
O laudo da per�cia termina com tr�s possibilidades: “Associa��o entre ingest�o alco�lica e da subst�ncia hemitartarato de zolpiden, produzindo o �bito por depress�o do sistema nervoso central e depress�o respirat�ria; asfixia por sufoca��o direta, seja posicional ou intencional; (ou) associa��o entre as duas hip�teses”. Outros pontos, por�m, chamaram a aten��o, como fraturas em duas costelas, al�m de escoria��es nos l�bios e no bra�o de Sabrina.
Os quase seis meses passados desde o in�cio das investiga��es e a falta de detalhes conclusivos sobre o caso afligem a fam�lia. “S� quero saber a verdade, entender o que aconteceu com ela. Tudo, desde o in�cio, � um quebra-cabe�as de 10 mil pe�as, em que nenhuma se conecta. � uma tristeza que vai fazer seis meses, e n�o tivemos respostas. � um caso peculiar, e os laudos n�o mostram nada”, contou a irm� de Sabrina, a dentista Larissa Nominato, 35.
A m�dica atuava no Hospital de Base, dava plant�es em um hospital particular na Asa Sul e atendia em dois consult�rios no Plano Piloto. Nascida em Minas Gerais, Sabrina morava em Bras�lia havia sete anos. Primeiro, na 211 Norte, depois, em uma casa de alto padr�o alugada no Lago Sul. Ela dividia o im�vel com o marido, o personal trainer Andr� Villela, 40. Os dois se conheceram sete anos antes e estavam casados havia seis.
Depoentes afirmaram � pol�cia que Sabrina confidenciava estar infeliz no casamento. O motivo seriam desaven�as entre o casal, al�m de situa��es de viol�ncia verbal, f�sica e psicol�gica, segundo testemunhas relataram ao Correio. Antes da morte dela, outros acontecimentos abalaram o casamento: fases de depress�o, suic�dio de um amigo pr�ximo, duas gravidezes perdidas e brigas. Em uma das ocasi�es, a discuss�o quase acabou na Delegacia Especial de Atendimento � Mulher (Deam), mas Sabrina desistiu de prestar queixa.
Apesar dos relatos, n�o h� boletins de ocorr�ncia registrados por crime de viol�ncia dom�stica vinculados ao casal. Devido �s circunst�ncias da morte, no in�cio das investiga��es, a Pol�cia Civil n�o descartou a hip�tese de feminic�dio. Contudo, o delegado-chefe da 6ª Delegacia de Pol�cia (Parano�), Ricardo Viana, afirmou que a apura��o tem ido por um caminho diferente. “O laudo fala que ela ingeriu �lcool, tomou um medicamento e teve asfixia. Os peritos n�o descartam que ela possa ter se sufocado no pr�prio travesseiro. A condu��o (do caso) n�o est� sendo pela linha de feminic�dio”, refor�ou.

O investigador n�o deu mais detalhes, pois o respons�vel pela apura��o � o delegado-adjunto da 6ª DP, Zander Vieira Pacheco,que est� doente e ficar� afastado at� o in�cio desta semana. O documento mais recente anexado ao relat�rio policial partiu do Minist�rio P�blico do Distrito Federal e Territ�rios (MPDFT), em 23 de fevereiro. A institui��o d� prazo de mais tr�s meses para continua��o das investiga��es, a pedido da pol�cia.
Limita��es periciais
Em depoimento � pol�cia, o marido de Sabrina relatou que a encontrou morta ao chegar. Ele afirmou que, naquele s�bado, havia sa�do de casa para o trabalho, na Asa Sul, por volta das 7h50. Antes disso, por�m, viu que Sabrina dormia “de lado e encolhida” sob as cobertas. Ao retornar, aproximadamente �s 14h30, encontrou a mulher ainda na cama, “deitada quase de bru�os, com os cabelos sobre o rosto, (...), o rosto com a parte frontal no travesseiro e com as m�os (em forma) de concha (contra�das)”, segundo inqu�rito policial.
O professor de educa��o f�sica acionou o Samu, e a equipe de profissionais da sa�de constatou a morte. Por volta das 16h, um dos porteiros do condom�nio ligou para a pol�cia. Quando os investigadores chegaram, n�o encontraram ind�cios de arrombamento do im�vel ou de invas�o. No relat�rio da per�cia, legistas n�o precisam a quantidade de comprimidos ingerida pela m�dica. Al�m disso, n�o houve abertura do corpo durante a necropsia, como recomendado pela dire��o do Instituto de Medicina Legal (IML) para todos os casos, devido � pandemia da covid-19.
Na noite anterior � morte de Sabrina, ela e marido haviam participado do anivers�rio de uma amiga em um restaurante na QI 5 do Lago Sul. Por volta das 19h, seguiram para um bar na 202 Sul, onde ficaram at� meia-noite. Andr� disse � pol�cia que a m�dica havia se sentido mal durante um momento e que, depois de chegarem em casa, n�o viu quando a companheira se deitou para dormir. Antes disso, ela estava na cozinha, segundo ele.
Pai de Sabrina, o cirurgi�o-dentista Eduardo de Abreu Fernandes, 66, disse que nunca interferiu no casamento da filha. Mesmo assim, estranhou n�o ter sido comunicado sobre a morte pelo marido da m�dica. “Foi um colega deles quem me avisou. Perder um filho de uma forma dessas, em que est� tudo escuro, � muito do�do. Ela foi uma pessoa que deu a vida � profiss�o, para ajudar os outros”, completou.
A advogada Sofia Coelho, contratada pela fam�lia como assistente da acusa��o, sustenta a hip�tese descartada pela pol�cia de feminic�dio. “Existem depoimentos de colegas de trabalho que presenciaram ela chegando com machucados, arranh�es, bra�o quebrado. E ela dava desculpas que n�o eram compat�veis com o n�vel das agress�es”, comentou. “O inqu�rito est� um pouco parado. H� provas que devem ser produzidas com certa urg�ncia e n�o est�o no inqu�rito. A per�cia est� bastante gen�rica. Nesse tipo de caso, tem de ser muit�ssimo espec�fica”, ressaltou.
� reportagem, Andr� Villela disse que colaborou espontaneamente com as investiga��es e negou ter agredido Sabrina em qualquer ocasi�o. “Estou sofrendo muito com a situa��o de minha esposa. Ao delegado e a todos que vieram conversar comigo, dei todas as informa��es que me pediram. Entreguei meu celular e o de minha esposa. Eu estaria preso se a tivesse matado. N�o teria entregado meu celular, o de minha esposa e todas as informa��es. Fui � delegacia cinco, seis vezes. Quem deve n�o teme”, afirmou.