricos da federa��o. Temos mortes por desassist�ncia em algumas regi�es do Nordeste e no Rio Grande do Sul”, afirmou.
O agravamento da crise imposta pela COVID-19 vai depender da rea��o dos estados do Sudeste � propaga��o do v�rus. Se n�o houver conten��o, recordes podem ser superados sucessivamente.
“S�o mais de 100 milh�es de pessoas na regi�o. � metade da popula��o brasileira. Se pegar uma espiral ascendente, como deve acontecer nos pr�ximos dias, esse copo vai transbordar. O sistema n�o tem vasos comunicantes instalados para gerenciar isso. E a� vamos passar de 2 mil (mortes ao dia), chegando rapidamente a 2,5 mil e 3 mil. Vai de quais medidas que o Sudeste tomar� para tentar diminuir a transmiss�o e aumentar o n�mero de leitos”.
Reflexos de um ‘boicote’
Na vis�o de Mandetta, o pa�s n�o precisava atravessar a pandemia batendo marcas negativas recorrentemente. Ele tece cr�ticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e diz que a postura negacionista do chefe do Executivo federal prejudicou o combate � infec��o.
“Chegamos at� aqui porque foram boicotadas a preven��o — n�o lave as m�os, n�o use m�scara, aglomere e fa�a festas eram as falas do presidente. O eixo da aten��o (tamb�m foi boicotado): a ci�ncia tentando achar caminhos e (o governo dizia) use cloroquina e ivermectina, tome isso daqui que voc� fica bom. Tumultuou completamente o eixo do tratamento. O eixo das vacinas � uma trag�dia que estamos passando — e vamos passar por um bom tempo. N�o precisava ter sido assim, e n�o precisava ter sido eu (o ministro)”, sustentou, em tom cr�tico ao atual comandante da pasta de sa�de, o general Eduardo Pazuello.
Interior em colapso
Enquanto as capitais precisam lidar com impactos como os pacientes vindos do interior, os rinc�es do pa�s j� sentem os perversos efeitos da subida da curva da COVID-19. Em Minas Gerais, cidades como Montes Claros (Norte), Pouso Alegre (Sul), Uberaba e Uberl�ndia (ambas no Tri�ngulo) lutam contra a desassist�ncia.
Os n�veis de ocupa��o de leitos t�m crescido. Para deter o v�rus o governador Romeu Zema (Novo) anunciou um pacote de restri��es v�lido para as regi�es Tri�ngulo Norte e Noroeste. O toque de recolher comp�e a s�rie de a��es.
Para Mandetta, o avan�o da doen�a est� relacionado �s aglomera��es proporcionada pelos eventos de campanha eleitoral, ocorridos antes dos pleitos municipais de novembro passado. Promessas feitas por candidatos ajudaram a piorar o cen�rio
“Em setembro e outubro, a gente estava diminuindo. Quando o processo eleitoral termina, os casos come�am a subir, pois pol�tica e elei��o s�o encontros, reuni�es e corpo a corpo. � t�pico da democracia. Depois, houve uma renova��o, com muita gente que ganhou a elei��o falando que n�o ia mais fazer restri��es, que ia liberar geral, que aquilo era um absurdo, um exagero. Falando o que as pessoas queriam escutar. Os prefeitos que venceram com coloca��es do tipo ficaram presos a isso e, simplesmente, deixaram o barco correr no r�veillon e no Natal”, explicou o ex-ministro.
A entrevista
Jornalistas do Estado de Minas conversaram, por v�deo, com Luiz Henrique Mandetta. Entre esta quinta (04/03) e esta sexta-feira (05/03), p�lulas da entrevista ser�o publicadas. No domingo, v�o ao ar os trechos que tratam de temas pol�ticos, como a disputa eleitoral em 2022.