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Estado de Minas #PRAENTENDER

Entenda o que � pobreza menstrual e os impactos na sa�de das mulheres

Uma em cada 4 adolescentes no Brasil n�o tem acesso a absorvente durante o per�odo menstrual e quase 30% das mulheres jovens j� deixaram de ir �s aulas por isso


15/10/2021 18:00 - atualizado 15/10/2021 20:58
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"N�o uso mais absorventes. Para comprar, era muito dif�cil. Ent�o, quando fui buscar m�todos para n�o engravidar, aproveitei para n�o menstruar''. O relato � da jovem Yasmin Emiliano, de 24 anos, moradora de ocupa��o no Centro de Belo Horizonte, m�e de dois filhos, um de 9 meses e outro de 2 anos, e que vive com renda obtida com a venda de balas e bombons. Yasmin optou pela inje��o hormonal depois de passar per�odos dif�ceis desde a sua primeira menstrua��o, aos 10 anos. "Eu j� sofri com a situa��o de menstruar e n�o ter dinheiro para comprar o absorvente. E a vergonha de falar?'' 

Falar de menstrua��o ainda � um tabu na nossa sociedade. A maioria das mulheres tem vergonha de discutir sobre um processo natural. Isso porque temas relacionados ao corpo feminino s�o repletos de desinforma��o e estigmas.

Pobreza ou precariedade menstrual � o nome dado � falta de acesso de meninas, mulheres e homens trans a produtos b�sicos para manter uma boa higiene no per�odo da menstrua��o. N�o se restringe s� � falta de dinheiro para comprar absorventes. Tem rela��o tamb�m com a aus�ncia ou precariedade de infraestrutura no ambiente onde vivem, como banheiros, �gua e saneamento.

Pobreza Menstrual
No Brasil, uma em cada quatro adolescentes n�o t�m acesso a absorventes durante seu per�odo menstrual (foto: ARTE/EM)

Direito universal garantido pela ONU

A higiene menstrual � um direito humano reconhecido pela Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) desde 2014, mas est� longe de ser uma realidade. "J� fiquei sem (absorvente), coloquei papel higi�nico. Muitas vezes eu ficava em casa para n�o usar nada e j� aconteceu at� de ficar sem papel higi�nico. Uma situa��o bem complicada'', comentou Yasmin.

No Brasil, uma em cada quatro adolescentes n�o tem acesso a absorventes durante seu per�odo menstrual, como mostra o relat�rio Livre para Menstruar, feito pelo movimento Girl Up. O estudo "Impacto da pobreza menstrual no Brasil", encomendado pela Always e feito pela plataforma de pesquisas Toluna, aponta que 28% das mulheres jovens j� deixaram de ir �s aulas por n�o conseguirem comprar um absorvente. E 48% delas, ou seja, quase a metade das entrevistadas, esconderam que o motivo foi a falta de absorventes, segundo a pesquisa, divulgada em maio de 2021.

Impacto direto na educa��o

De acordo com o relat�rio "Pobreza menstrual no Brasil - Desigualdades e viola��es de direitos", elaborado pelo Unicef, cerca de 321 mil alunas, 3% do total de meninas nas escolas, estudam onde n�o t�m banheiro em condi��es de uso. A pesquisa mostrou que, no Brasil, 1,24 milh�o de meninas (11,6%) n�o t�m � disposi��o papel higi�nico nos banheiros das escolas. Entre essas meninas, 66,1% s�o pretas/pardas.

A situa��o das meninas negras � ainda mais preocupante. O risco relativo de elas estudarem em escolas sem papel higi�nico � 51% maior do que para meninas brancas. Ou seja, al�m do impacto na sa�de mental dessas jovens, a pobreza menstrual contribui para aumentar a desigualdade na educa��o entre homens e mulheres, pois elas acabam faltando mais vezes �s aulas.

"�s vezes tinha absorvente e �s vezes n�o"

A jovem Lorrane Cristina, de 20 anos, conta que aos 12 a menstrua��o ainda era desregulada e dificultava o acesso ao item b�sico. Ent�o, �s vezes tinha absorvente e �s vezes n�o. "Minha m�e comprava quando tinha dinheiro. �s vezes, n�o tinha como ir � escola. Minha m�e sempre me ensinou a fazer algumas gambiarras, como usar papel higi�nico ou usar pano. J� fui para a escola com o pano e foi bastante desconfort�vel. E j� ocorreu de vazar na sala de aula'', lembrou a jovem.

Ela contou que percebeu a cadeira suja ao levantar para ir ao recreio. "O bom � que eu tinha o costume de usar blusa de frio. E eu amarrei. E a vergonha de falar para os outros que eu estava menstruada? Vergonha de chegar na coordena��o e dizer que estou menstruada e que estava vazando. Ent�o, eu fiquei vazando o dia todo".

Miolo de p�o, panos velhos, folhas de jornais...

Faltar ao trabalho, perder aulas ou ser obrigada a usar m�todos alternativos que colocam a sa�de em risco. Miolo de p�o, panos velhos, folhas de jornais s�o alguns dos materiais usados por mulheres em situa��o de vulnerabilidade como alternativa � falta de acesso ao absorvente. Outras, que at� conseguem comparar o absorvente ou ganhar em uma quantidade n�o suficiente para o fluxo, acabam precisando ficar horas ou dias com o mesmo absorvente.

O problema � antigo, por�m o tema voltou � tona depois que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se colocou contra a promo��o da sa�de das mulheres e vetou o Programa de Fornecimento de Absorventes Higi�nicos. O presidente vetou cinco trechos do Projeto de Lei 4968/2019, de autoria da deputada federal Mar�lia Arraes (PT-PE), que previa a distribui��o gratuita de absorventes higi�nicos, al�m da oferta de cuidados b�sicos de sa�de menstrual em escolas p�blicas de ensino m�dio e de anos finais do ensino fundamental. A atitude do presidente gerou uma onda de cr�ticas.

Protesto em BH contra veto

Distribuição de absorventes na Praça Sete
Manifesta��o no Centro de BH nessa quinta-feira (foto: Tulio Santos/EM/DA Press)
Na quinta-feira (14/10), o Movimento 8 De Mar�o Unificado da Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte organizou um protesto na Pra�a Sete, no Centro de BH, que reuniu centenas de mulheres. Vanessa Viana, de 23 anos, coordenadora do Coletivo Nacional Feminista Juntas, disse que o veto � carregado pela misoginia.

"Esse veto � carregado pela misoginia, por uma disposi��o que ele tem de dificultar o m�ximo poss�vel a vida das mulheres. A gente sabe que a distribui��o gratuita interfere muito na vida de mulheres e meninas pobres no Brasil em crise com os altos pre�os do feij�o, da gasolina. Isso interfere no custo mensal que � de comprar um absorvente", afirmou.

Para Fernanda �vila, advogada especialista em direito da mulher, quando a situa��o da pobreza menstrual entra na pauta do dia e come�a a gerar discuss�o � um sinal de que a sociedade est� a caminho de ser mais equitativa.

"Isso vai fazer bem para todo mundo, isso vai afetar a minha vida, a sua vida e a vida de qualquer pessoa. � responsabilidade de todos pensar nisso. Porque se temos uma sociedade mais justa, ela � mais segura, menos violenta, melhor para todos. N�o adianta querer fechar os olhos e fingir que isso n�o � um problema seu. Se voc� vive em uma sociedade insegura e injusta hoje � porque voc� olha para todos de forma igualit�ria'', disse.

Leis de distribui��o de absorventes

Em Minas Gerais, ainda n�o h� uma pol�tica geral de distribui��o gratuita de absorventes. O que h�, at� o momento, tanto no �mbito estadual como na capital, s�o leis que contemplam alguns grupos em situa��o de vulnerabilidade, como detentas.

"Existem alguns ambulat�rios e abrigos para popula��o em situa��o de rua que fornecem o absorvente gratuitamente. Mas isso depende da gest�o do abrigo. Assim como nas escolas, existem v�rios diretores que deixam o pacote guardado para quando as meninas precisam. Mas depende da dire��o da escola comprar. E muitas vezes as meninas n�o sabem. N�o � uma pol�tica institucionalizada'', afirma a vereadora Iza Louren�a (PSOL).

A C�mara Municipal de Belo Horizonte aprovou, em 5 de agosto, emenda na Lei de Diretrizes Or�ament�rias (LDO) de 2022 que garante os direitos reprodutivos �s pessoas que menstruam. A proposta de emenda partiu da Gabinetona, composta pelas vereadoras do PSOL Iza Louren�a, Bella Gon�alves e Cida Falabella.

Ainda n�o foram definidos os valores que ser�o destinados � emenda. Enquanto o poder p�blico n�o cria uma pol�tica ampla de acesso gratuito, o que tem levado dignidade a milhares de mulheres s�o iniciativas de solidariedade.

A pr�pria Iza Louren�a integra um projeto de distribui��o de itens b�sicos para a sa�de da mulher na regi�o onde mora, que fica no Barreiro, desde o in�cio da pandemia, em mar�o de 2020.

Em 2017, tamb�m nasceu a organiza��o n�o governamental (ONG) chamada Projeto Las Chicas de Chico, que tem como objetivo a arrecada��o e distribui��o de absorventes. 

 

Saiba como ajudar a recolher e distribuir absorventes em BH

Las Chicas de Chico

Projeto social que promove a distribui��o de suprimentos menstruais para mulheres em situa��o de vulnerabilidade social em Belo Horizonte.  As doa��es podem ser feitas pela p�gina do projeto no Instagram: www.instagram.com/laschicasdechico


Flores de Resist�ncia

Projeto de distribui��o de itens b�sicos para a sa�de da mulher que atua na periferia de BH. As doa��es podem ser feitas via picpay dispon�vel na p�gina do coletivo: www.instagram.com/floresderesistencia

 

Cruz Vermelha

As doa��es podem ser entregues na sede da entidade, localizada na Alameda Ezequiel Dias, 427, no Centro de BH, de segunda a domingo.Para mais informa��es o telefone �  3239-4227


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