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Estado de Minas T�TICAS

As t�ticas de maridos ricos para esconder suas fortunas no div�rcio

Muitos milion�rios que querem se separar impedem que suas esposas saibam detalhes da vida financeira da fam�lia e recorrem a mentiras, fraudes e at� a viol�ncia f�sica. Conhe�a casos tramitando na Justi�a brasileira.


02/09/2021 11:52 - atualizado 03/09/2021 11:38

Em muitos casos as mulheres ficam com carros e apartamentos, mas a maior parte da fortuna é ocultada
Em muitos casos as mulheres ficam com carros e apartamentos, mas a maior parte da fortuna � ocultada (foto: AirBridgeCargo)

Aten��o: Esta reportagem cont�m descri��o de cenas de viol�ncia dom�stica que podem ser perturbadoras.

Quando Joana*, se casou com o empres�rio Carlos*, no in�cio dos anos 2000, ele era dono de um pequeno neg�cio. Os dois ficaram juntos por 18 anos e, ao longo desse tempo, a empresa cresceu vertiginosamente.

Pouco a pouco, o estilo de vida do casal — que j� era de classe m�dia alta — foi se tornando luxuoso. Mas Joana n�o tinha ideia do tamanho da fortuna do marido at� eles se separarem — ou melhor, at� ela perceber que foi enganada no processo de div�rcio.

Joana, hoje com 50 anos, dedicou a vida toda � fam�lia e ao marido e n�o queria se separar. Ela fez diversas fertiliza��es para engravidar do filho do casal, hoje um adolescente.

Carlos pediu o div�rcio pela primeira vez em 2017, mas como Joana n�o queria se separar, o casal acabou ficando junto por mais um ano. Em 2018, ele a convenceu que seria melhor fazer um acordo e eles se separaram em 2019.

"Ele disse que ela nunca ia sentir falta de nada, que ia deixar o filho do casal e ela em boa situa��o. Fez um acordo para ela ficar com um apartamento de R$ 5 milh�es e R$ 30 milh�es em aplica��es", conta Anderson Albuquerque, advogado de Joana.

Sem saber exatamente qual era o real patrim�nio do marido — e portanto do casal, j� que eram casados com comunh�o de bens — Joana aceitou o acordo.

Foi s� quando viu duas aberturas de capital da empresa de Carlos e o nome dele na lista de bilion�rios do Brasil que ela percebeu que tinha sido enganada. Foi ent�o que procurou Albuquerque e descobriu que o valor total do patrim�nio na verdade estava na casa dos bilh�es de reais.

"Em grande separa��es — com valores acima de R$ 10 milh�es — os processos de div�rcio deixam de ser direito de fam�lia e viram quest�o de fraude financeira e direito tribut�rio", afirma Albuquerque, que se especializou em direito tribut�rio e empresarial antes de come�ar a coordenar o departamento de direito de fam�lia de seu escrit�rio.

No caso de Joana, Carlos simplesmente havia omitido o valor do patrim�nio na �poca da separa��o. "Ele n�o apresentou sua participa��o societ�ria em diversas empresas", diz Albuquerque.

No m�s passado, Joana conseguiu uma decis�o na Justi�a que garantiu seu direito de ter acesso a todos os documentos cont�beis da empresa nos �ltimos 18 anos.

Com o valor exato do patrim�nio nas m�os de Joana, disse o juiz do caso, as duas partes podem tentar um acordo — se n�o, os documentos ser�o essenciais em um futuro processo sobre a partilha de bens.

"Como nesse caso, muitas vezes � um problema que vai al�m da fam�lia. A fraude do marido com a mulher pode gerar consequ�ncias para a empresa como um todo", diz Albuquerque.

A defesa de Carlos ainda n�o se manifestou sobre o caso.


Muitos maridos omitem patrimônio em processos de divórcio
Muitos maridos omitem patrim�nio em processos de div�rcio (foto: Getty Images)

Escondendo o patrim�nio

Diferente da grande maioria de escrit�rios de direito de fam�lia, Albuquerque s� aceita casos de mulheres e filhas, nunca dos maridos.

"Nessa �rea a gente s� advoga para mulher. Ajuda a manter a coer�ncia, porque se voc� sustenta algo para um lado (da esposa) em um caso e depois argumenta o oposto atendendo outro caso (do marido), voc� descaracteriza sua pr�pria argumenta��o", explica o advogado.

Segundo Albuquerque, na maioria dos grandes casos de div�rcio que ele atende, a principal estrat�gia dos maridos para ocultar patrim�nio � simplesmente n�o apresentar os documentos para as mulheres e seus advogados.

"Muitas mulheres, mesmo tendo uma vida de luxo, n�o sabem detalhes sobre a vida financeira da fam�lia, n�o sabem ou n�o conseguem provar os seus custos de vida e n�o conhecem os seus direitos", diz ele, acrescentando que muitas fraudes passam batido por advogados de direito de fam�lia que n�o entendem t�o bem da parte financeira.

Al�m disso, afirma, muitos maridos mant�m controle das esposa em relacionamentos abusivos e elas t�m medo at� de procurar um advogado para entender quais s�o seus direitos.

"S� de ela seguir um advogado de direito de fam�lia nas redes sociais j� � motivo para disc�rdia. O marido diz que ela n�o confia, pergunta se quer se separar. Eu recebo centenas de mensagens por dia de mulheres dizendo que n�o podem me seguir porque se o marido descobre, vai dar problema", afirma Albuquerque.


Anderson Albuquerque se especializou em fraudes financeiras antes de atuar em direito de família
Anderson Albuquerque se especializou em fraudes financeiras antes de atuar em direito de fam�lia (foto: Arquivo Pessoal)

Altera��es contratuais e viol�ncia f�sica

O advogado explica que, embora omitir dados seja a principal estrat�gia, n�o � a �nica. H� casos em que h� inclusive o uso de documentos forjados e at� viol�ncia f�sica envolvidos.

Foi o que aconteceu no div�rcio de L�gia* e Jo�o*, empres�rios da regi�o sul do Brasil que se separaram neste ano.

Os dois se conheceram em 2009. Os dois come�aram juntos um neg�cio que ao longo dos anos foi crescendo e se tornou um grande grupo empresarial.

Os dois foram casados por 12 anos e tiveram uma filha. Quando Jo�o quis se separar, o patrim�nio do casal valia cerca de R$ 500 milh�es, afirma Albuquerque.

Nesse caso, L�gia sabia de seus direitos, mas foi pega de surpresa por uma tentativa de golpe do marido.

Em dezembro de 2020, Jo�o fez uma altera��o contratual fazendo uma mudan�a societ�ria atrav�s de um certificado digital — ele passou as empresas para o nome da m�e dele, sem avisar a esposa. Mas faltava a assinatura f�sica dela para a mudan�a se concretizasse.

Em abril deste ano, quando o casal j� n�o morava junto, ap�s um evento de confraterniza��o na sede das empresas, ele a obrigou a assinar diversos documentos, incluindo o contrato com altera��o societ�ria, com uso de viol�ncia.

Jo�o estava acompanhando L�gia e a filha do casal at� o carro quando come�ou a viol�ncia. "Ele agarrou meu pesco�o e me deixou sem voz, impedindo que eu pedisse socorro. Em seguida me arremessou sobre o ve�culo", conta ela.

L�gia conseguiu entrar no caso para tentar se proteger, mas Jo�o abriu a porta, a retirou do carro e a arremessou contra a parede. Diversas pessoas viram a cena — incluindo a filha pequena do casal.

No mesmo dia, L�gia foi � delegacia fazer um boletim de ocorr�ncia. Por causa da viol�ncia, o caso chegou ao Minist�rio P�blico e Jo�o enfrenta um processo criminal.

Al�m disso, L�gia entrou na Justi�a pedindo o reconhecimento da nulidade da altera��o contratual, indeniza��o por danos morais e outras demandas para proteger seu patrim�nio.

"A fraude ficou bem clara porque ele cometeu um erro. A altera��o contratual tinha sido feita em 2020, mas quando ele a obrigou a assinar, o contrato tinha a data deste ano", afirma Albuquerque, que advoga para L�gia no processo.

Na a��o, Jo�o nega qualquer agress�o e afirma que a ex-esposa assinou o contrato por vontade pr�pria.


Se houve fraude no divórcio, é possível entrar com uma ação mesmo após a separação
Se houve fraude no div�rcio, � poss�vel entrar com uma a��o mesmo ap�s a separa��o (foto: Getty Images)

Esvaziamento de patrim�nio

H� casos em que maridos esvaziam seu patrim�nio para que as esposas n�o tenham acesso aos valores que t�m direito.

Hoje com 50 anos, Clara* tenta obter h� 12 anos o valor que foi acordado com o ex-marido Rodrigo* quando se separaram. Os dois se conheceram em 1995 e ficaram juntos por quase 15 anos.

Quando se divorciaram, os dois fizeram um acordo de partilha de bens em que ela ficaria com o valor de R$ 1 milh�o, mas Rodrigo nunca transferiu o valor para a ex-mulher.

Clara ficou anos tentando obter o pagamento, mas teve dificuldade porque Rodrigo havia esvaziado completamente seu patrim�nio, evitando que a Justi�a fizesse a expropria��o de seus bens.

Antes mesmo de se separarem, em 2007, ele vendeu sua participa��o societ�ria em grandes empresas de c�mbio para um banco. O valor da negocia��o divulgado foi de cerca U$ 40 milh�es (R$ 81,5 milh�es de reais, com c�mbio de agosto de 2007)

Segundo a Justi�a, o valor devido por ele � Clara hoje � de R$ 30 milh�es — considerando o montante do acordo que n�o foi pago com juros e corre��o monet�ria mais a pens�o aliment�cia que ele deve �s filhas do casal.

Rodrigo nega irregularidades, mas n�o tem mais direito a recurso na Justi�a — j� passaram os prazos para contestar as a��es de alimentos e n�o h� possibilidade de recurso sobre o valor do acordo feito legalmente pelo casal.

Hoje cliente de Albuquerque, Clara entrou com um pedido para que a d�vida do ex-marido seja redirecionada para o banco que absorveu suas quotas societ�rias nas empresas de c�mbio.

"� mais um exemplo de como uma quest�o conjugal pode ter efeitos para al�m da fam�lia", diz Albuquerque. "Hoje eu tenho at� investidores que procuram consultoria para avaliar regime de comunh�o de bens de s�cios para entender melhor os riscos de investir em certas empresas."

*O nome das pessoas citadas foram alterados para proteger suas identidades

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